A terra para os povos indígenas é vida, memória e esperança. Ela é a mãe de todos os seres, que deve ser amada, protegida e purificada.
Em tempos onde a vida é negligenciada e a morte prematura torna-se a única certeza, celebrar a história de luta e resistência do Povo Guarani, de seus líderes – dentre eles Sepé Tiaraju, nos anima a pensar um outro mundo possível, uma terra sem mal – a Yvyrupa – o bem viver.
Mas há caminhos que precisam ser reabertos diante do caos social, político, sanitário, ambiental e econômico.
O Brasil vem sendo administrado por homens cruéis e imbecilizados. Temos um presidente da República que propaga o ódio e a violência como alternativas nas relações sociais, culturais e religiosas.
Os povos indígenas e os demais povos e comunidades originárias e tradicionais foram classificados pelo atual governo como seres sem humanidade e, portanto, no entender dele, sem direitos. Nega-se tudo, a proteção social, às políticas assistencias, a terra para habitar, o meio ambiente e, com isso, excluem deles a possibilidade de futuro.
O governo resgatou políticas e teses genocidas aplicadas durante todo o processo de colonização, mas planejadas como fator de extermínio, no período da ditadura militar. Nas décadas de 1960 até 1988 a prioridade estatal era a integração forçada dos indigenas a “comunhão nacional”. O período nefasto produziu violência, mortes e extermínios de povos inteiros.
Hoje a realidade dos povos se assemelha àquela de Sepé Tiaraju. Há um governo que transformou as políticas de estado em ferramentas de destruição da terra, das matas, das águas, da saúde, da educação, da segurança.
Os povos enfrentam, como enfrentaram naquela época, o avanço descomunal de projetos e programas que visam essencialmente a exploração indiscriminada para a lucratividade imediata.
Os povos estão no meio do caminho, como cunhas enfiadas nos interesses predatórios. Por isso, as estruturas políticas, administrativas e até jurídicas do estado se tornam armas para o genocídio.
Impõe-se agora o que se pode denominar de antipolítica indigenista estruturada no tripé da desconstitucionalização, da desterritotialização e da integração forçada.
Resistir agora, a este governo, é nos tornarmos fachos de luzes reluzentes e de esperança para o futuro. Se não lutarmos como Sepé Tiaraju e seus guerreiros fizeram, em 1756, vamos ficar, todos os pobres da terra, sob os escombros de um país devastado.
Que o Sete de fevereiro, dia de Sepé Tiaraju, nos inspire a seguir construindo caminhos e combatendo a insanidade e a brutalidade de um governo que não nega suas especialidades, destruição e o genocídio.
Porto Alegre, 07 de fevereiro de 2021.
* Roberto Antonio Liebgott integra a Coordenação Regional Sul do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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Edição: Marcos Corbari