Superação do capitalismo não é só um imperativo político e ético, mas de sobrevivência do ser humano
Em entrevista ao The Intercept Brasil, o filósofo italiano Franco Berardi afirmou que “o velho mundo está morrendo, acabou. O capitalismo está no poder, mas está morto”. Em outra passagem da entrevista afirma que “sinceramente penso que a civilização humana não tem saída no contexto atual, pois a economia ancorada na exploração extrativista de recursos naturais atingiu o limite”.
Ao longo de sua entrevista, assenta suas afirmativas na observação da dinâmica do capitalismo que resulta em uma frustação das promessas de sua gênese. Não foi capaz de estabelecer um mundo onde todos auferissem bem estar e comodidade, a exclusão e o empobrecimento são marcas substantivas do capitalismo, tampouco foi capaz de socializar a propriedade, em uma dinâmica onde a propriedade está ultra concentrada em um modelo que se desenvolveu no sentido anti concorrencial.
Ainda a simples constatação que o capitalismo empurra a economia para o definhamento de seus recursos de base, amplia os fundamentos da conclusão em relação a qual chegou Berardi.
A revolução francesa de 1789 acelerou a transição do mundo para a modernidade e o fez a partir do estabelecimento da primazia da política através da ideia de que somente o Estado representativo poderia garantir as condições para que a vontade geral se impusesse sobre a hierarquia aristocrática e religiosa.
O Estado representativo seria a forma impositiva da liberdade individual e da igualdade formal entre os indivíduos. Uma revolução política que alterou a estrutura econômica e a hegemonia política, mas não é capaz de disfarçar a tendência concentracionista desta economia.
A ascensão do fascismo 150 anos depois, nos anos 1920 e 1930, foi um ensaio catastrófico e genocida do prenúncio do que sua reemergência, agora no século XXI, significa o fim do período aberto com aquela revolução e com os processos de expansão que à ela se seguiram. A dinâmica excludente e concentracionista do capitalismo matou a revolução política que lhe serviu, nas palavras de Marx, de parteira.
Uma forma autoritária e conservadora do Estado capitalista, o fascismo, em sua vertente clássica ou em sua manifestação neoliberal da atualidade, investe sobre as dimensões fundantes da revolução francesa, a vontade racional e a liberdade individual. A promessa da universalidade do sujeito dos revolucionários jacobinos, vanguarda do jovem capitalismo, transformou-se em um sujeito classista e ideológico que exclui aqueles que não atingem seus requisitos históricos, como riqueza, gênero, raça e, até mesmo, religião.
Se os jacobinos foram os artífices da revolução política, com sua ilusão sobre a igualdade formal dos indivíduos, são os grande magnatas financeiros e sua segurança neofascista os coveiros dessa revolução.
Dinamitadas essas promessas de igualdade e liberdade feitas pelo capitalismo, a ideia de uma nova revolução não agora restrita às dimensões da política e da razão encontra possibilidades históricas concretas.
A possibilidade de destruição do habitat, da miséria extrema e da inamobilidade social tornam a ideia de uma superação do capitalismo não só um imperativo político e ético, mas um imperativo de sobrevivência da espécie humana.
Uma revolução de dimensão social, aquela onde não haja separação da política e da economia, do Estado e da sociedade, construída nos marcos de uma nova economia, de caráter comunitário, sustentável e democrática com liberdade. Esta ideia de revolução superior está viva.
Edição: Katia Marko