Rio Grande do Sul

Eleições 2020

A Cidade que Queremos ouve Ary Vanazzi e Ary Moura

PT e PDT concorrerão juntos pela reeleição na cidade de São Leopoldo, com apoio do PSB, PTB, Republicanos e PCdoB

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Confira os principais temas debatidos e assista à entrevista completa - Reprodução

São Leopoldo, localizada no Vale dos Sinos, região Metropolitana de Porto Alegre, além de ter um histórico de colonização alemã, é uma cidade com destaque no campo da metalurgia e da tecnologia. Na cidade também vive a comunidade indígena da aldeia Kaingang Por Fi Gá, localizada no bairro Feitoria. 

A cidade leopoldense tem cerca de 238 mil habitantes. Destes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 64.700 estão ocupados em empregos formais ou não formais. Tem um PIB per capita de R$ 33.905,58. A taxa de escolarização entre crianças de 6 a 14 anos é de 96,8%. Tem 69 escolas de ensino fundamentas, 22 de ensino médio e conta com um hospital público e um presídio. 

A cidade é atualmente administrada por Ary Vanazzi (PT), que tentará a reeleição com o intuito de continuar o projeto, tento como vice seu xará, Ary Moura (PDT). A candidatura também tem o apoio dos partidos PSB, PTB, Republicanos e PCdoB. 

No próximo dia 15 disputaram o pleito com Professor Célio e Fábio Trindade (PSOL), como vice (PSOL), elegado Heliomar (DEM) e Ivo Leuck (PRTB) e o Professor Nado (Cidadania) e Arthur Schmidt (MDB)

Ary Vanazzi 

Ary José Vanazzi, 59 anos, nasceu em Coronel Freitas, Santa Catarina. Formado em História, vivem em São Leopoldo desde 1983, onde iniciou o Movimento Pró-Dique, pela construção do sistema de contenção às cheias do Rio dos Sinos. Foi eleito vereador em 1988 e reeleito em 1992. No ano de 2004, elegeu-se prefeito de São Leopoldo e foi reeleito em 2008. No ano de 2016, elegeu-se para o terceiro mandato e agora tenta a reeleição novamente. 

“Queremos uma cidade de inclusão social, de distribuição de renda, diminuição da miséria. Esse debate que estamos fazendo aqui, esse é o acordo político que fizemos. Nossos adversários querem privatizar. Somos uma prefeitura de resistência na grande Porto Alegre”, destaca. 

Ary Moura 

Candidato a vice de Vanazzi, José Ary Moura tem 40 anos de PDT, nunca mudou de partido. Advogado por formação, nasceu em Foz do Iguaçu e reside em São Leopoldo desde o início da década de 1970. É fundador do PDT nacional, do Rio Grande do Sul e de São Leopoldo. Foi coordenador da campanha de Leonel Brizola e Alceu Collares, no Vale do Sinos. Atuou também como assessor do governador Alceu Collares no Palácio Piratini e nos, últimos quatro anos, atuou como vereador do município. 

“Não somos classistas. Temos consciência daquilo que queremos. A gente sabe quem precisa, a gente sabe quem é o explorado, a gente sabe quem vive mal. Queremos o desenvolvimento da cidade. Fizemos essa aliança para o bem da nossa cidade para que a gente possa desenvolver mais a nossa economia, a melhoria de cada um”, aponta. 

Confira a seguir trechos do debate da série A Cidade que Queremos:

Mobilidade Urbana 

Ary Moura - Esse problema hoje, em parte, foi sanado. Mas foi muita dificuldade recompor a cidade principalmente na questão da mobilidade. Já tivemos várias ações no município, já estamos finalizando os quatro anos, eu no Legislativo e o Vanazzi no Executivo, e ele então com os projetos que foram apresentados, nesse momento conseguimos acertar a casa. Mas não significa que tudo está resolvido. Essa questão toda vamos ter que continuar a melhorar. 

Ary Vanazzi - As nossas cidades tiveram impulso na mobilidade urbana nos governos de Lula e Dilma extraordinário. O governo federal construiu grandes programas, PACs. Além dos PACs continha uma política habitacional muito importante, e construiu a política de saneamento. Os municípios conseguiram captar muitos recursos e esses recursos nos levaram a condições de recuperar as cidades não só do ponto de vista das vias urbanas, com asfalto, calçamento, mas também o tema de saneamento, abastecimento de água, o tema da modernização das frotas do transporte coletivo. Houve uma revolução no período desses 12, 13 anos. 

