Rio Grande do Sul

EDUCAÇÃO NA PANDEMIA

Mesmo com agravamento da pandemia, Melo mantém aulas presenciais em Porto Alegre

Risco de contagio aumenta, mas prefeitura mantém retorno às aulas presenciais, marcado para segunda-feira (22)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Professores da Emef Afonso Guerreiro Lima, da Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, preparam o retorno para segunda-feira - Divulgação

Apesar do agravamento da situação da pandemia no estado e mais precisamente na Capital, a prefeitura de Porto Alegre manteve a iniciativa de retornar às aulas presenciais nas escolas do município na próxima segunda-feira (22). Na quarta-feira (17), a secretária municipal de Educação, Janaina Audino, apresentou aos vereadores a estratégia de reabertura das escolas da cidade para o ano letivo 2021. A titular foi à Câmara Municipal a convite dos parlamentares.

Depois do governador Eduardo Leite (PSDB) ter anunciado que o avanço da covid-19 estava saindo de controle em todo o estado, ainda na quinta-feira (18), a informação da assessoria da prefeitura municipal era de que a estratégia continuava a mesma. Durante toda sexta-feira (19), os professores das escolas municipais passaram o dia reunidos em uma capacitação para o retorno às aulas na próxima semana, mesmo sem a presença do pessoal responsável pela higienização das escolas.

A vice-diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Afonso Guerreiro Lima, da Lomba do Pinheiro, informou que os professores do educandário passaram todo o dia planejando o retorno às aulas na próxima semana.  

Aumento do contágio

Conforme declarações do governador à Rádio Guaíba, a cidade de Porto Alegre, por exemplo, voltou a apresentar a maior taxa de ocupação dos leitos de UTI, com o registro de 92,53% da capacidade total. Até a tarde de quinta, dos 807 leitos disponíveis, 731 estavam ocupados, sendo 371 por pacientes relacionados à covid-19 – somando casos confirmados e suspeitos.

O diretor de regulação da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Eduardo Elsade, falou sobre a piora da pandemia no Rio Grande do Sul e a possibilidade de o sistema de saúde do estado chegar ao "estresse máximo" nas próximas semanas. Nesta sexta-feira (19), o estado atingiu a marca de mil pacientes com coronavírus em tratamento intensivo. O número mais alto desde o início da pandemia. O setor de regulação da SES é responsável pela distribuição de pacientes onde há leitos disponíveis no RS. “A gente está vivenciando aparentemente o pior momento da pandemia. Tem sido muito difícil a previsão em torno dos eventos. Essa onda está vitaminada pela entrada das novas variantes, que estão se tornando dominantes, contaminando em vários estados”.

No meio da tarde desta sexta-feira (19), a Vigilância Sanitária Municipal lançou uma nota alertando para o aumento do risco de covid-19 e determinando uma série de restrições, porém o retorno às aulas estava mantido. Conforme assessores diretos do prefeito Sebastião Melo (MDB), só não haverá retorno às aulas na próxima semana se a bandeira definida pelas autoridades sanitárias estaduais for preta.

Responsabilidades

Diante da situação, o professor de epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Alcides Miranda, alertou com firmeza: “Lamentavelmente tem se tornado usual no país a postura de negligência intencional e omissão criminosa da parte de gestores governamentais na condução da crise pandêmica. Os indicadores utilizados para o monitoramento da situação em Porto Alegre e Região Metropolitana (embora insuficientes, dada a permanente condição de subnotificações de casos) demonstram mais uma aceleração acentuada de complicações hospitalares em decorrência da covid”.

Para Miranda a situação pode estar ocorrendo por uma conjunção de fatores intervenientes, mas a possibilidade de uma variável específica é preocupante e deveria justificar todas as cautelas necessárias: a disseminação de uma cepa mutante do vírus, com maior transmissibilidade. “A situação em questão requer toda cautela e cuidados da parte do poder público e, evidentemente, define como contraproducente e arriscada a iniciativa de retorno às aulas”, enfatizou.

Visivelmente preocupado, o epidemiologista desafiou: “Creio, uma questão que deveria estar sendo apresentada e enfatizada é: quem deveria ser responsabilizado, inclusive criminalmente, caso ocorram mais óbitos evitáveis em razão de posturas e iniciativas desse tipo?”

Atualização: Após o mapa preliminar da 42ª rodada do Distanciamento Controlado trazer 11 regiões regiões com bandeira preta, inclusive a de Porto Alegre, a secretária municipal de Educação, Janaina Audino, emitiu uma nota informando a suspensão do retorno das aulas na Capital: "Em virtude da decisão do comitê de gestão de crise do governo do estado, que definiu pela bandeira preta na região de Porto Alegre, a reabertura das escolas, prevista para a próxima segunda feira, 22 de fevereiro, fica suspensa. Entendemos que o momento requer prudência".


:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::

SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS

Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.

Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.

Edição: Marcelo Ferreira