Durante protesto em frente ao prédio da secretaria pela permanência do acervo de livros no local, o titular da pasta, Germano Bremm, recebeu comissão representativa que pediu formação de um grupo permanente de trabalho
Um protesto convocado por entidades ambientalistas, representantes de bibliotecários e servidores públicos terminou com a esperança de que a decisão de transferir a biblioteca Jornalista Roberto Eduardo Xavier para o Parque Germânia seja revista. Já passava das 13 horas desta quinta-feira, 11, quando um grupo encabeçado por parlamentares dos três níveis federativos e dirigentes de entidades foi recebido pelo secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm, em seu gabinete para debater a questão.
“Não tem nenhuma decisão, ninguém está encaixotando nada”, alertou o gestor – embora ele tenha evitado se comprometer com qualquer encaminhamento concreto. “Ouvimos o movimento e vamos avaliar com a gestão”, declarou ao Matinal após o encontro.
A proposta dos manifestantes era que o secretário paralisasse qualquer medida relacionada à transferência do acervo, noticiada pelo Matinal na sexta-feira passada. Mas o máximo que eles conseguiram foi a concordância em criar um canal de diálogo para buscar alternativas para a alocação do Escritório de Licenciamento.
“Pensamos em construir aqui mesmo na sede, mas precisaríamos mudar a lei orçamentária para buscar um recurso que não temos”, revelou Bremm. Segundo o secretário, já há estruturas que poderiam ser aproveitadas em uma eventual obra de ampliação. “Tem as fundações de um auditório que nunca foi concluído ali atrás”, apontou, pela janela. “Também aqui em cima existe uma laje que suporta outro andar”, esclareceu.
Presentes na reunião, os vereadores Matheus Gomes (PSol), Jonas Reis e Leonel Radde (ambos do PT), a deputada estadual Sofia Cavedon (PT) e a deputada federal Fernanda Melchionna (PSol) se dispuseram a auxiliar na tarefa de “passar o chapéu”, como mencionou Melchionna. Também estava no ato uma representante do gabinete da vereadora Laura Sito (PT), e a parlamentar mais votada na eleição de 2020, Karen Santos (PSol), que chegou já no final da mobilização.
“Vocês conseguiriam buscar, mobilizar?”, inquiriu Bremm, interessado na possibilidade
Contrato de aluguel vence em junho
Segundo Bremm, a decisão de trasladar o acervo especializado – e que serve para embasar tomadas de decisão dos técnicos da pasta – partiu de uma “cobrança” de economia de recursos, já que o Escritório de Licenciamento ocupa salas alugadas no Centro Histórico. “São 50 ou 60 mil de aluguel e mais IPTU, condomínio. Um valor que chega quase a 150 mil”, argumentou Bremm, corrigindo informação dada anteriormente de que esse era o valor integral pago pelo aluguel do espaço.
A solução de levar o acervo ao Germânia atende dois problemas da secretaria. Um deles é a falta de recursos, solucionado pela boa vontade da associação de amigos do parque, que estaria disposta a bancar a reforma do edifício em troca de receber uma biblioteca para a região. O outro problema é a corrida contra o relógio, uma vez que o aluguel das salas na Avenida Julio de Castilhos vence em junho. “Depois disso, será preciso renovar”, explicou Bremm.
A comitiva de manifestantes foi unânime ao apoiar a ideia de uma biblioteca no parque. Surgiram sugestões como criar um acervo voltado à educação ambiental ou propor uma biblioteca infantil. Houve inclusive convergência com o argumento de o Escritório de Licenciamento deixar o edifício corporativo por razões econômicas. “Um aluguel de 60 mil é muito caro”, mencionou Melchionna. Desde que isso não seja resolvido mudando de lugar a histórica coleção de documentos.
A solução apresentada inicialmente pela prefeitura pode se transformar em um transtorno, alertaram. Primeiro, porque a necessidade de preservação de documentos antigos e especializados como os que compõem o acervo da biblioteca da Smam, como é popularmente conhecida, vai provavelmente impedir que ela seja de fato aberta à população. “São documentos institucionais, não vão deixar as pessoas entrar. O parque vai perder”, salientou Cavedon.
Outro problema é o espaço: a construção no Germânia possui apenas 201m², enquanto a atual sede da biblioteca tem 295m². “Pensamos em aumentar um pouquinho, na lateral”, explicou Bremm, que falou o tempo todo diante de uma tela na qual estava projetada a imagem da casa na área verde.
Mas ele foi logo lembrado de que há normas da própria secretaria que impedem intervenções maiores em área verde na cidade. Cavedon lembrou que os expositores do Brique da Redenção, por exemplo, são impedidos de montar suas barraquinhas dentro da área do parque. “A própria Smam vai impedir essa obra”, ela sugeriu, rindo da contradição.
Enquanto do lado de fora do gabinete, na calçada, dezenas de pessoas gritavam “fica, fica, fica”, pedindo a permanência da biblioteca, Bremm encerrou a reunião dizendo que a prefeitura tem “a maior vontade de construir um diálogo”, e que a intenção nunca foi “acabar com a biblioteca”.
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Edição: Matinal News