Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES 2020

Manuela D´Ávila: “Governar para todos é reconhecer e combater a desigualdade”

Candidata do PCdoB à Prefeitura de Porto Alegre participou de sabatina de veículos independentes; assista na íntegra

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Brasil de Fato RS e Rede Soberania participaram e transmitiram a sabatina organizada pelo Sul21 nesta quinta-feira (26) - Divulgação

A candidata à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela D'Ávila (PCdoB), participou de uma sabatina virtual com jornalistas de veículos independentes, na tarde desta quinta-feira (26). Organizado pelo Sul21, com a participação do Brasil de Fato RS, da Rede Soberania, do Brasil 247, do Periférico e do canal SXF13, o debate durou cerca de 40 minutos. Foram abordados temas como comunicação, direito à cidade, participação política, mobilidade urbana, segurança e cultura, além de aspectos da reta final do segundo turno na capital gaúcha, como alianças políticas, abstenções de voto e fake news.

Assista abaixo ao debate na íntegra e confira um resumo com os principais pontos debatidos:

Abrindo o debate a  jornalista Katia Marko, do Brasil de Fato RS, perguntou sobre como Manuela pretende agir em relação à comunicação e lembrou também sobre a questão das fake news. Jornalista por formação, Manuela disse que a democratização da comunicação fez parte da sua militância. Em relação às notícias falsas, a candidata afirmou que é preciso pensar em um conjunto de formas para comunicar, o que segundo ela envolve participação popular. 

“Isso tem a ver com a retomada do Orçamento Participativo, mas precisamos pensar como incluir digitalmente as pessoas, enfrentando a desigualdade digital na cidade, e também formando as pessoas para identificar o que é fato e o que opinião. Precisamos fazer isso sim, democratizando a comunicação, articulando a Conferência Nacional da Comunicação. E também com iniciativas que levem informação às nossa comunidades”, destacou, lembrando o trabalho desenvolvido pelo instituto em que é coordenadora, o E Se Fosse Você?, voltado para criação de conteúdo de combate às fake news e ódio nas redes.

Gabrielle de Luna, do Periférico, lembrou que na última vez que a cidade foi administrada pela coligação da candidata, alguns projetos para a periferia foram criados, mas foram deixados de lado pelas administrações subsequentes. Gabrielle indagou Manuela, caso seja eleita, como ela pode fazer mudanças estruturais que deixem um legado para as comunidades. 

Segundo a candidata, isso envolve duas questões. Primeiro, a forma de governo, que está relacionada com retomada da participação popular através dos conselhos municipais e, sobretudo, a retomada do Orçamento Participativo. “O Orçamento Participativo nunca foi só sobre debate de investimentos na cidade, mas era também um local de conversa, de pactuação sobre o que deve ser prioridade da cidade”, pontuou. 

Manuela afirmou saber que Porto Alegre precisa de um novo ciclo econômico, que o desemprego é grande na cidade. “Mas sabemos que de nada vale retomar a economia da cidade se não enfrentar as desigualdades”, salienta. A candidata destacou que o programa de governo da coligação tem algumas ações que priorizam os mais vulneráveis, como a criação do fome zero municipal e do combate ao trabalho infantil. “Nós sabemos que toda a cidade foi atingida pela pandemia, mas nem todos foram atingidos igualmente. Precisamos olhar com atenção aos mais vulneráveis.” 

Dayane Santos, da TV 247, recordou que Porto Alegre foi a capital com maior número de abstenções no 1º turno entre as capitais, quando 33% dos porto-alegrenses preferiram não ir às urnas. A jornalista pediu para que Manuela falasse sobre o processo de criminalização da política e se a alta abstenção foi um resultado dessa campanha dos últimos anos.

Manuela destacou o baixíssimo nível da campanha no primeiro turno, marcada por pouco debate sobre a cidade, acusações, machismo e inúmeras fake news. “Tiramos mais de 530 mil notícias falsas, isso faz com que pessoas percam interesse nas eleições. Porto Alegre é submetida há 15 anos por governos que não estimulam a população a participar, que prometem e não cumprem e que fazem as pessoas desesperançar com a política. A cidade está completamente abandonada”, avaliou.

