Papa inova mais uma vez com nova Encíclica, assinada dia 3 de outubro, dia da morte de São Francisco
Frases de amigas e amigos em redes sociais nos últimos dias, sobre a nova Encíclica do Papa Francisco, ‘FRATELLI TUTTI - Somos todos Irmãos!’: “Extraordinária Encíclica do Papa Francisco, lançada no dia de São Francisco. De uma lucidez humana e política impressionante. Este Papa é talvez a figura política mais saliente hoje no mundo.” “Comentário não é meu, mas posto, especialmente em homenagem aos cristãos católicos do grupo.” “Não sou cristão nem católico, mas considero o Papa Francisco o maior estadista do momento.” “Também acho.” “Tô na mesma.”
Argentino, o então Cardeal Bergoglio era amigo do Cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, franciscano, que soprou-lhe ao ouvido ao ser eleito Papa: ‘E não se esqueça dos pobres’. Tocado pela lembrança, sugestão e pedido, surpreendentes, para quem conhece as diferenças internas da Igreja católica, ele um jesuíta, escolhe o nome Francisco. O que era impensável na histórica relação entre jesuítas e franciscanos, diferenças de pensamento e formas de ver o mundo e de constituir uma Ordem religiosa, São Francisco de Assis e Santo Inácio de Loyola.
E o Papa Francisco continuou inovando, com a Encíclica ‘Laudato Sì’, celebrada no mundo inteiro e por todas as correntes progressistas de pensamento, ligadas à igreja católica ou não, propondo a ecologia integral. Agora, ele inova mais uma vez com nova Encíclica, assinada dia 3 de outubro, dia da morte de São Francisco, em Assis, Itália, com o sugestivo título ‘FRATELLI TUTTI – Somos todos irmãos!’, sobre a fraternidade e a amizade social.
Basta ler algumas frases, entre tantas que poderiam ser escolhidas da FRATELLI TUTTI.
“A especulação financeira com o lucro fácil como objetivo fundamental continua provocando estragos. O vírus do individualismo radical é o vírus mais difícil de derrotar.
A fragilidade dos sistemas mundiais diante das pandemias evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado.”
É uma denúncia forte do sistema capitalista e do mercado.
“Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos. Mas precisamos de nos constituirmos como um ‘nós’ que habita a casa comum.”
A escuta, o diálogo, a solidariedade, o cuidado com a Casa Comum, já defendidos na ‘Laudato Sì’, continuam no centro das preocupações do Papa.
“É possível aceitar o desafio de sonhar e pensar em outra humanidade. É possível ansiar por um planeta que garanta terra, abrigo e trabalho para todos.”
A Sexta Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB até 2022 e sintonizada com o Papa, convoca toda sociedade em torno do tema e lema ‘Mutirão pela vida – terra, trabalho e teto’.
“Construção planetária de uma verdadeira cultura do encontro, ’que supere as dialéticas que colocam um contra o outro’. Isto implica incluir as periferias. Quem vive nelas tem outro ponto de vista, vê aspectos da realidade que não se descobrem a partir dos centros de poder onde tomam decisões mais determinantes.
O mundo de hoje é principalmente um mundo surdo.”
O Papa Francisco cita Vinícius de Moraes e o seu Samba da Bênção: ‘A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida’.
“A esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna. Caminhemos na esperança!”
Faz lembrar Paulo Freire, sua dialogicidade, amorosidade, sua Pedagogia do Oprimido e da Esperança. Paulo Freire, de quem está sendo festejado o centenário de nascimento, até 19 de setembro de 2021, e seu ESPERANÇAR, no atual momento histórico e conjuntura.
Escrevi um artigo em fevereiro de 2013, e o relembro com alegria, antes da eleição do Papa Francisco: ‘Quero um Papa do Sul’. Traduzia um sonho, e acabou sendo profético.
“Quero um Papa no Sul para olhar para os pobres e trabalhadoras/es e dizer: Vinde a mim pequeninos, porque de vocês é o Reino dos céus.
Quero um Papa do Sul para olhar os continentes historicamente subjugados, inclusive pela igreja católica, tratados apenas como terras a serem conquistadas e catequizadas e não como espaços de liberdade e construção de povos e nações.
Quero um Papa do Sul para olhar indígenas, negras/os, quilombolas, catadoras/es de materiais recicláveis, população em situação de rua e todas/os as/os oprimidas/os como sujeitos de direitos.
Quero um Papa do Sul para olhar com outros olhos, tal como Jesus olhou e abençoou a samaritana, as mulheres, os homossexuais, todas/os aquelas/es jogados/as à margem.
Quero um Papa do Sul parra que o cristianismo retorne às raízes das comunidades dos primeiros cristãos, onde a Assembleia dos fiéis tinha um só coração e uma só alma, e ninguém considerava como seu o que possuía e colocava em comum tudo o que tinha.
Quero um Papa do Sul que veja e trate o sexo como vida, prazer e fonte de juventude e alegria.
Quero um Papa do Sul capaz de dialogar com todas as igrejas e religiões, de judeus e muçulmanos, evangélicos e de religiões de matriz africana, budistas, espíritas e também os ateus.
Quero um Papa do Sul compreendendo os novos ventos que sopram na América Latina e no Brasil, os movimentos sociais e governos democrático-populares da região.
Quero um Papa do Sul que seja humano, não um quase deus longe do povo, da vida e do testemunho dos fiéis e da realidade do povo vivida por cristãos e comunidades.
Estou querendo muito? Um dia, se não agora, irá acontecer. E em algum tempo da História, será uma mulher.”
Eu não quis demais. Foi eleito um Papa do Sul. Deus me atendeu, dando ao mundo o Papa Francisco e suas LAUDATO SÌ e agora a FRATELLI TUTTI. Um Papa do Sul, pela primeira vez na história, para o bem do futuro da humanidade.
Edição: Katia Marko