“Se é que há esperança, escreveu Winston, a esperança está nos proletas"
“O Grande Irmão está de olho em você” (1984, George Orwell, p. 12).
“A programação de Dois Minutos de Ódio variava todos os dias, mas o personagem principal eram sempre Goldstein, o Inimigo do Povo. Ele era o traidor original, o primeiro conspurcador da pureza do Partido” (Idem ibidem, p. 342).
“A Revolução será completa quando a imagem for perfeita. Menos e menos palavras a cada ano que passa, e a consciência com um alcance cada vez menor” (Idem ibidem, p. 69).
“A vida – era só olhar em torno para constatar – não tinha nada a ver com as mentiras que manavam das teletelas, tampouco com os ideais que o Partido tentava atingir. Tudo se esmaecia na névoa. O passado fora anulado, o ato de anulação fora esquecido, a mentira se tornara verdade” (Idem ibidem, pp. 93 e 94).
“São slogans do Partido: Guerra é Paz. Liberdade é Escravidão. Ignorância é Força” (Idem ibidem, p. 14).
“O mais horrível dos Dois Minutos de Ódio não era o fato de a pessoa ser obrigada a desempenhar um papel, mas ser impossível manter-se à margem” (Idem ibidem, p. 25).
“O pensamento-crime não acarreta a morte: o pensamento-crime É a morte” (Idem ibidem, p. 40). “Era terrivelmente perigoso deixar os pensamentos à solta num lugar público ou na esfera de visão de uma teletela” (Idem ibidem, p. 79). “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado” (Idem ibidem).
“As velhas civilizações diziam basear-se no amor ou na justiça. A nossa se baseia no ódio. No nosso mundo as únicas emoções serão o medo, a ira, o triunfo e a autocomiseração. O único amor será ao Grande Irmão” (Idem ibidem, pp. 311 e 312).
Não se está falando do ano de 1984, ano das Diretas-Já, do anúncio do fim da ditadura militar e da volta da democracia no Brasil, depois de mais de 20 anos. As citações são transcrições literais do romance ‘1984’, de George Orwell, escrito em 1949. Orwell desvenda o seu tempo, o ano de 1949, como se fosse ou acontecesse em 1984,o futuro de 35 anos depois. É o romance onde está/nasceu a expressão que todo mundo entende: Big Brother, Grande Irmão.
É hora de (re)ler, ou conhecer, o terrível e estonteante romance de George Orwell, ‘1984’, que fala de, e retrata, podemos falar hoje, 2021 de alguma maneira.
Mas tanto ‘1984’, o ano do romance, e 1949, o ano da escrita, passaram faz tempo. Importante falar de 2021 (e não de 2056, se fosse escrever prevendo o futuro, 35 anos à frente).
“De Rockfeller a Musk, os novos barões. Quem controla o discurso, também controla o poder. O golpe de Trump fracassou, o Império ainda não caiu, mas as grandes empresas de tecnologia conseguiram reforçar o controle que exercem sobre as sociedades. O banimento de Donald Trump por praticamente todas as redes sociais revela que somos governados por bilionários do Vale do Silício: Nomes como Jack Dorsey, do Twitter, Mark Zuckerberg, do Facebook, Larry Page, do Google, Tim Cook, da Apple, e Jeff Bezos, da Amazon” (Leonardo Attuch, Brasil 247, 11.02.2021).
“Vão vender a nossa privacidade”, diz Alcides Peron, pesquisador da USP e especialista em segurança e tecnologia, sobre a nova política do WhatsApp. “A integração de dados entre WhatsApp e Facebook, a partir de 8 de fevereiro, confere um grande poder ao Facebook e aumenta nossa subserviência e dependência dessas empresas. Uma empresa privada concentrando muitos serviços importantes.”
Mais ‘1984’ em 2021. “Parsons imitou o gesto de quem aponta um fuzil e estalou como se desse um tiro. O que estou querendo dizer é que estamos no meio de uma guerra, observou Parsons” (George Orwell, 1984, p. 74).
“Bolsonaro diz preparar decretos que facilitam acesso a armas de fogo. No país desmanchando, Bolsonaro trabalha para facilitar acesso a armas de fogo. No fim vai sobrar o bangue-bangue” (Diário do Centro do Mundo, 12.01.2021). Diz o Presidente da República: “Nós batemos o recorde o ano passado, em relação a 2019. Mais de 90% na venda de armas. Está pouco ainda, tem que aumentar mais. O cidadão de bem, há muito tempo foi desarmado” (DCM, 12.01.2021).
“Por essencial, analise-se o fenômeno da militarização que, a cada dia que passa, vai ficando mais nítido e espalhado. Entre outros sinais, ocupação, por militares, de cargos-chave nas guerras culturais centrais do Bolsonarismo, na questão ambiental, da educação, de costumes, acentuando a identificação ideológica com as Forças” (Xadrez de Bolsonaro e o avanço irreversível da militarização, por Luís Nassif, 11.01.2021). ‘1984’ sendo revivido, em estado real, não sob forma de romance.
E ainda o mundo, em 2021, lida com a pandemia do coronavírus, mais de 200 mil mortos só no Brasil, o pior estando por vir, segundo quem entende do assunto.
“Acabou. A equação brasileira é a seguinte. Ou o país entra num lockdown nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar nossos mortos em 2021. O Brasil precisa criar uma Comissão Nacional para ontem. Passamos de todos os limites aceitáveis de estupidez. Estamos correndo o risco de entrar em colapso sanitário, social e econômico em 2021. O Brasil está na UTI e o diagnóstico é falência terminal de múltiplos órgãos” (Miguel Nicolelis, maior cientista brasileiro, em Diário do Centro do Mundo, 05.01.2021).
O que nos resta é uma citação de ‘1984’, o romance: “Se é que há esperança, escreveu Winston, a esperança está nos proletas. Enquanto eles não se conscientizarem, não serão rebeldes autênticos e, enquanto não se rebelarem, não têm como se conscientizarem” (Idem ibidem, pp. 88 e 90).
PREPAREMO-NOS! 2021 é ‘1984’. E será pior que 2020.
Nossa ação e boa luta em 2021: conscientizar e ESPERANÇAR.
Edição: Katia Marko