De acordo com a candidata, os últimos 10, 12 dias foram um esforço de falar a verdade para as pessoas. “A verdade sobre mim, quem eu sou, porque as mentiras não param, é uma mentira atrás da outra. É uma loucura o volume da mentiras dos gabinetes do ódio, nunca foi um só, são vários que circulam e disseminam, não é casual que seja contra mim e se alguém tem responsabilidade, precisa dizer aos aliados para pararem de dizer”, frisou, lembrando que seu adversário, nesta quarta, tentou levá-la à Justiça na tentativa de criar um fato político. 

Luis Eduardo, do Sul21, indagou sobre a questão da mobilidade urbana, pontuando ser um dos maiores problemas da Capital. Segundo Manuela, é preciso adotar soluções pensadas para Porto Alegre e buscar em outras cidades do mundo. “As soluções de mobilidade urbana, assim como outras soluções para a cidade, têm que ser pensadas integradas na cidade que nós vivemos”, pontuou.

De acordo com ela, é preciso retomar a gestão pública do transporte coletivo na cidade. “Esse é o principal debate da eleição, isso é o que meu adversário não fala, porque isso talvez seja enfrentar as empresas, isso significa fazer a gestão do dinheiro das passagens de ônibus”, expôs. 

Conforme enfatizou Manuela, é preciso manter a Carris pública. “Defendemos a Carris pública porque ela baliza a qualidade do sistema de transporte no município, foi a Carris que fez com que não faltasse ônibus para os pobres da cidade. Defender a privatização da Carris em uma crise como esta é vulnerabilizar ainda mais os mais pobres.” 

Além disso, Manuela pontuou que não tem como os ônibus de Porto Alegre ficarem sem cobradores, pois eles são imprescindíveis. “Defendemos a criação de um fundo para a mobilidade com IPVA, Azul Park e ETPC para subsidiar tarifa”, acrescentou.

Thiago Suman, do SXF13, perguntou se algum conteúdo das alianças de segundo turno foram incorporados ao programa de governo. Segundo a candidata, existem propostas que já constavam no seu programa, mas que existiam com mais detalhes ou um recorte diferente nos programas da Fernanda Melchionna (PSOL) e da Juliana Brizola (PDT). Entre elas, o aplicativo municipal de transporte. Outras medidas foram incorporadas, como estender os horários das creches. “Têm aperfeiçoamento de temas e muitos temas comuns”, afirmou.

Abrindo a segunda rodada de perguntas, Katia pediu para que Manuela discorresse sobre o direito à cidade, visando a questão das remoções forçadas, da gentrificação e da falta de infraestrutura nas periferias. Para a candidata, são vários os debates para se imaginar uma cidade mais acessível. 

“Não tenho dúvida que isso passa pelo Orçamento Participativo, criar espaço de articulação das soluções, porque aí tu tem o debate da moradia. Mas também tem o tema da regularização fundiária, reconstrução do Demhab, escritórios regionais de regularização, o esforço para que a União e estado permitam que o município conduza a titularização para que a gente possa garantir dignidade para as pessoas”, disse, pontuando que ainda não chegou no pior momento econômico para a população.

“Teremos que ter gestão muito próxima das comunidades para garantir trabalho e renda, para lutar pelo tema da regularização fundiária, para fazer gestão junto à União e ao estado para o protagonismo do município. Temos o tema dos imóveis abandonados que para nós é bastante importante. Porto Alegre tem mais de 1.500 imóveis abandonados e achamos que eles podem ser usados para moradia”, afirmou. “Temos alguns nortes para que o povo da periferia possa viver um pouco melhor e a gente possa garantir infraestrutura nos bairros e direito à moradia.”

Abordando o tema da segurança pública, Gabrielle destacou que a população negra está na mira da atuação das forças de segurança. A jornalista indagou se, caso eleita, Manuela teria intenção de articular ações junto ao estado para mudar essa cultura.

A candidata afirmou ter o compromisso de qualificar todos os servidores para combater o racismo. “Porto Alegre tem agentes de saúde, educadores, educadoras, assistentes sociais e agentes da Guarda Municipal. Isso passa pelo reconhecimento do racismo e do papel do Estado e dos seus agentes no enfrentamento a ele. A qualificação da prefeitura para enfrentar o racismo é compromisso nosso”, enfatizou.

Disse ainda que é preciso fazer um pacto no Brasil com as polícias “porque é uma guerra de pobre contra pobre. A gente precisa pactuar nacionalmente pelo fim da violência policial e imaginarmos uma política de segurança pública que resolva nossos problemas reais”. Manuela fez referência ao livro de Jeferson Tenório, patrono da recente Feira do Livro de Porto Alegre, “O Avesso da Pele”, que trata da questão da relação dos corpos negros com as forças do Estado.

Dayane indagou a candidata sobre a questão da falta de água constante na cidade. Ela pontuou que o adversário de Manuela chegou a dizer que o DMAE não vai resolver os problemas da falta de abastecimento, principalmente nas periferias, e que a proposta dele será de jogar tudo para a iniciativa privada. 

“O DMAE é um departamento superavitário, nunca faltou dinheiro quando bem administrado. Existe sim uma escolha ideológica do meu adversário que quer vender todo o patrimônio público. O que precisamos garantir é que o DMAE, com administração pública, garanta que chegue água nas casas das pessoas, e com preço acessível”, afirmou Manuela, trazendo como exemplo a cidade de Uruguaiana, que fez o modelo de parceria público-privada, defendido pelo adversário, e a tarifa custa o dobro da de Porto Alegre. 

“Isso [a privatização] significa a interrupção da obra da Ponta do Arado, uma obra pública e que representa a solução da falta d’água na Lomba do Pinheiro. O DMAE tem mais de R$ 300 milhões em caixa e pode garantir, com uma tarifa justa, água na torneira das pessoas, esse tem que ser o nosso objetivo. Além de apresentar projetos e disputar financiamento internacional para obras de saneamento que nós necessitamos”, apontou.

Por fim, o jornalista Thiago indagou como desenvolver aspectos culturais na atual realidade virtualizada, que deve perdurar no primeiro ano de governo. A candidata destacou que “primeiro temos que lutar pela manutenção do auxílio emergencial e do benefício da Lei Aldir Blanc enquanto existir pandemia”. Pontuou que, se o Estado tem o dever de evitar mortes e interromper atividades de determinados setores, também deve garantir uma vida digna para as pessoas.

Manuela enfatizou que é preciso fazer com que Porto Alegre estabeleça a gestão da vacina. “A nossa solução para a abertura definitiva do setor de eventos é enfrentar a pandemia. Enquanto não tivermos a vacina, a gente vai ter dificuldade de fazer esse enfrentamento. É por isso que é tão urgente, é isso que vai garantir a movimentação econômica na cidade. Ter coragem de enfrentar Bolsonaro e o bolsonarismo, a negação da ciência, aqueles que dizem que é um gripezinha. A gente precisa e esse é um compromisso meu, lutar para que nosso povo viva, pela nossa economia aberta, e isso significa lutar pela vacina”.

Destacou ainda que o desafio não é só a disputa pela vacina, mas também os insumos para garantir a vacina, providência pela qual a prefeitura ainda não se moveu. “Isso tem relação com o setor cultural e com toda a população de Porto Alegre”, ponderou.

“Governar para todos é governar reconhecendo que vivemos numa cidade desigual e que combater a desigualdade tem que ser o centro de quem transforma Porto Alegre em uma cidade mais justa e solidária. Meu pedido é que até domingo a gente não arrede o pé da rua. A gente vai vencer, vai vencer de virada, mas eles têm a força dos gabinetes do ódio, são aqueles que detestam a ideia que o povo entre pela porta da frente da prefeitura”, concluiu Manuela.


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Edição: Katia Marko