Na última quarta-feira (14), o Movimento em Defesa da Democracia, Educação Pública e Direitos Sociais, através da arrecadação solidária junto a diversas organizações, entregou 173 cestas básicas e 301 máscaras às famílias da Reserva Indígena Kaingang Ligeiro, em Charrua-RS. A ação conjunta partiu da iniciativa e articulação de professores do curso de Educação do Campo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – campus Erechim, através de seus educandos, que somam 18 indígenas desta comunidade.
De acordo com a professora Naira Mohr, um dos fatores que motivaram a mobilização foi uma notícia publicada no Jornal Brasil de Fato RS, em setembro, que trazia o dado de 15 óbitos de indígenas no estado, sendo 11 da Reserva Ligeiro. “Isso nos chocou, enquanto colegiado do curso, considerando ainda a relação com os estudantes de Educação do Campo. Foi então que entramos em contato com estes estudantes e com o cacique, que nos relataram uma situação muito complexa, desde a dificuldade para realização dos rituais de sepultamento, até a falta de materiais de higiene para frear a contaminação e a crise alimentar”, pontua.
Mohr conta que, a partir disso, buscou-se ajuda junto ao Movimento em Defesa da Democracia, Educação Pública e Direitos Sociais (MDDEPDS), que já vem desenvolvendo ações de solidariedade, o qual acolheu a proposta. O Movimento é composto por 29 entidades atuantes na região do Alto Uruguai, entre instituições públicas de ensino, entidades religiosas e sindicais, movimentos sociais, cooperativas e sociedade civil organizada. São elas: UERGS, IFRS, UFFS, Cresol, Creral, Cecafes, Cooperfamília, Cooperativa Nossa Terra, Agricoop, Atapers, Sutraf-AU, CUT, Sindicato dos Municipários, Sindicato da Alimentação, Sindicato dos Comerciários, Sindicato dos Metalúrgicos, CPERS, MAB, Movimento Nacional de Direitos Humanos, Pastorais Sociais da Diocese de Erechim, Pastoral da Criança, Pastoral da Juventude, Cáritas, Levante Popular da Juventude, FEAB, Obra Santa Marta, CAPA, JPT e UJS.
Segundo o Cacique Marciano Palhano, residem na reserva cerca de 400 famílias, que vem enfrentando desafios para garantir a sobrevivência. “A comunidade está fechada e a maioria das pessoas que trabalhavam fora estão desempregadas, incluindo as famílias que dependiam da venda de artesanatos.”
A recepção do povo Kaingang durante as entregas foi acalorada e de bastante agradecimento ao Movimento pela sua disposição em contribuir em um contexto tão difícil para a comunidade. Segundo o Cacique, “algumas famílias estavam precisando encarecidamente de alimentos e estas cestas básicas são de suma importância para garantir a alimentação dessas pessoas”. Marciano e os estudantes da Educação do Campo agradeceram ao grupo e se colocaram a disposição para contribuir nas lutas sociais.
As cestas foram confeccionadas pelas cooperativas da agricultura familiar (Cecafes, Nossa Terra, Cooperfamília) com o esforço conjunto do Levante Popular da Juventude – Erechim e Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA). Para Rhuane Salles, do Levante, “estamos vivendo um contexto de grandes adversidades, em que o governo genocida de Bolsonaro coloca na linha de frente indígenas, quilombolas. Nós temos a compreensão que este é um momento de luta e resistência, pois não podemos soltar a mão de ninguém. Nós, como MDDEPDS, nos colocamos em apoio a comunidade e estendemos os agradecimentos aos agricultores e agricultoras familiares da região que produziram os alimentos diversos e de qualidade para as cestas”.
A coordenadora do CAPA Erechim, Ingrid Margarete Giesel, afirmou que ficaram felizes que a entrega das cestas básicas tenha sido realizada nesta semana, em que comemoram o Dia Mundial da Alimentação, com o tema “Cultivar, Alimentar, Preservar. Juntos. As nossas ações são o nosso futuro”. “Nosso objetivo é chamar a atenção para a problemática da fome, pobreza e desnutrição no mundo e a necessidade da produção de alimentos saudáveis, para ajudar as pessoas mais vulneráveis a se recuperar e tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis, fortes e resilientes. Queremos Comida Boa na Mesa para todas as pessoas e Agroecologia em Defesa da Vida.”
A valorosa diversidade de alimentos presentes nas cestas básicas - dentre os quais mandioca, laranja e açúcar mascavo agroecológicos, e ainda feijão, arroz, farinha de milho, farinha de trigo, banha - produzidos pelos camponeses/as da região do Alto Uruguai gaúcho, trouxe uma reflexão importante aos kaingangs, de que "estamos juntos na luta pela soberania dos povos através do nosso alimento".
Edição: Katia Marko