Para se ter um ideia, os recursos que eu estou investindo na cidade hoje são captações de recursos feitos no governo Lula e no governo Dilma, não foram novos recursos do governo Temer ou do governo Bolsonaro. Esses recursos, esses programas não existem mais no Brasil, acabaram tudo. Acabou a política de saneamento, acabou a política de moradia popular, acabou a política de infraestrutura com recurso do governo. 

Os municípios perderam muito a capacidade de investimento e de qualificar a vida do nosso povo. Hoje nossa receita tem aumentado e tem nos ajudado a melhorar a mobilidade urbana, mas há muito do que fazer ainda, do que planejar, do que executar. Temos ainda cerca de 20% da cidade que não tem infraestrutura urbana. Estamos fazendo hoje em torno de 20% nesse mandato atual de infraestrutura urbana, que é calçamento, saneamento, ligação de água. E vai faltar 20% que vamos construir no próximo governo já com projeto articulado. 

Transporte Público 

Vanazzi - O tema transporte público não é uma pauta que se esgota no município. Nós temos aqui um transporte público de qualidade. Mas o transporte público a nível nacional está falido, não há sustentabilidade a partir da renda, da receita do próprio transporte público. É um grande debate nacional. O transporte público tem tido um acréscimo muito grande do ponto de vista dos insumos no último período e já vinha em uma crise profunda. Além disso surgiram novos elementos na economia no ponto de vista da mobilidade urbana que são os aplicativos. Houve também no período passado, a partir da melhoria da renda, um setor significativo da população que adquiriu seus automóveis. 

Hoje o transporte público vive uma crise estrutural, de financiamento, e não há como o trabalhador pagar o transporte coletivo. Vivemos aqui na grande Porto Alegre situações dramáticas. O Trensurb que tinha um subsídio significativo foi sendo retirado. O que nós precisamos resolver no transporte coletivo é que ele precisa ser subsidiado. 

Trabalho e Renda

Moura - O governo federal atual acabou com as políticas de incentivo à construção civil, isso é fundamental. Se houvesse o investimento da casa própria para o trabalhador, renda para o pessoal de até um salário mínimo e meio, algo assim que agregasse esse emaranhado de desempregados, esse emaranhado de pessoas que tem dificuldade de moradia... Temos aqui em São Leopoldo o polo tecnológico que está abrigando muita gente, estamos fazendo isso para que gere renda e trabalho para esse povo. A construção civil seria um caminho interessante para que a gente saísse dessa circunstância. 

Vanazzi - O que temos de certeza é que a crise econômica vai se aprofundar. Temos certeza que com o fim do programa emergencial, que era R$ 600,00 e agora foi para R$300,00 até dezembro, vamos ter o aprofundamento assustador da fome e da miséria absoluta no nosso país. Estamos vivendo isso aqui na cidade, enxergando a evolução desse processo dramático.   

Fizemos aqui um debate muito importante, a gente juntou a universidade, a Unisinos, a Fundação Getúlio Vargas, montamos um grupo estratégico que está pensando a economia pós-pandemia, estamos fazendo há quatro meses. O primeiro passo foi fazer o diagnóstico da nossa situação econômica e as perspectivas que o futuro apresenta pós-pandemia. Identificamos questões estratégicas fundamentais, a primeira delas é que o tema tecnologia vai evoluir muito, no mundo, no Brasil e na nossa cidade. Nós com uma vantagem, nós temos um dos maiores parques tecnológicos da América Latina. A tecnologia é um elemento estratégico na recuperação econômica do mundo. 

A nossa receita nesses quatro anos cresceu 30%. Nesse ano, nessa crise profunda a nossa receita cresceu 12%. Passamos da 12ª cidade na distribuição do ICMS para 06ª cidade. Nos próximos quatro, cinco anos vamos ultrapassar Novo Hamburgo na questão arrecadatória na questão orçamentária, por uma decisão tomada no passado, reafirmada agora durante a pandemia e que agora estamos colhendo os frutos, como por exemplo, aumento de empresas. Foi muito duro chegar até aqui, então não podemos correr o risco de entregar o poder público depois de todo esse sacrifício para aventureiros. 

