Lutar pelo “Fora Bolsonaro” tornou-se uma questão de vida ou morte diante da sua crueldade
O ano de 2021 está comprovando para o mundo e para os diversos movimentos sociais, organizações civis e religiosas, partidos políticos do campo progressista, entidades de defesa dos direitos humanos, do meio ambiente e defensores da democracia que a retirada de Bolsonaro do poder não é somente uma “bandeira político eleitoral”.
Tornou-se uma questão de vida ou morte para um país de mais de 212 milhões de pessoas onde 56% delas são negras e 52% são mulheres. E onde o 1% mais rico (cerca de 2 milhões de pessoas) ganha em média R$ 28,6 mil por mês e a metade mais pobre do Brasil (cerca 104,7 milhões de pessoas) ganha não mais do que R$ 850,00, conforme dados da Pnad Continua/IBGE de 2020.
Lutar pelo “Fora Bolsonaro” tornou-se uma questão de vida ou morte diante da crueldade com que esse sujeito exerce o mais alto comando do País. E faz desse poder um crescente aparato de militarização e violência contra cidadãs e cidadãos, de destruição sistemática de direitos conquistados com muita luta e confirmados na Constituição de 1988.
Na campanha eleitoral de 2018, as mulheres marcharam unidas em toda a sua diversidade denunciando o risco de um governo gerido com perversão, misoginia e negacionismo racista. A naturalização do extermínio por parte do Estado brasileiro se expressa pela brutal realidade de mortes da população negra provocada pela polícia.
Nesse período de devastação humanitária que vivemos com a pandemia, já temos mais de 260 mil brasileiras e brasileiros falecidos por causa da covid-19 (numa conta que cresce de forma exponencial diariamente). Assistimos perplexos a atitude criminosa de Bolsonaro contra qualquer medida em favor da vacinação em massa.
Enquanto outros países já vacinam sua população de forma sistemática, não temos sequer a compra de medicamentos em quantia adequada para atender a vacinação universal, muito menos para os grupos prioritários. Estamos vivendo sob a égide de um governo que vê seu povo como algo descartável. E se morrer... “paciência! Todos vão morrer um dia!”, disse o nefasto.
Mulheres são as principais vítimas
São as mulheres, principalmente as mulheres negras, a maioria das pessoas que está dependendo do auxílio emergencial para garantir comida dentro de casa. As mulheres e seus dependentes são as principais vítimas da forma pervertida de atuação do governo Bolsonaro.
A conduta genocida se expressa de forma deliberada e institucional de não executar e impedir medidas sanitárias para enfrentar a covid-19, como a imediata compra de vacinas. Uma pesquisa coordenada pela professora e pesquisadora Deisy Ventura, publicado pelo Instituto Concectas Direitos Humanos, mostra numa linha do tempo “a relação direta entre os atos normativos federais e a obstrução constante às respostas locais e a propaganda contra a saúde pública promovida pelo governo federal”. O estudo pode ser lido aqui.
Negacionismo, campanhas e declarações do presidente da República contra a vacinação, fazendo pouco caso das mortes e do sofrimento de milhões de brasileiros só exemplificam o tamanho da tragédia que o Brasil vive sob Bolsonaro. Apesar de o vírus ameaçar todas as pessoas, ricas ou pobres, brancas, negras ou indígenas, é a população pobre, sobretudo as mulheres, que estão mais vulneráveis social e economicamente.
Um estudo publicado pela revista científica “Nature”, em 2020, comparando a pandemia da covid-19 com o surto do Ebola (África Ocidental) e do Zika virús (Brasil) mostra que são elas que arcam com a responsabilidade do cuidado com familiares doentes, com as crianças que não podem ir à escola, são elas as principais vítimas das violências no âmbito doméstico. E também são as mais vulneráveis pela perda do emprego porque são elas a maioria no mercado de trabalho informal e as primeiras a sofrer o impacto de crises prolongadas.
Pandemia aprofunda desigualdade
A pandemia “gerida” pelo (des)governo Bolsonaro aprofundou a violenta e desigual realidade brasileira, deixando explícito como o patriarcado, o racismo e a exploração capitalista estão entrelaçados na maneira que a pandemia atinge a vida dos mais pobres.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da UFRJ mostra que trabalhadores negros no Brasil tem 39% a mais de risco de morrer de covid-19 do que os brancos. Os pobres, em especial os negros, são obrigados a se expor mais em busca de renda e não podem fazer o isolamento. Além disso, em geral, suas moradias não permitem o distanciamento entre as pessoas, o que acarreta a expansão do adoecimento nessas famílias.
