Precisamos ampliar a conscientização de todos aqueles que foram enganados nas últimas eleições
O grande tema da semana, como Beatriz Fagundes, da corajosa rádio Manawa já anuncia há meses, é a eleição na sede imperial que orienta os fascistas do sul da América da Sul: os EUA. Terra onde nasceram a Monsanto, o General Custer e outros tantos cavalos com espírito de John Wayne. É lá que se firmam as botas que nossa elite do atraso lambe, e que patrocinam golpes contra a democracia participativa, seja lá onde for que ela ouse vicejar.
Por isso, nesta colônia explorada, onde o capitão do Planalto estufa peito quando presta continência à bandeira norte-americana, e se acoca jurando amor a Trump, o fascistão laranja, é compreensível que os motivos de temor cresçam, diante da possível manutenção de tão desvantajosa, desigual e abjeta aliança. Afinal, nosso péssimo presidente, que com seu “histórico de atleta” e de “mau militar”, que com sua ambição desembestada e desejosa de “voltar à ditadura militar”, já causava preocupação até ao general ditador Ernesto Geisel, só piora com o tempo.
Nesta semana em que o laranjal de seu filho Flávio e o escândalo de sua fabulosa loja de chocolates voltaram a ser denunciados pelo MP, agora com tão grande número de envolvidos e evidências que não já não cabem soluções caseiras como as trocas de ministros e subordinados de qualquer escalão, o que fará o pai? Lhe resta a saída do golpe, dentro do golpe? Os 3.000 militares ocupando postos no governo civil, mais o apoio de Guaidó, sem Trump, serão suficientes?
Aparentemente não, e daí o muxoxo do capitão, que agora se agarra naquela esperança tola, a “última que morre”. Talvez isto explique o desespero revelado pelo anúncio do Itamaraty, de que o Brasil não aceitará a derrota de Trump, pelo menos não até que ele nos autorize, pessoalmente.
Não basta que Biden tenha obtido a maior votação da história dos presidentes norte-americanos. Nem que vença também na visão dos delegados, como exige a lei daquele país. Nossos golpistas subalternos, por cacoete e opção sempre negam realidades que contrariem seus objetivos. Bolsonaro, em 2018 declarou que não aceitaria a derrota para Haddad. Em 2014, Aécio, “o sumido”, golpista de primeira ordem, também não aceitou a eleição de Dilma, com 52% dos votos válidos, e anunciou, de cara, a oposição incansável e intransigente, a sua, pessoal e a dos seus tucanóides, que acabou levando ao golpe que nos trouxe a este momento, onde dedicamos mais atenção ao que ocorre na sede do Império do que à verdadeira privatização do Banco Central do Brasil, que assim, com sua nova “autonomia”, agora se subordina ao grande capital internacional e – como a Petrobras – não responderá mais, no que interessa de fato, aos brasileiros ou à frágil democracia que ainda existe por aqui.
E também não importa que nosso eloquente ministro Luis Barroso, presidente do Superior Tribunal Eleitoral do Brasil, sempre atento apoiador das acusações baseadas em convicções, sem provas, que viabilizaram a prisão de Lula, e a eleição do capitão, agora como observador internacional externo, das eleições nos EUA, tenha reconhecido que lá não houve fraude.
Não importa se houve ou não houve irregularidade. Se trata de atrelamento à vontade de Trump, disfarçada agora de não-ingerência em processos políticos estrangeiros, pressuposto ignorado pelo Itamaraty de Ernesto Araújo nos casos da Argentina, Venezuela, Chile e Bolívia. Nosso Chanceler, simplesmente reafirma com isso, para vergonha nacional, que o Brasil estará sempre com os ratos, os golpistas e os fascistas, independente da vontade dos povos que habitem qualquer país.
Mas a semana não ficou nisso. Uma menina foi drogada e estuprada por pessoa rica, “de bem”, em Florianópolis, Santa Catarina, estado onde Bolsonaro obteve 75% dos votos. A pedido do seu advogado, sob as vistas do procurador, e com a apatia do advogado de defesa, o juiz do caso acatou argumento de que não houve culpa, por parte do estuprador. Absolvição por ausência de provas. A menina foi violentada enquanto ela estava sem controle dos próprios sentidos, mas sem testemunhas e ali não haveria intencionalidade que pudesse caracterizar culpa, ou crime. Uma jovem branca, de família classe média, no mais bolsonarista de todos os estados brasileiros, agora é assombrada pelo que a mídia chamou de “estupro culposo”.
