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Preparemo-nos! (15)

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"É preciso lutar por Vacina Já! Auxílio Emergencial e Emprego Já! Fora Bolsonaro Já!, como propõem todas as Frentes, movimentos sociais, sindicais e populares e igrejas" - Foto: Ricardo Stuckert
A própria democracia, nunca muito sólida na história brasileira, corre sério risco

Escrevi mensagem no ‘feici’ no dia 19 de março de 2018, depois do Fórum Social Mundial em Salvador, com o título Preparemo-nos!, depois transformada em artigo. Este, em 5 de fevereiro de 2021, é o décimo quinto Preparemo-nos! Para dizer o que já disse em recentes análises de conjuntura, e escrevi: 2021 será pior que 2020. Em todos os sentidos. A não ser que...

Vejamos e analisemos o que nos cerca e o que aponta a conjuntura de 2021.

A pandemia está aí e não terminará tão cedo. No ritmo atual, se nada mudar, ou seja, os governos não começando a ter políticas públicas eficazes, com a pressão urgente e necessária da sociedade, a vacina terá chegado a todas as brasileiras e brasileiros no final de 2021, início de 2022. As mortes, o sofrimento continuarão presentes nas casas de milhares, milhões de famílias em todo 2021.

A crise econômico-social vai se aprofundar, com muito mais fome, miséria e desemprego durante 2021, e avançando, com suas consequências, para 2022. Como pedir para o povo, cada vez mais pobre, trabalhadoras-es desempregadas-os, ir para a rua, mobilizar-se e exigir impeachment? 

A crise política está se aprofundando. O despudor, a corrupção, o fisiologismo, já presentes na sociedade brasileira, atingiram níveis inéditos nas eleições do Congresso Nacional, mostrando a degradação e o sem futuro da política brasileira, em tempos de dor e crise.

A velha e conhecida máxima, ‘tá tudo dominado’, vem sendo demonstrada todos os dias em todos os lugares: Poder Executivo, Poder Judiciário, Poder Legislativo, com apoio da grande imprensa, grande capital, agronegócio e latifúndio (embora, nestes casos, com algumas dissidências pontuais e ocasionais). O presidente da República anunciou no Congresso as prioridades do governo federal em 2021: armas para a população, leis sobre costumes, privatizações e mineração em terras indígenas. Como elegeu com relativa facilidade os presidentes das duas Casas do Congresso...

A violência, colada no racismo estrutural e nos feminicídios, misturada à atuação das milícias, ligadas a setores das Forças Armadas e Polícias, atinge níveis impensáveis na história do Brasil escravocrata. Como enxergar paz, diálogo e tolerância num tempo desses?

A crise ambiental demonstra-se todos os dias, prática e visível, na vida de todas e todos, com as enxurradas, os ciclones, sem falar ou esquecer da destruição da Amazônia e do Pantanal, e venda de suas riquezas naturais. Está aí a proposta de liberação de mineração em terras indígenas!

O fundo do poço, portanto, ainda não chegou, infelizmente.

A própria democracia, nunca muito sólida na história brasileira, corre sério risco. Políticas públicas consolidadas são extintas todos os dias, quase não se fala em participação popular, ou quando se fala, é porque algumas lutadoras e lutadores ainda resistem bravamente e não saem dos espaços ocupados e conquistados a duras penas. O neofascismo necrófilo e a corrupção dominam a democracia.

A soberania nacional está indo para o espaço, ou sendo rifada, com o fim de estatais históricas, com a entrega da riqueza do pré-sal, do solo pátrio.

É preciso, pois, preparar-se para o pior e para o que virá. Fazer o quê?

Fazer o que está sendo feito, mesmo que os resultados não venham no curto prazo, como não vieram na ditadura instalada em 1964: Vacina Já! Auxílio Emergencial e Emprego Já! Fora Bolsonaro Já!, como propõem todas as Frentes, movimentos sociais, sindicais e populares e igrejas. Apoiar a Igreja católica, com Terra, Trabalho e Teto, Um Mutirão Pela Vida!, através da Sexta Semana Social Brasileira. Fraternidade e Diálogo, como grita a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, a ser lançada nos próximos dias. Esperançar, como anuncia Paulo Freire no ano do seu centenário. E criação, com a mais ampla participação e unidade, em reunião na terça, 3 de fevereiro, do Comitê Pelo Brasil e O Pacto Pela Democracia.

Propus no final do artigo ‘Preparemo-nos (2): O Derretimento de um País’, em 5 de abril de 2018, quase 3 anos atrás: “Algumas ideias/propostas, para debate, ação política e agenda do próximo período: 1. Parar de se iludir. 5. Preparar-se e estar prontos para uma luta de médio e longo prazos. 7. Trabalhar toda unidade possível, urgente e necessária, do campo popular, de esquerda, progressistas, democratas, para resistir ao que virá. 8. Ir para a desobediência civil.

Foi assim a resistência nos anos posteriores a 1964.” E em outro artigo, ‘Caos à Vista: Preparemo-nos (14)’, em 22 de agosto de 2019: “3. Estudar, aprofundar a reflexão e o estudo sobre a estrutura de classe e a história brasileiras, a correlação de forças, a luta de classes a pleno em curso, de preferência coletivamente. 4. Constituição de uma Frente Ampla e Democrática, superando eventuais divergências, envolvendo todos os setores progressistas, democráticos, populares e de esquerda da sociedade brasileira.”

O que foi proposto há 2 ou 3 anos mantém-se fundamental e está reafirmado nestes tempos nebulosos. Tempos que seguirão nebulosos sem luta popular, resistência e mobilização social de massas contra o neofascismo e as ditaduras disfarçadas. Na base popular, com formação política, urge ampliar e consolidar os Comitês Populares contra a Fome e o Coronavírus e os Comitês Populares da Saúde em defesa do SUS. Unidade e solidariedade, acima de tudo.

Os ditadores são derrubados em algum momento da História. Os anti-povo, os destruidores da democracia e da soberania não são eternos. Os que sustentam a desigualdade e o fim dos direitos de trabalhadoras e trabalhadores não resistem ao povo na rua. Na boa luta, portanto, já!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko