O povo quer é ter de volta tudo que perdeu desde que o Brasil passou a ser vampirizado
Semana repleta de emoções. Dia Internacional da Mulher, com chamadas lembrando que parte da população mundial são mães, e a outra parte, são seus filhos e filhas. Mães, filhas e filhos que têm amor à vida e que, por isso, querem um mundo mais respeitoso às mulheres, mais cuidadoso, com elas, mais amoroso com o planeta inteiro.
Nesta semana chamou atenção o fato de que, por descaso deste governo, o avanço da covid se deu de forma tão intensa e passamos a ser o epicentro global da pandemia. Aqui circulam agora todas as variantes do coronavírus, sendo que algumas das mais perigosas surgiram entre nós. Estas variantes, com seus diferentes ciclos e se superpondo a outros problemas oriundos da miséria crescente, já ocasionam 2.300 mortes por dia. Em oito dias temos aqui o equivalente à tragédia de Fukushima, que em 11 de março de 2011, com um maremoto e a explosão de uma usina nuclear, matou 20 mil pessoas no Japão.
Para completar, nosso povo passou a ser visto como ameaça e enquanto isso durar estaremos proibidos de entrar em muitos países. As estimativas de meio milhão de mortos, até o inverno, já não espantam. São coerentes com ações de um governo cujo ministro das Relações Exteriores leva pito de mestre de cerimônias israelense por andar sem máscara enquanto lidera comitiva oficial de patetas em busca - no oriente médio - de um spray nasal que também é produzido pela USP, em São Paulo.
Neste pais onde o governo dispensou 70 milhões de doses da vacina da Pfizer e comemorou a aquisição de 2 milhões de doses de vacinas da Oxford, o clima já deixou de ser de guerra, como sugeriu Nicolelis. Vivemos um massacre. A rapidez e a virulência com que a contaminação se espalha superam de tão longe a capacidade de criação, preparação e capacitação ao atendimento de vítimas, em leitos hospitalares, que a logística do ministro general da Saúde já deixou de ser importante. Agora precisamos de coragem, inteligência, liderança e responsabilidade política compatíveis com o sacrifício dos médicos e atendentes que a cada hora são obrigados a fazer escolhas que significam traumas de vida e morte, para eles, seus pacientes e as famílias de todos.
Felizmente, este quadro pode mudar. Nesta semana também ocorreu o retorno à vida pública de Lula, nosso maior estadista. Tão logo o STF devolveu os direitos políticos que lhe haviam sido roubados, tivemos sua presença poderosa falando para os corações e mentes de todos os que quiseram ouvir.
Reconhecido pelos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski como “vítima do maior escândalo judiciário de nossa história”, situação onde o “magistrado investigador” “não se conteve em pular o balcão” “para deslegitimar politicamente o réu”, “a fim de afastá-lo do jogo eleitoral”, em “atuação acusatória proativa” “caracterizada pela subjetividade, parcialidade, interesse político e motivação pessoal”, resumem o todo. Estas e outras manifestações orais, colhidas na exposição em rede nacional dos votos daqueles membros do STF, trazem luz para o grande fato da semana: a verdade prevalece.
Lula está de volta ao cenário político e com ele poderemos recuperar a autoestima de que precisamos para o estabelecimento de um rumo que nos permita sair deste buraco e, então, reconstruir o país.
Em sua fala, Lula disse não ter mágoas pelo que lhe fizeram, ao longo dos 580 dias de prisão. Não por ser insensível, mas porque entendia que seu sofrimento, decorrente da perda da esposa, do irmão, do neto, seriam insignificantes comparados ao que se passa nos milhões de lares submetidos aos reflexos de tudo o que vem ocorrendo neste país, desde seu afastamento da vida pública. Nosso Brasil, que era o melhor lugar para se viver, do planeta, passou a ser o brazil de Bolsonaro, esta terra enevoada, de povo amedrontado, onde a comida, a água e até o oxigênio de amanhã são incertos, caros e perigosos.
Mas isso começa a ser superado. A retomada do nosso destino está no horizonte. Ela passa pela interrupção da queda, com o Fora Bolsonaro avançando em paralelo à recuperação do respeito de cada um, para consigo e para com os outros. Passa pelo envolvimento de todos nós – e nisso podemos contar com Lula - , a serviço de um projeto de nação soberana.
Lula pediu o engajamento de todos para garantia de vacinas e auxílio emergencial, já, para todos. Convocou generalização de cuidados com a higiene pessoal, com o uso de máscaras, com o apoio à saúde e com a ativação de mecanismos geradores/garantidores de empregos e justiça social, já, para todos. Foi tão convincente que minutos após sua fala, o Bolsonaro se autoenquadrou naquele conceito bolsonarista de maricas, aparecendo com máscara em evento público onde atribuiu importância à vacinação, “nossa grande arma”.
Lula nos chamou à responsabilidade. Lembrou que aceitou a prisão sem culpa por saber que as primeiras mentiras do processo precisariam se apoiar em outras e que, por isso, em algum momento aquela tramoia desmoronaria com seu próprio peso. Podemos assumir esta verdade: as farsas duram pouco. E quando elas desabam, o que acontece sempre, os enganadores se desmoralizam. De fato, ninguém respeita aqueles que se rebaixam ao ponto de não respeitarem a si mesmos. Um presidente que oferece armas ao povo, enquanto a fome cresce; uma empresa que no Dia Internacional da Mulher coloca no mercado um revólver cor de rosa, calibre 38, assim como todos os que sorriem cúmplices, diante destas ofensas à civilidade, são o que são, e não passarão disso. Estas pessoas acalentam um projeto de mundo oposto ao desejado por todas as mães que sabem ter seus filhos ameaçados pelo encadeamento destas engambelações e absurdos.
Lula tem razão, o povo não quer armas. Quer é voltar a comer picanha, tomar cerveja, andar na rua de cabeça erguida, sabendo que as crianças terão café com leite e pão com manteiga. O povo quer é ter de volta tudo que perdeu desde que o Brasil passou a ser vampirizado pelos golpistas e seus sucessores.
Mas como sair desta? Como mobilizar um povo desesperançado, com medo e sem confiança em sua própria capacidade de ação? Como romper a apatia imposta pelo atoleiro em que nos percebemos desde que se tornou evidente que nosso atual presidente da República gosta de mentir? Aliás, ele é capaz de mentir até cinco vezes em meia hora de fala. Ele não confia em seus ministros, nem em seus familiares, nem em si mesmo. Quem poderia aceitar a liderança, acreditar na palavra de uma pessoa que não acredita em si mesma? E como evitar a desmoralização das instituições republicanas, e avançar rumo ao Fora Bolsonaro, sem ameaçar a própria democracia?
A resposta é simples: esclarecendo a população e cobrando respeito à Constituição Federal. Este país, como bem disse o Lula, não precisa de armas. Precisa é da confiança e do respaldo do povo a um governo que se dê ao respeito, e que respeite o potencial e os anseios do seu povo. Respeito, expresso em ações planejadas, objetivas, articuladas de maneira a garantir a disseminação de oportunidades de bem viver, casa, comida, terra e trabalho, renda, acesso a alimentação. Vacinas, e esperanças. Auxílio emergencial, orientações honestas e a coragem de mudar. Esclarecimentos a respeito do que está ocorrendo e garantias de redirecionamento na exploração das riquezas e potenciais nacionais, a serviço do povo.
Quem escutar a fala do Lula perceberá que podemos estar na borda de um caminho penoso, rumo à nova fase.
É por este caminho que, com coragem e alegria, dá pra sentir nosso Brasil voltando.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira