Avanços do campo democrático, popular e de esquerda mostrarão que há luz no fim do túnel
Participo de eleições diretamente há muito tempo. A primeira foi em 1978, morando na Lomba do Pinheiro como frade franciscano, periferia de Porto Alegre, apoiando um padre redentorista candidato do MDB autêntico, tempos de ditadura militar. Fui candidato pelo Partido dos Trabalhadores em 1982/86/1990/94/98/2002, sendo eleito deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul em 1986. Fui Coordenador Geral da Campanha Lula gaúcha em 1989. Ajudei a coordenar inúmeras campanhas, as últimas na minha terra natal, Venâncio Aires, em tempos de governos Lula e Dilma. Estive na Coordenação gaúcha da Campanha Haddad-Manuela em 2018.
A eleição de 2020 é a mais estranha e difícil de todas que participei. A 30 dias de 15 de novembro, há mil perguntas e incógnitas. Alguém sabe, com alguma segurança, quem vai ser a/o prefeita/o de Porto Alegre, ou quem vai para o segundo turno, em São Paulo, Rio, Recife, ou qualquer cidade ou município? Aparecem pesquisas de todos os tipos: dá para confiar nelas?
Há mil elementos imponderáveis: a pandemia e a (quase) impossibilidade de campanhas presenciais e de mobilizações de massa na rua; a possibilidade de muitas abstenções neste contexto e o crescimento do voto branco e nulo; a compra de votos, com seus muitos sinais. Dúvidas: as fake news da última eleição presidencial vão aparecer de novo com a mesma intensidade? Qual o grau de influência da propaganda de rádio e televisão nas/os eleitoras/es neste contexto? E as redes sociais, as lives e toda parafernália da internet: qual o grau de vantagem das candidaturas no seu uso competente e massivo?
Até agora é difícil avaliar qual a influência de Lula e de Bolsonaro e de outras lideranças numa eleição com estas características. E a influência de igrejas, especialmente as neopentecostais, muito importantes na última eleição presidencial, dar-se-á em que nível?
A esquerda e a direita estão divididas em muitos lugares. Em Porto Alegre, os candidatos são 13, por exemplo, de todos os espectros políticos e ideológicos, quadro impensável em outros tempos. No provável segundo turno, é quase impossível saber quem vai se aliar com quem, ou como o eleitorado vai avaliar esta situação inédita, tanto no primeiro quanto no segundo turno.
Há um descrédito geral da política, que perdeu espaço como debate de ideias, programas e futuro. Para muita gente, os políticos são todos ladrões. Ou a política é só para se aproveitar pessoalmente, sem compromisso com o coletivo e a comunidade.
Há ainda o ódio e a intolerância reinantes, que transforma adversários políticos em inimigos políticos e até pessoais, onde o necessário diálogo torna-se praticamente impossível.
Vem a pergunta angustiante, mas fundamental. Qual o grau de influência desta eleição para o futuro do país, para a democracia, em tempos em que a fome, a miséria e o desemprego estão crescentes? Que perspectivas se abrem para um projeto de Nação democrática e soberana?
Para o campo democrático-popular, embora não seja decisiva, como nenhuma eleição o é, a eleição de novembro é muito importante. Abrem-se o espaço e a oportunidade de recuperar o sentido da boa política, fazer debates e proposições programáticas, como há um bom tempo pouco se vê, de defender os direitos ameaçados de trabalhadoras e trabalhadores, defender a democracia e a soberania nacional. Hora também de (re)abrir o diálogo entre diferentes atores políticos e sociais, assumir compromissos comuns, voltar a pensar e propor, de forma unificada, um projeto estratégico de país e nação, o que não é pouco para a conjuntura e o momento histórico.
Qualquer mínimo arranhão no bloco de poder dominante – bolsonarismo, grande capital, latifúndio, Rede Globo, Sistema de Justiça – é importante para o que virá. Qualquer derrota da atual política hegemônica e seus defensores adquire um tom e significado especiais, numa conjuntura política, econômica, social, cultural, ambiental, cultural absolutamente complexa e difícil para o campo democrático-popular. É urgente derrotar a direita e o conservadorismo.
É preciso, pois, arregaçar as mangas nesta reta final da campanha, com todos os cuidados sanitários. Todas e todos, sem exceção, os que acreditamos na política como construção do bem comum e de uma política transformadora, estamos chamadas-os/convocadas-os a nos envolver do jeito possível e abraçar a velha e boa militância.
Ninguém pode ficar fora, ou à margem, ou assistindo de camarote, nos 30 dias que faltam para 15 de novembro. Escolher a candidata ou candidato do campo democrático-popular mais próximo e com melhor discurso, e conversar, e conscientizar, e buscar o voto consciente. Como nos velhos e bons tempos, atirar-se na campanha, usar as redes sociais, com dedicação e coragem. Explicar para eleitoras/es que não está em jogo apenas a/o candidata/o a ou b, mas muito mais. Qualquer enfraquecimento do bloco de poder dominante será importante para o amanhã e para (re)alimentar a esperança. E no segundo turno, onde houver, unificar o campo democrático-popular.
Avanços do campo democrático, popular e de esquerda em 15 de novembro e 13 de dezembro mostrarão que há luz no fim do túnel. E que o povo brasileiro, aos poucos está saindo dos torpores da direita fascista, e está voltando a sonhar.
Edição: Katia Marko