O professor deve ter amor. Amor a tudo que se move ou não. Amor à vida, ao ensino, aos desafios
Para mim, um professor da atualidade deve antes de tudo ser leve. A leveza é a arte de transitar neste mundo conturbado sem contribuir para piorar e evitando de gastar energia em atritos, em forçar a barra, em entrar no jogo. Ser leve é pairar sobre o que está dado sem participar do desgaste dos apaixonados e aproveitando para investir energia em ver o todo.
A segunda característica é a visão do todo, a busca de encontrar o que há de bom em todas as posições sem se fechar em nenhuma delas para que ao final possa construir uma ideia que una as qualidades das antagônicas ou até uma nova que não tenha nada com elas. Ter a visão equilibrada do todo é a base para poder realmente criar. Não estar obrigado a inovar, nem a copiar, mas buscar a solução harmoniosa.
Em terceiro, o desapego. O professor deve fazer de toda sua experiência e conhecimento apenas o passado. Nunca estar apegado ao que aprendeu para não perder as novas possibilidades que se apresentam constantemente. De todas as prisões, talvez a pior, seja o que achamos que sabemos. Tolhe a liberdade e dificulta a criação, sem falar que o apego é grande fonte de sofrimento e inação.
Entendo que o professor deve ser curioso, buscar sempre vivenciar e refletir sobre o novo. Não porque precisemos descobrir verdades e sim porque o processo da busca é, quem sabe, a parte mais essencial da vida. Os fins não valem nada diante dos meios. Vivemos de meios e não de fins. Nossa vida é processo, é presente. O futuro e o passado são ficções na medida em que os estamos reelaborando constantemente. Se “erramos” ou “acertamos” na chegada é menos importante, o que interessa é a longa e divertida jornada.
Ser democrático, gostar de lidar com opiniões contrárias e não supervalorizar as suas próprias. Não ensinar, criar ambientes propícios a vivências significativas e transformadoras. Saber de suas próprias limitações e usá-las para ajudar os outros a superá-las mais facilmente.
O professor deve ter humor, pois de todas as formas de enfrentar as idiossincrasias da vida, provavelmente o humor é a mais suave. Estamos sendo constantemente desafiados e algumas vezes agredidos por uma realidade cada dia mais complexa que requer que não levemos as coisas tão a sério, não por desrespeito, mas porque existe uma forma superior de olhar a própria vida, relativizando-a através do humor. Sem dúvida, a mais divina das características.
Finalmente, o professor deve ter amor. Amor a tudo que se move ou não. Amor à vida, ao ensino (compartilhar), aos desafios, às pessoas, ao desconhecido e ao dominado. Sem amor nada vale. Amar é reconhecer o outro como legítimo como diz Maturana. Amor que te arranca da cama de manhã e te faz dormir. Que supera todas as dificuldades sem contabilizá-las jamais.
Quais os desafios que a sociedade coloca ao professor
Nossa sociedade, que está bastante doente, transfere ao professor cada vez mais responsabilidades. Muitos querem reduzi-las, mas prefiro dividi-las, pois não cabe só ao professor esta responsabilidade, mas certamente ele é ou deveria ser um dos mais habilitados para assumi-las.
Problemas ambientais, sociais e econômicos que se manifestam através de drogas, violência, falta de limites, ausência de família estruturada, valores supérfluos, doenças mentais, físicas e espirituais que estão muito acima e fora do poder dos professores, mas, ainda assim, não consigo identificar ninguém na sociedade, afora pais, que possa contribuir mais para a construção de uma vida equilibrada de seus alunos.
Esta é a sociedade que temos. Só podemos sonhar, construir, ensinar dentro desta realidade. É sobre ela que podemos construir uma nova. O professor é central nessa construção, por ser peça chave no desenvolvimento do educando, não pelo que ensina, mas pelo exemplo que dá e pela possibilidade de oportunizar aos estudantes vivências que transformam.
Edição: Katia Marko