O corte de um guapuruvu provocou uma mobilização relâmpago de ambientalistas, biólogos e moradores, na tarde deste sábado, na rua 24 de Outubro, em Porto Alegre. Árvore de grande porte nativa da Mata Atlântica, o guapuruvu pode chegar a 30 metros de altura e 80 centímetros de diâmetro. A árvore ameaçada de corte está localizada na rua 24 de outubro, 997, na área interna de um condomínio, em um bairro de classe media alta da capital gaúcha. A sua supressão foi solicitada pelo condomínio em função da queda de um galho de grande porte da árvore, no dia 8 de novembro de 2019, sobre a rede elétrica e um veículo.
A empresa contratada para fazer a supressão chegou a iniciar a poda da árvore, cortando todos os seus galhos e deixando praticamente só o tronco em pé. O trabalho de remoção de toda a árvore foi interrompido quando um grupo de biólogos e ambientalistas chegou ao local e questionou a legalidade do corte que estava sendo efetuado. Os funcionários da empresa alegaram que tinham autorização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre (Smam) para efetuar o corte e que havia um laudo declarando que a árvore estaria necrosada. No entanto, eles não estavam de posse desses documentos. A Brigada Militar foi acionada e as pessoas contrárias ao corte disseram que não sairiam da local enquanto esses documentos não fossem apresentados.
Sem a presença de nenhum representante da Smam no local e com o impasse criado, os funcionários da empresa que efetuaria o corte resolveram deixar o local, afirmando que voltariam no dia seguinte. Um deles, antes de deixar o local, admitiu que a árvore não estava necrosada e que o problema era mesmo o risco de queda de galhos sobre um automóvel, que poderia também colocar em risco a vida de pessoas.
Biólogos presentes ao local contestaram o diagnóstico de que a árvore estaria necrosada, afirmando que ela não apresentava nenhum sinal disso, pelo contrário. “Vimos uma série de irregularidades hoje aqui. Eles não apresentaram nem o laudo, nem a autorização, não havia placas de aviso da operação nem o biólogo responsável pela execução do corte. Além disso, constatamos que essa árvore apresenta um bom estado vital. Se caíram alguns galhos, deveria ter sido feita uma poda localizada, mas não a supressão total da árvore. Isso é um absurdo e um crime que vem ocorrendo em Porto Alegre”, afirmou o biólogo Paulo Brack, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá). Brack anunciou que o laudo da Smam será questionado judicialmente e exigido um contra-laudo, pois a árvore não apresenta nenhum indício de estar necrosada.
“Infelizmente, essa situação vem ocorrendo com frequência em Porto Alegre. A Smam está fazendo vista grossa para podas e supressão de árvores. Essa é uma política da prefeitura atual. Centenas de árvores estão sendo cortadas sem os requisitos mínimos para isso”, protestou ainda o biólogo. “O guapuruvu é uma árvore que tem uma beleza paisagística fantástica. Nesta época elas começam a florescer e as flores do guapuruvu, no início de novembro, marcam a cidade”, acrescentou Paulo Brack (ver vídeo abaixo).
Paulo Brack, biólogo e professor da UFRGS (Vídeo: Ane Nunes)
A bióloga Hosana Piccardi, que também participou da mobilização para evitar o corte, também questionou o laudo que justificaria a supressão do guapuruvu, dizendo que árvore não apresenta sinais de estar necrosada. “Porto Alegre é uma zona de tensão ecológica de dois biomas, Pampa e Mata Atlântica, e o guapuruvu é uma espécie nativa da Mata Atlântica brasileira”, assinalou Piccardi que criticou o procedimento de autorizar a supressão de uma árvore de grande porte como essa sem fundamentação técnica e nem transparência. “Seguiremos mobilizados, pois sabemos que eles vão tentar cortar a árvore”, anunciou.
Edição: Sul 21