A pandemia também provocou efeitos colaterais para a vida das mulheres. Só para citar um exemplo, aumentou o volume de trabalho para as trabalhadoras rurais (em 62%) e para as mulheres negras que têm menos suporte para auxiliar na tarefa do cuidado dos filhos. As mulheres brancas de classe média, que permaneceram com o emprego e o salário, também tiveram um aumento no volume de trabalho (em home office), com o gerenciamento dos filhos em casa e a sobrecarga do trabalho doméstico não remunerado. Para 40% das mulheres, a pandemia e o isolamento social colocaram a sustentação da casa em risco. A maioria delas (55%) são mulheres negras que relataram dificuldades no pagamento das contas básicas.
Um estudo produzido pelo IPEA sobre as trabalhadoras domésticas e a pandemia mostra que essa é uma das categorias mais vulneráveis nessa pandemia (assim como as e os trabalhadores “uberizados”). Em 2019, cerca de 5,7 milhões das mulheres estavam ocupadas no trabalho doméstico. Destas, 3,8 milhões eram negras. A condição de trabalho precário com a falta de proteção trabalhista ou previdenciária (a maior parte, como diarista, não tem carteira de trabalho) e a necessidade de circular diariamente em transportes lotados ampliam o desastre mortal. Se adoecerem, estão à própria sorte com o esgotamento dos hospitais e do atendimento pelo SUS.
Essa realidade mostra como as relações raciais, coloniais e patriarcais estão na raiz das desigualdades aprofundadas por um governo criminosamente omisso com essa realidade. O trabalho doméstico é a atividade profissional de 14% das mulheres ocupadas no Brasil. É a terceira categoria profissional que mais emprega mulheres (atrás de serviços sociais e comércio). Esse dado nos dá a dimensão da gravidade da nossa realidade, diante de um país onde o trabalho de cuidado e de reprodução da vida é sistematicamente desvalorizado com a falta de creches e políticas públicas de apoio para as mulheres trabalhadoras e mães.
A tarefa de cuidado em casa, com menos suporte, a queda na renda, o medo e a angústia pelo risco de adoecer e não ter leitos nos hospitais tem um efeito devastador nas nossas vidas. A política de rapinagem contra o Brasil e seu povo precisa de um basta! É preciso cobrar do Parlamento brasileiro a abertura do processo de impeachment imediatamente contra Bolsonaro e seu governo, como forma de interromper a política genocida que está em curso.
Um governo que exerce o poder pela extrema-direita liberal, conservadora, autoritária, militarista, racista e misógina que recusa e anula os direitos das mulheres, transforma os movimentos sociais em inimigos e censura e persegue a livre expressão da opinião. O Brasil tornou-se um país “pária” e um risco para o mundo, irradiador do vírus mortal.
#8M é um grito de luta
Por essa razão, a mobilização para o dia 8 de Março é um grito de luta e de combate! É preciso dar um basta! Fora Bolsonaro! Vacinação já universal, gratuita e para todas e todos! É um direito elementar à vida! Auxílio emergencial de R$ 600,00 já! Basta de autoritarismo e violência crescente contra as mulheres, os negros, os indígenas, os migrantes e o desrespeito com a população em geral.
Pelo direito à existência das mulheres lésbicas, bissexuais, trans, travestis e pelas masculinidades diversas! É preciso dar um basta na destruição do Estado brasileiro e das políticas públicas para a população em favor dos interesses do capital! Pela valorização e reforço do SUS e não seu desmonte pela PEC do teto dos gastos! Pela revogação da Lei de Alienação Parental, que beneficia homens agressores! Por uma justiça que defenda o povo brasileiro e não os interesses de corporações instaladas no poder.
Março é o #MarçoDeLutas. Não queremos o Luto! Todas as vidas importam e é em defesa do retorno à vida democrática, sem censuras, sem violências e pelos direitos sociais que lutamos e demarcamos o dia 8 de Março como um dia de luta das mulheres e de todos aqueles que se unem a nós nessa luta contra o presidente da morte! Fora Bolsonaro! É pela vida que lutamos!
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko