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Artigo | A morte da Consciência Negra

Hoje seria um dia para refletirmos sobre a importância do negro como tripé da nossa identidade

Porto Alegre | BdF RS |
Às vésperas da Consciência Negra, um homem, negro, foi espancado no pátio do Supermercado do Carrefour por dois seguranças e não resistiu - Luiza Castro/Sul21

Às vésperas da Consciência Negra, um homem, negro, foi espancado no pátio do Supermercado do Carrefour por dois seguranças e não resistiu. Notícias correram criticando o ato feito e nos faz refletir que país é esse? Simples, o Brasil matou a consciência negra.

No dia 20 de novembro é o dia da Consciência Negra, onde o objetivo da data é levar as pessoas a refletir sobre a posição social dos negros no país.

A população negra é a mais afetada pela desigualdade e pela violência no Brasil. De acordo com a ONU, no mercado de trabalho, negros e pardos enfrentam muito mais dificuldades para conseguirem progredir em suas carreiras, na questão salarial e, principalmente, são mais propensos a sofrerem algum tipo de assédio moral.

De acordo com o Atlas da Violência 2017, a população negra também corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios.

Os negros são a nota de rodapé da História do Brasil, escravizados por mais de 300 anos, foram negligenciados pela aristocracia branca que monopolizava o poder e os espaços de sociabilidade.

Quando ocorreu o movimento abolicionista no Brasil, durante o século XIX, várias leis foram criadas como forma de dar a liberdade gradual a todos os cativos negros, no entanto, tal feito não foi abrangente o bastante para dar realmente a liberdade. O negro foi simplesmente jogado pra fora das fazendas e não lhes foi oferecido nenhum tipo de ajuda por parte do governo imperial e muito menos republicano a posteriori.

O Brasil é um dos países mais preconceituosos do mundo. Atualmente possuímos várias políticas públicas que são criadas para diminuir a desigualdade do Brasil, no entanto, percebemos que as manifestações destas desigualdades são demonstradas principalmente na questão de cor ou raça.

56,10%. Este é o percentual de pessoas que se declaram negras no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE. Ou seja, dos 209,2 milhões de habitantes do país, 19,2 milhões se assumem como pretos, enquanto 89,7 milhões se declaram pardos. Mesmo sendo a maioria da população, ainda há uma desigualdade infinita e pelos caminhos que a sociedade trilha, não irá diminuir.

O Brasil é a maior vergonha. Nossas políticas públicas não funcionam. O nosso governo não funciona. A maioria da população é preconceituosa, outra parte não se manifesta em prol de levantar bandeiras para defender as minorias.

As minorias do Brasil são massacradas diariamente pelos grandes tabloides que insistem em configurar uma imagem de que todo negro é bandido, vejamos, negros são as maiores vítimas de homicídios no Brasil. Segundo o Atlas da Violência, em 2017, 75,5% das pessoas assassinadas no país eram pretas ou pardas – o equivalente a 49.524 vítimas. A chance de um jovem negro ser vítima de homicídio no Brasil é 2,5 vezes maior do que a de um jovem branco.

Viver em um país como o Brasil é uma tarefa árdua, pois diariamente você é bombardeado por atitudes como a acima citada que não valorizam a nossa nação. Hoje seria um dia para refletirmos sobre a importância do negro como tripé da nossa identidade, no entanto, nós, brasileiros, matamos a consciência negra.

O maior problema do Brasil é que nunca tivemos uma abolição da escravidão em seu verdadeiro significado.

* Historiador.

Edição: Katia Marko