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Amanhecer

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Evo Morales retornou à Bolívia e seu vice, Linera, devolveu ao solo aquele punhado de terra que havia carregado num saco, para o exílio, o sinal foi dado - Divulgação
O que fazer? Trabalhar pela superação da alienação. Votar contra o racismo e o fascismo

E agora Jair? O que fazer pra reter convidados que saem de mansinho, enquanto o posto Ipiranga se frustra por não conseguir vender estatais e a morte de 162 mil brasileiros se revela insuficiente para aliviar a demanda dos que restam, por políticas públicas do tipo que teu governo destrói pela raiz? O será feito para distrair os milhões que reclamam por comida, trabalho, teto e vacinas, agora que uma segunda onda da covid vem aí, e já coloca a Europa de joelhos?

O que fazer agora, quando o mundo inteiro festeja que os americanos tenham descartado aquele que amas e quando até nos quartéis da Venezuela debocham de tuas ameaças, como aquela, de usar da pólvora para controlar o futuro presidente dos EUA. Tu te superou esta semana, Jair. Agora até a boiada dos cercadinhos está chocada. Entende-se teu dedo podre ao escolher assessores descartáveis, ao apoiar candidatos derrotados. Mas é triste ver um presidente, fazendo campanha para um vereador e ignorando a situação de brasileiros que vivem no estado do Amapá e permanecem sem luz, sem água, sem comunicações e aquilo mais, que depende disso.

Cheira a podre, e deve haver algo de muito irregular nisso tudo porque até o Nhonho vem alertando que com os aliados que este governo tem, a casa vai cair. Lembra da fábula do lobo mau? Lá, o Porquinho Prático tentou alertar seus irmãos: é preciso trabalhar seguindo um projeto estrutural porque casas de palha não resistem a um sopro mais forte.

E este desgoverno, sem projeto, sem planos, sem aliados, olhando em volta há de perceber que o vento está crescendo, nos países vizinhos.

Esta semana, quando Evo Morales retornou à Bolívia e seu vice, Linera, devolveu ao solo aquele punhado de terra que havia carregado num saco, para o exílio, o sinal foi dado. Aquela terra e seu povo são uma coisa só. E lá, como aqui, é enorme a distância entre quem se alimenta na solidão, entre bajuladores, e os que são esperados com a empatia transbordante dos companheiros que avançam unidos em rumo a um futuro socialista. Aliás, o Lula também deve entender o que aconteceu ali e a importância do discurso de posse do vice-presidente David Choquehuanca.

Enquanto aquilo ocorria, nosso presidente Bolsonaro festejava a morte de mais um brasileiro, e ainda usava seu suicídio como motivo para anulação de pesquisas envolvendo uma das vacinas mais promissoras, contra a covid. Apesar de alguns aplausos constrangidos, aquilo também não pegou bem. A morte não pode ser festejada, Jair. E nossos povos vão precisar de todas vacinas que funcionem. É simples, como no caso dos porquinhos. Somos parecidos, mas não somos iguais. Como ocorre com teus 01, 02, 03, 04 e amados primos.

Algumas vacinas serão mais eficientes para os mais jovens, outras para os mais idosos, com ou sem passado de atleta, ou com afecções pulmonares, e assim por diante. Enfim, não haverá UMA vacina cloroquínica, adequada a todos os casos, e, ainda que morram mais centenas de milhares precisaremos vacinar perto de 70 milhões de brasileiros, até meados de 2021. Assim, ao desmoralizar os 100 anos de trabalho do Butantã, para interromper os estudos com a vacina SINOVAC, “a vacina chinesa”, tua fala ainda serviu para ampliar o descrédito da Anvisa, que já se havia desdito no caso do paraquat e agora, de novo, terá que assumir que – em teu governo – dali não se deve esperar qualquer tipo de coerência.

Nesta semana nosso presidente ainda chamou de covardes, de maricas, a todos brasileiros que não ajudam a engrossar o grupo de mortos, e esperam medidas positivas deste desgoverno, em relação ao caso da pandemia. Entende-se que o valente general que ocupa o Ministério da Saúde, e que acaba de deixar internação hospitalar deverá voltar às ruas.

Como se fosse pouco, o ministro do Meio Ambiente, tão ágil em dar de baciada na limpeza de normas e espaços territoriais que se colocam no caminho do agronegócio, se defronta agora com estudos que alimentam controvérsias importantes. Nos arquivos da Embrapa estão disponíveis elementos reveladores de que as queimadas, na Amazônia e no Pantanal, não só destroem patrimônio sociocultural, a imagem externa do país e as exportações, como ameaçam a economia nacional do presente e do futuro. Pior, talvez, na expectativa de alguns: comprometem a credibilidade das campanhas do Agro é POP.

Não é pouca coisa: valor dos serviços sócio ambientais gerados pelo Pantanal, sem o fogo, superam os 20 mil dólares/hectare/ano, enquanto a soja, que avançará no rastro dos incêndios mesmo em leitura muito exageradamente otimista, supondo uma lucratividade de 100%, ficará – no máximo – em torno de mil dólares/hectare. E olhe que a pasta do ecocídio se superou este ano. Na esteira de ampla redução nas multas ambientais perto de 230 mil Km2 do Pantanal viraram cinzas. Esta área é aproximadamente 5 vezes maior do que a Holanda inteira, que com seus 41.543 Km2 exporta, em produtos agrícolas, tanto quanto, senão mais do que o Brasil com o agropop inteiro. Seria resultado das estufas lá na Holanda construídas para imitar artificialmente um clima como o nosso? Estaria relacionado a planejamento voltado aos mercados próximos? Seria fruto de uma tecnologia adaptada a policultivos em áreas pequenas? Isto teria relação com a ausência de monocultivos transgênicos, a redução de agrotóxicos e os avanços no sentido de transição para uma agricultura orgânica? Algo assim poderia ser alcançado neste Brasil que afunda, dominado por um agronegócio que prefere a técnica do fogo e as lavouras de escasso valor econômico, como a soja Geneticamente Modificada? Ou seria mérito do governo?

Reconheçamos, a culpa é nossa. É de todos que não se envolveram diretamente na defesa dos direitos humanos e da soberania nacional. Que não se revoltaram com o impeachment sem culpa, com a prisão sem provas, com a facada sem sentido, com as mentiras e os crimes que foram e continuam sendo praticados desde o primeiro escalão até o rodapé dos governos sustentados por golpistas e seus associados, em todos os níveis.

O que fazer? Trabalhar pela superação da alienação. E votar contra aqueles que o apoiaram no início e agora tratam de dar uma de bacanas, como se pudessem disfarçar o que são.

Votar contra o racismo, o fascismo e seus associados.

Votar a favor da vida, da agroecologia, da educação. Votar pelo amanhecer.

Obrigado, Pedro Munhoz!

 

OBS: Amigues leitores. Os links são opções de acesso, para eventuais interessados nas fontes citadas. Recomendo, enfaticamente, tão somente que não deixem de escutar a música de Pedro Munhoz. Que ela nos inspire.


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Edição: Katia Marko