O senso comum tende a colocar a corrupção como algo inerente ao serviço público e consequentemente ao servidor público. No dia do servidor público, 28 de outubro, o Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Rio Grande do Sul (Sintergs), lança pesquisa que desmitifica a premissa. De acordo com levantamento, as atitudes antiéticas vêm de fora para dentro, 52% dos servidores de nível superior do RS já sofreram tentativa de corrupção. Resultado serviu de base para criação de cartilha com diretrizes contra a corrupção.
Realizado em convênio com a PUCRS e elaborado por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da universidade, a pesquisa foi feita com 366 associados do Sintergs, de diferentes áreas e secretarias de governo, como Saúde, Agricultura, Obras, Cultura e Planejamento, entre fevereiro e maio de 2020. Com orientação do professor Ângelo Costa, os dados fazem parte da dissertação de mestrado do psicólogo Felipe Vilanova, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS.
Dos 366 participantes,191 declararam já terem sido assediados com propostas. Destes, 49,2% receberam oferta de presentes e 33% de propina. Além disso, 61,6% acham que a oferta de corrupção no seu setor nos últimos dois anos não mudou em nada.
De acordo com o presidente do Sintergs, Antonio Augusto Medeiros, a percepção equivocada sobre a corrupção no serviço público é um dos fatores que motivaram o sindicato a participar da pesquisa acadêmica. Ainda segundo ele, ela desmitifica, com dados científicos, discursos enganosos de sucessivos governos. “A pesquisa evidenciou aquilo que há tempos já sabíamos, o engajamento dos servidores púbicos em coibir posturas antiéticas”, frisou o presidente em coletiva à imprensa realizada na manhã desta quarta-feira (28).
O orientador da pesquisa, o professor Angelo Brandelli Costa ressaltou que ao analisar a corrupção e o serviço público é preciso separar o servidor público, dos cargos comissionados e o poder público (Executivo). “A população, em geral, tem imagem contrária, mas a verdade é que os servidores públicos parecem ter menor propensão à corrupção.”
Conforme salienta o pesquisador Felipe Vilanova, “a menor disposição à corrupção entre trabalhadores do serviço público se assemelha ao verificado na Dinamarca”.
Reforma Administrativa e o papel do Executivo
Na avaliação do presidente do Sintergs, a aprovação da reforma Administrativa, com o fim da estabilidade e do concurso público, pode fazer com que aumente as práticas antiéticas e corruptas. Ele também lembrou que o ataque aos servidores e ao serviço público vem de longo tempo.
Em relação ao papel do Estado no combate à corrupção, 42,2% disseram que as medidas foram ineficientes e 22,5% indicaram que nada mudou. “Por mais que se tenha uma narrativa de combate à corrupção por parte do poder público, na prática ela não é observada, não acontece”, frisa Medeiros.
Na avaliação de Vilanova os representantes governamentais deveriam mudar o embasamento do combate à corrupção. “O ideal seria que os governos pensassem em propostas de combate à corrupção com a academia e com organizações focadas nisso, como a Transparência Internacional. Assim as soluções tenderiam a ser mais eficazes. Hoje as propostas são predominantemente pautadas em achismo e senso comum”, finaliza
Diretrizes para combater a corrupção
Na cartilha Diretrizes para combater a corrupção – Pesquisa desconstrói a narrativa da falta de ética no serviço público, os pesquisadores apresentam sugestões a partir da pesquisa e de outros estudos sobre o tema. Com base nos dados, os pesquisadores propuseram cinco diretrizes:
1 - Reduzir sensação de esgotamento nos funcionários, priorizando decisões que envolvem recursos financeiros ou licenças públicas no início do expediente;
2 - Promover ambientes de cooperação;
3 - Coibir práticas antiéticas;
4 - Garantir que cargos de liderança sejam ocupados por quem distingue práticas legais de ilegais;
5 - Garantir transparência, efetividade e segurança dos canais de denúncia.
Perfil dos participantes da pesquisa
366 pessoas, entre 28 e 86 anos, todos associados ao Sintergs
91% se declararam brancos
75,7% têm alguma crença espiritual ou religião
65,5% estão na ativa
63,4% são mulheres
49,7% são da classe C
48,1% desempenham atividade de fiscalização
85,2% não têm filiação partidária
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Edição: Katia Marko