Esta situação indigna, vergonhosa, é associada pelo Movimento Mulheres em Luta como mais um dos estupros que aconteceriam a cada 8 minutos no Brasil. Estes, e muitos outros, não denunciados, envolvendo meninas pobres, negras, desamparadas, seriam acobertados e até estimulados por discursos permissivos e de naturalização da violência contra a mulher. Posicionamento não evitado por vontade direta ou no mínimo pelas omissões de um presidente, seus ministros, seus seguidores e seus apáticos apoiadores, membros de famílias tementes a um deus cruel com as ovelhas e complacente com seus lobos de estimação.
Se trata de condicionamento social estabelecido à sombra de uma rede de privilégios e impunidades, que se agrava desde o golpe de 2016, pela desmoralização da justiça e pela destruição de políticas públicas. Se trata da ascensão de uma classe de políticos, dirigentes, formadores de opinião, raposas e ratos que não hesitam em enganar a um povo generoso, que – com o apoio da grande mídia – simplesmente deixou de ver o que vem ocorrendo desde que o bestiário se apropriou da nação.
A saída? Torcer contra o Trump e a favor do povo americano, onde adormece o espírito de Woodstock, onde a maconha já é discriminalizada em 46 dos 50 estados, onde grande parte dos jovens se declara socialista, onde o aborto é permitido em defesa da saúde e há grande luta para manutenção deste e outros direitos das mulheres. País onde, com Biden, quem sabe possamos negociar a retomada de parte de nossa soberania e talvez até vejamos suspenso o bloqueio à Cuba, aquela ilha gigante, com menos terra do que Santa Catarina, onde o respeito às mulheres, à educação e à saúde são direitos humanos indiscutíveis, garantidos e defendidos por todos, e onde se finaliza uma vacina contra a covid-19, que será distribuída ao mundo como contribuição de uma pátria socialista a todos que lutam por um novo mundo, que sabemos possível.
Podemos fazer o mesmo, ou nos encaminharmos para tanto, a partir de novembro, elegendo vereadores e vereadoras, prefeitas e prefeitos antifascistas, que apostem na participação popular e que sigam ideários de respeito à uma ecologia integral, comprometida com a vida em todas as suas dimensões. Em Porto Alegre, hoje, dia 6 de novembro, o movimento ambientalista entregaria à liderança da coligação por uma administração popular, envolvendo PCdoB e PT, uma carta que expressa este ideário, passo necessário para a construção de um mundo de equidade e justiça, que será socialista.
Precisamos ampliar a conscientização de todos aqueles que foram enganados nas últimas eleições e que, abrindo os olhos, estão conosco. Somos muitos os que queríamos mudar o mundo, mas acabamos inertes, como cantava o Cazuza, assistindo de cima do muro a ascensão e o domínio de oportunistas, vendilhões e golpistas, nas câmaras, prefeituras, assembleias, congresso federal e no limite, agora suportamos este presidente que aí está, mas que em breve será apenas triste lembrança. Como seus ídolos, Ustra e Trump.
Não vamos esquecer o passado. Mas vamos aprender com isso. Temos que assumir um fato: agora importa menos o que passou, a responsabilidade pregressa de cada um de nós, os enganados, do que o que virá. Todos devem ser acolhidos e respeitados em suas autocríticas e pelo que são, ou pelo que podem vir a ser, em ações comprometidas com a reconstrução da dignidade e da soberania popular, em cada cidade deste grande país.
E nesta eleição, há que ficar atento, não se deixar enganar, seguir o conselho do gigante e visionário Nei Lisboa, que já nos alertava no início deste tombo que nos jogou ladeira abaixo. Vivendo na normalização de tantos crimes que se avolumam no rumo fascista, temos que cair na real e nunca mais apoiar os ratos nem quaisquer representantes de suas turmas, por menores e mais bem maquiados que sejam.
Nei Lisboa, em O Futuro de Exterminador já cantava: ele não!
“olha pra este rato. É o diabo, candidato a bom cidadão”
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Edição: Katia Marko