Rio Grande do Sul

Coluna

Irmão e companheiro de jornada, luta e fé

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Gilberto Carvalho está completando 70 anos, neste 21 de janeiro - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Nos anos 1990, mil lutas, mil encontros de todos os tipos. Gilberto Carvalho nos governos populares

Estamos em tempos em que, rodeados e, ao mesmo tempo, doloridos e solidários, quase só falamos de doença, coronavirus e mortes todos os dias. Assim, quando podemos falar de vida e de vivos, e, portanto, de futuro e esperança, anuncia-se um amanhecer lindo, de luz, brilho e sol.

Meu amigo e camarada Gilberto Carvalho está completando 70 anos, setentinha, neste 21 de janeiro. Conheci o Gil, como a gente o chama no cotidiano e na intimidade, Gilbertinho para o Lula, nem sei direito quando, lá pelo final dos anos 1970, início dos 1980, através da Pastoral Operária (PO), das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e do PT. Visitei-o na periferia onde morava em Curitiba, metalúrgico da Prosdócimo e construtor de Cooperativa de metalúrgicos. Mais adiante, ele me visitou em Porto Alegre, quando eu já não morava na periferia, mas o coração continuava na Lomba do Pinheiro, como até hoje. Foram a periferia, a organização popular e a Teologia da Libertação que nos aproximaram e nos fizeram lutadores das boas causas e da boa luta a vida inteira.

Estivemos juntos na Coordenação nacional da Pastoral Operária. Não aceitei ir para uma liberação da PO nacional lá por 1983/84; disse para ele aceitar o convite dirigido aos dois. Foi morar em Nova Iguaçu, trabalhando com o sempre presente Pe. Agostinho Pretto, gaúcho dos bons. Fui eleito deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul em 1986. Ele não foi eleito deputado federal constituinte do Paraná, porque a legenda do PT local não conseguiu votos suficientes, muito infelizmente, embora ele tivesse sido o mais votado. (Passei por isso no RS em 1982. Fui o mais votado, mas o PT gaúcho não conseguiu os votos suficientes para eleger 1 deputado). Seguimos  juntos vida afora, construindo, em 1989, o Movimento Fé e Política, ele já seguindo para funções no PT nacional e para ser secretário municipal em Santo André, SP, e cada vez mais para o mundo.

Nos anos 1990, mil lutas, mil encontros de todos os tipos. Gilberto nos governos populares, no PT nacional. Em 2000, o primeiro Encontro Nacional do Movimento Fé e Política em Santo André, organizado fundamentalmente por ele, companheiras e companheiros do ABC e de todo Brasil, Lula presente, milhares de lutadoras e lutadores de todo Brasil, com o sugestivo lema e tema, muito atual, ‘MÍSTICA DA MILITÂNCIA’ (notícias a respeito do Encontro em www.fepolitica.org.br).

Em 2002, o Brasil e o mundo deram um giro, com a vitória de Lula presidente da República. Gilberto torna-se Chefe de Gabinete do presidente eleito, e grande incentivador de tantas coisas boas e inéditas feitas nos governos Lula. Convidado por Frei Betto, fiz parte da primeira equipe do TALHER – ‘matar a fome de pão, em primeiro lugar, e, junto e ao mesmo tempo, saciar a sede de beleza’: construir as políticas e programas do Fome Zero, com apoio da RECID, Rede de Educação Cidadã, rodando o Brasil, educadoras e educadores populares, uma Rede nacional de formação, conscientização e organização popular. No processo, Gilberto, via Decreto, torna oficial o Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas, hoje seguido em governos populares, como o de Belém.

No governo Dilma, Gilberto ministro, fui ser Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República, dentro do inédito Departamento de Educação Popular e Mobilização Social. Mais adiante, sob meus protestos (eu achava que não era a pessoa mais indicada; por isso, sugeri Iracema Moura, engenheira agrônoma e da equipe do TALHER, como Adjunta), acabei coordenando, em nome da Secretaria Geral, a construção da Política e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, PNAPO e PLANAPO, respectivamente, e fui ser Secretário Executivo da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), e membro da CIAPO (Comissão Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica). Momentos históricos, Brasil na linha de frente da agroecologia e produção orgânica no mundo, tudo bancado por Gilberto, e tudo devidamente destruído pelo atual governo neofascista.

A fé e a política nos unem neste tempo todo, décadas: a fé e seus valores, animando a política, a ação política instigando a fé engajada e libertadora. E unem Gilberto a companheiras e companheiros do Brasil e do mundo, como se fossem todas e todos irmãs, irmãos, camaradas, lutadoras e lutadores de Gilberto e das melhores causas, junto com os mais pobres entre os pobres, a população em situação de rua, o povo LGBTTT, catadoras e catadores de materiais recicláveis, sem terras e sem teto, portadoras/es de deficiência, com quem Gilberto promoveu permanente diálogo, políticas e programas nos governos Lula e Dilma. Quando Paulo Freire completaria 100 anos, em 2021, Gilberto, nos seus setentinha, é exemplo de alguém profundamente freireano, e agora, através da Secretaria Nacional de Formação do PT, empenhado em ‘freirear o PT’: dialógico, prática libertadora, construindo o inédito viável, sempre educador da esperança. E no meu caso, e de todas e todos, sempre com um cuidado pessoal: quando eu ficava em Brasília, sozinho, por exemplo na noite de Natal, nunca esquecia de me convidar para passar a noite e jantar com ele e família.

Estendo também esta homenagem e palavras para outro companheiro, Virgílio Aurélio, que conheci na Vila Santa Rosa, Porto Alegre, há uns 40 anos e que nas CEBs, Pastoral Operária, Fé e Política, nas campanhas eleitorais, nas lutas comunitárias, tem estado comigo/conosco. No início de fevereiro, Virgílio vai completar oitentinha, 80 anos bem vividos.

Nestes tempos tri difíceis de pandemia, de governos neofascistas e necrófilos, de tanta dor e sofrimento, honra e orgulho proclamar como compas de jornada, luta e fé, e ter amigos como o Gil e o Virgílio. E, melhor ainda, sabê-los vivos e atuantes na boa luta, aos 70 e 80 de idade, nos mesmos compromissos e causas de toda uma vida.

Longa vida, Virgílio Aurélio!

Longa vida, Gilberto Carvalho, Gil, Gilbertinho!

Rumo aos 100 bem vividos. À VIDA, AO PRAZER E AO AMOR! Em 2021, ESPERANÇAR.

Edição: Katia Marko