Diz-se que confiança é base da economia, e, de fato, é. A começar pelo próprio dinheiro, que não passa de um simples papel impresso ou algumas gramas de aço que formam as moedas. Hoje em dia, até mesmo os bits e bytes que circulam na internet e nas redes das operadoras de cartões, bancos e outras instituições financeiras ganharam a confiança do público como unidade de valor. As transações econômicas só acontecem porque as pessoas confiam que determinada soma de valor está sendo transferida em troca de determinada quantia de bens ou serviços. Tudo é confiança, tudo está na mente dos agentes econômicos, não só de quem consome, mas também de quem produz e vende.
Desde a crise de 29 e das duas grandes guerras, como forma de controlar processos inflacionário e de estimular o crescimento econômico, o que foi entendido por muitos como sendo um trade off, a confiança na condução da política econômica foi se consolidando como peça chave, até que, na década de 60, surge a teoria das expectativas racionais. Seu argumento base é: se o governo fizer uma previsão de inflação e isso se confirmar, os agentes econômicos se comportarão de modo a que isso efetivamente aconteça, pois o comportamento de hoje seria calculado a partir do que se espera no futuro. Se definiu que a inflação é muito mais consequência das expectativas do que de fatos.
Se o empresário decide o preço a ser aplicado em suas vendas, também cabe a ele a decisão de investir ou não na compra de mais itens de seus fornecedores e na ampliação ou não de seu negócio, o que, no final das contas, define o crescimento do PIB. Esta escolha também seria tomada com base na expectativa do empresário em relação à compra futura de seus itens, o que já havia sido salientado por Keynes décadas antes, quando apontava que, numa situação de estagnação ou recessão, o aumento da demanda poderia ser impulsionado pelos gastos do governo. Logo, o governo também exerce um papel importante no aumento da confiança do empresariado em relação à demanda futura por seus bens e serviços, o que se reflete no crescimento.
Pois, no Brasil, a confiança do empresariado na condução da economia pelo atual governo nunca esteve tão baixa. Conforme aponta pesquisa recente da FGV, 52,1% dos empresários afirmam não confiarem na condução da política econômica pelo governo Bolsonaro. Tal dado preocupa e deve exigir uma atenção especial de Paulo Guedes e sua equipe.
* Christian Azevedo, auditor-fiscal da Receita Estadual do RS e mestre em Economia pela UFRGS
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Edição: Marcelo Ferreira