Rio Grande do Sul

Justiça Fiscal

Urgência em tributar os super-ricos é debatida pela TV 247

Campanha "Tributar os Super-Ricos" entregou ao Congresso oito propostas para combater a crise e reduzir a pobreza

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O cartunista Aroeira entrevista os coordenadores da campanha "Tributar os Super-Ricos" - Reprodução

A urgência do Congresso Nacional aprovar as oito propostas apresentadas pela campanha ‘Tributar os Super-Ricos’ para gerar justiça fiscal e ter recursos para salvar vidas nesse grave momento sanitário, econômico e humanitário foi o tema de debate na TV 247 nesta sexta-feira (22).

Com a condução do cartunista Renato Aroeira e Andrea Trus, e participação de Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro/DF e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), e Paulo Gil, do Instituto Justiça Fiscal (IJF) e Auditores pela Democracia, a discussão aprofundou os argumentos “Porque e como tributar os super-ricos”.

“Os mais afetados pelos impostos são os pobres, que não discutem tributos. O campo democrático popular precisa incidir sobre esse assunto”, alerta Paulo Gil, integrante do IJF, uma das 70 organizações que integram a campanha lançada em meio a pandemia, período em que os super-ricos aumentaram suas fortunas.

Considerado paraíso fiscal para os super-ricos e hostil para trabalhadores e pequenas empresas, o Brasil tem a segunda maior concentração de renda do mundo – 1% acumulam 29% da riqueza nacional e uma profunda distorção tributária, onde pobres pagam mais impostos enquanto os que têm mais renda e patrimônio são subtributados ou isentos. Os impostos sobre o consumo, pagos essencialmente pelos mais pobres, representam mais de 50% de toda a arrecadação, enquanto as grandes fortunas passam livres.

O auditor informa que a proposta central da campanha é o fim da isenção sobre lucros e dividendos distribuídos e da dedução de juros sobre o capital próprio, combinados com a reestruturação da tabela do IRPF, elevando alíquotas para altas rendas e aumentando o limite de isenção, desonerando 11 milhões de pessoas.

“O Brasil é um dos únicos países do mundo que não tributa lucros e dividendos. É uma fratura exposta que precisa ser corrigida”, destacou Gil. As medidas também defendem a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas, elevação do imposto sobre heranças e doações para até 30%, revisão de incentivos e isenções. O cálculo é que tributando apenas os 0,3% mais ricos são arrecadados R$ 300 bilhões ao ano, valor equivalente a todo o recurso destinado à renda emergencial em 2020.

Desigualdade intolerável e lobby dos ricos

Aroeira observou que nos últimos 10 anos houve uma campanha acentuada pela mídia, forjando a conexão impostos com corrupção. “Foi isso que ficou na cabeça. Temos que conectar impostos com bem-estar social”, desafia o criador de Niara, uma personagem em quadrinhos, mascote da campanha, que tem o desafio de apresentar as distorções do sistema tributário de forma simples. “Da pracinha ao SUS, tudo vem dos impostos que pagamos”, explicou Niara em uma das tirinhas recentes. O seu criador sabe que desenvolver cidadania fiscal é um trabalho longo.


Niara, personagem criada pelo cartunista Aroeira para a campanha Tributar os Super-Ricos / Reprodução

“A desigualdade assusta tanto que até os bilionários do mundo estão pedindo para serem tributados”, lembrou o cartunista, falando da carta aberta “Cobrem mais impostos de nós!”, lançada por endinheirados do mundo assustados com a miséria crescente. Na América Latina, de cada 100 pessoas, 77 estão em vulnerabilidade. A região regrediu 15 anos no combate à pobreza durante a pandemia.

“O Parlamento é movido por interesses de igrejas, latifúndios e empresários. É preciso mudar a composição para fazer justiça social”, aponta Rosilene Corrêa. Educadora, ela encoraja os professores a utilizarem a personagem Niara para introduzirem esse assunto fundamental para explicar a injusta estrutura dos tributos sedimentada no Brasil. O IGF, por exemplo, consta na Constituição de 1988, mas nunca saiu do papel, necessitando de regulamentação.

Debate político e ideológico

“Oferecemos os projetos prontos ao Congresso e a situação é dramática. Os parlamentares têm a responsabilidade urgente de destinar recursos para políticas sociais”, resume Rosilene. O Congresso é responsável por aprovar o congelamento por 20 anos dos investimentos sociais, votado em 2017. “Precisamos eliminar a ideia de que alguns nascem pobres e outros ricos. É preciso garantir justiça fiscal”, conclui.

“O que esse cenário nos mostra é que a desigualdade é intolerável. Não há país desenvolvido com Estado mínimo”, enfatiza o também integrante do movimento Auditores pela Democracia. Paulo Gil declara sua esperança e otimismo em promover mudanças frente a extinção do auxílio emergencial, 14 milhões de desempregados e 40 milhões em extrema pobreza. “Decidimos priorizar a discussão por meio do movimento social organizado e popularizar essa questão. Não é um debate técnico, mas político e ideológico. Passa pela defesa e aperfeiçoamento do Estado com controle social de áreas fundamentais. A tributação é uma delas”, defende.

O auditor fiscal destrói o argumento de que o Brasil tem carga tributária excessiva. “Somos um dos países com a menor tributação entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)”, registra Paulo Gil.

Com mais de 210 mil mortes pela covid-19, sem um plano de imunização e dados mostrando que o governo deliberadamente buscou a expansão do vírus, nunca ficou tão evidente a importância do Estado forte. “Quem está sendo massacrado são os pobres. Não os ricos”, conclui Aroeira.

Confira a live:


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Edição: Katia Marko