Outubro é o mês de comemoração do Dia Nacional do Livro, no dia 29. Uma data para se refletir no âmbito e no prazer da leitura. De acordo com a 5ª edição do "Retratos da Leitura no Brasil", divulgado em setembro de 2020, apenas pouco mais da metade dos brasileiros têm hábitos de leitura: 52% (ou 100,1 milhões de pessoas). O resultado é 4% menor do que o registrado em 2015, quando a porcentagem de leitores no país era de 56%. O estudo, realizado de 4 em 4 anos desde 2007 pelo Instituto Pró-Livro, é o mais completo estudo do comportamento do leitor brasileiro.
A pesquisa foi realizada em parceria com o Itaú Cultural, em 208 municípios de 26 estados, entre outubro de 2019 e janeiro de 2020. A região Norte teve a maior porcentagem de leitura no país (63%), seguida da Sul (58%), Sudeste (51%), Nordeste (48%) e Centro-Oeste (46%). A pesquisa também confirmou uma tendência de 2015, a diminuição da leitura em todos os segmentos, especialmente os de literatura. A bíblia segue sendo o livro mais lido, e até mesmo ela sofreu queda em sua leitura.
Outubro também é o mês que a Praça da Alfândega, centro de Porto Alegre, há 65 anos é ocupada por inúmeras bancas de livros, para a maior Feira do Livro a céu aberto da América Latina. Idealizada pelo jornalista Say Marques, na época diretor-secretário do Diário de Notícias, a Feira, inaugurada em 1955, foi criada por iniciativa dos livreiros e editores gaúchos, e contava, em sua primeira edição, com apenas 14 expositores.
Tendo como princípio, “se o povo não vem à livraria, vamos levar a livraria ao povo”, a Feira do Livro desse ano não ocupará seu permanente espaço, por conta da pandemia, mas terá suas janelas virtuais em direção à praça, mantendo vivo seu lema. “Os cancelamentos marcaram o meio literário neste ano, mas resolvemos enfrentar e não cancelar o evento. Decidimos criar um novo formato e fazer com que a Feira pudesse acontecer nele”, explica o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), e responsável pela Feira do Livro, Isatir Bottin Filho.
Programação prevê lives diárias
Sem o contato físico, a troca de olhares, as conferências físicas, a 66ª Feira, terá lives diárias na sua programação. “A programação ficou mais qualificada e coerente e queremos levar isso para as próximas. Ela será transmitida através de uma plataforma de streaming, a partir de uma parceria com a Fábrica do Futuro, complexo de tecnologias inovadoras, que fará a produção e transmissão do evento, a partir de sua sede, no 4º Distrito, em Porto Alegre, RS”, pontua Isatir.
“Em 2020, nossos espaços mudaram. Passamos a acompanhar a vida pelas formas de quadrados e retângulos, de janelas e telas. Criamos distâncias físicas mesmo nos aproximando emocional e coletivamente. Num ano de incertezas, a aliança com o digital possibilita novos diálogos e novos modelos para o comércio de livros. Vamos falar e ler sobre literatura e liberdade de expressão, passando por diversidade, pandemia, sustentabilidade e ciência. Janelas, lives e livros: o mundo que está ao alcance do nosso olhar”, destaca o manifesto da Feira que terá como tema cultura, diversidade, ciência e sustentabilidade.
A edição desse ano conta com mais de 100 convidados, nacionais e internacionais. E acontecerá entre os dias 30 de outubro e 15 de novembro. E pela primeira fez em sua história, como reconhecimento pela sua trajetória, o primeiro patrono negro, Jeferson Tenório. O Brasil de Fato RS conversou com os organizadores da Feira, assim como, fez entrevistas com o patrono a ser divulgada na quinta-feira (29), e a escritora chilena Isabel Allende, na abertura oficial da Feira, na sexta-feira (30).
As estátuas de Drummond e Quintana esse ano não terão a companhia dos livros, livreiros e leitores / Diego Lopes/Feira do Livro Porto Alegre
Brasil de Fato RS - O tema da feira este ano é ‘Janelas abertas para a praça’. No ano do seu 66° aniversário, pela primeira vez em sua história a Feira não será presencial. Gostaria que o senhor nos falasse desse modelo virtual. Como se dará a feira esse ano, seu funcionamento? Expectativas, dificuldades?
Isatir Bottin Filho - A Feira do Livro de Porto Alegre é um Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial da cidade e Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Sul. Este ano, ganha um ambiente virtual, em um formato inovador, conectado aos novos tempos. Esperamos atingir fortemente o público com a qualidade nos debates pensados através de uma curadoria que trata de temas importantes e atuais. Teremos uma abrangência de público infinitamente maior, queremos fortalecer ainda mais a relação de confiança com os leitores e estimular a cadeia do livro a atuar mais fortemente no comércio eletrônico. Esperamos posicionar nosso evento pela sua excelência como uma feira de livros com forte incentivo à leitura, seguindo nosso propósito na formação de leitores e na promoção da bibliodiversidade. A ideia é perenizar todo o conteúdo do evento como legado para as próximas edições.
BdFRS - O formato online também impactou a programação do evento diminuindo as atividades, palestras da feira. Gostaria que falasse como elas serão esse ano e que outros impactos esse modelo de feira pode trazer?
Isatir - Teremos lives diárias tanto na programação “Janelas abertas para a Praça” como na programação Infantil e Juvenil. A Feira segue gratuita e agora estará acessível para um número maior de leitores, de todos os lugares. A programação ficou mais qualificada e coerente e queremos levar isso para as próximas. Ela será transmitida através de uma plataforma de streaming, a partir de uma parceria com a Fábrica do Futuro, complexo de tecnologias inovadoras, que fará a produção e transmissão do evento, a partir de sua sede, no 4º Distrito, em Porto Alegre, RS.
A cultura entra na necessidade de valorização e de liberdade de expressão. Ciência está relacionada à pandemia e a questões de saúde mental e pesquisa. A sustentabilidade reflete a nossa relação com o planeta. E a diversidade, no contexto de um senso urgente e verdadeiro de coletividade, é mais importante do que nunca. Lu Thomé
BdFRS - Sem a presença das estantes, como será a relação dos livreiros, as vendas? Há algum convênio, com os correios, por exemplo, para o envio das compras?
Tito Montenegro, da diretoria e comissão organizadora da Feira - Nessa versão totalmente on-line da Feira do Livro as bancas serão substituídas pelos sites dos livreiros, distribuidores e editores. Haverá o site principal do evento (www.feiradolivropoa.com.br), onde estarão destacadas as principais ofertas dos expositores participantes. Além disso, há uma página específica que reúne os links para todas as bancas (ou sites) participantes. Assim, como na versão física, o comprador poderá “fuçar” na banca virtual atrás dos lançamentos ou das melhores promoções. Em relação às entregas, cada livreiro oferecerá as suas opções. Claro que os Correios são o padrão, todos os vendedores oferecem, mas haverá opções como motoboy, transportadoras ou até entrega por bike. Além disso, para as livrarias que desejarem, haverá a possibilidade de elas oferecerem ao leitor a retirada na própria loja.
BdFRS - Gostaria que nos falasse também do tema deste ano da feira, cultura, diversidade, ciência e sustentabilidade. Como eles serão trabalhados e a importância de trazê-los como tema para o contexto atual?
Lu Thomé, curadora da Feira - Pela primeira a vez a Feira do Livro está realizando uma curadoria para relacionar, direta e indiretamente, todas as atividades da programação. No cenário de 2020, com a pandemia, o isolamento social e a conexão das pessoas através de "janelas" digitais, pensamos em discutir temas que refletissem essa vivência global. Mantendo, ao mesmo tempo, a conexão com os livros e os escritores. A cultura entra na necessidade de valorização e de liberdade de expressão. Ciência está relacionada à pandemia e a questões de saúde mental e pesquisa. A sustentabilidade reflete a nossa relação com o planeta. E a diversidade, no contexto de um senso urgente e verdadeiro de coletividade, é mais importante do que nunca. Assim, convidamos escritores com perfis diferentes, cujas obras abordam os temas, para também atrair a atenção do público leitor mais diverso possível. Através da internet: são estas todas as janelas que estamos ansiosos para que se abram na direção da nossa "Praça da Alfândega" virtual.
Confira a programação completa.
Edição: Katia Marko