No próximo governo vamos criar o cartão de crédito que terá recurso do município para alimentação. Vamos articular um edital público credenciando os mercados dos bairros que vender o produto mais barato. A família vai comprar no bairro para não precisar comprar no atacado, vamos articular a economia dos bairros, gerando emprego, mantendo os mercados abertos e vamos distribuir recurso público para matar a fome da nossa população. Estamos buscando junto ao Banrisul uma linha de crédito.

Construímos aqui um programa de economia solidária, que é o Vem para Praça, qualificamos 90 praças. Em 22 delas, colocamos wi-fi de graça. E nessas praças temos uma agenda cultural, uma agenda de economia solidária, uma agenda de saúde e uma agenda de serviço. Criamos um espaço de comercialização e convivência que foi um sucesso, durante a pandemia tivemos que suspender. Isso vai ser um elemento muito importante também para fazer a renda da cidade, circular na cidade. 

Agricultura Familiar

Vanazzi - Temos aqui em São Leopoldo cerca de 56 pequenos produtores, que têm na cidade o seu espaço de comercialização. Nós organizamos esse setor, garantimos o espaço para eles comercializarem. Quando chegamos na prefeitura tínhamos 22% da merenda escolar oriunda da agricultura familiar. Hoje, quando encerramos as aulas presenciais, chegamos a 65%. Nosso projeto estratégico era chegar a 100%, porque é uma alimentação de qualidade, é mais barato e ajuda essa estrutura da agricultura familiar. 

Nossa ideia é ter 100% da alimentação que se consome no poder público, nas escolas, entidades conveniadas, nos serviços da cidade, com produto da agricultura familiar. 

Saúde 

Vanazzi - Conseguimos construir uma política de saúde com técnicos, especialistas na área da saúde. Por exemplo, hoje, quem administra o hospital público é uma mulher formada em gestão hospitalar, quem administra a Secretaria da Saúde é um secretário que é formado em gestão pública de saúde. Constituímos um debate e uma estrutura com técnicos que olham para a política mas também olha para gestão pública da saúde. 

O Hospital Centenário, por exemplo, hoje na pandemia virou referência nacional a partir da assessoria do Sírio Libanês, que ajuda fazer a gestão, a partir das intervenções feitas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Fundação Getúlio Vargas, a partir da Unisinos. Mudou profundamente mas está longe ainda do hospital que nós sonhamos. 

Tem gente na disputa que quer acabar com o hospital 100% SUS. No nosso governo o hospital vai ser 100% SUS. Modificamos a saúde preventiva, construímos cinco postos de saúde em quatro anos, qualificamos a rede, construímos o centro do idoso. 

A pandemia nos trouxe de volta um debate estrutural, o SUS ficou à beira de ser extinto. O coronavírus fez a sociedade enxergar a importância do SUS para o Brasil. Agora nós do campo progressista, democrático e popular precisamos aproveitar essa brecha e entrar com força e energia para aumentar o financiamento do SUS e qualificar o SUS, nós não teremos mais oportunidade no país, do ponto de vista de política pública. 

Educação 

Moura - O motivo de estarmos caminhando juntos é porque temos muitas convergências, a escola de turno integral é uma delas. O PDT tem essa bandeira. Temos aqui em São Leopoldo quatro escolas de turno integral. Na nossa realidade, dentro de um contexto estamos nos ajeitando e construindo as escolas de turno integral, e estamos chegando com mais oito no contraturno, essas questões são fundamentais.

Vanazzi - O município decidiu não retornar as aulas esse ano. Construímos um grande grupo de debate pensando no ano que vem. O debate gira aqui com todos os professores, com a comunidade escolar de modo geral, com o Conselho Municipal de Educação, com a Secretaria Municipal de Educação, com as escolas privadas, com as conveniadas, uma grande mesa de discussão e negociação. 

As escolas privadas seguem o decreto do estado. No que se refere às escolas estaduais, as que querem voltar, se não tiverem os EPIs, de acordo com o protocolo, não vamos permitir que funcionem. Estamos tendo cuidado porque a escola pode ser o ambiente da retomada do crescimento da pandemia.

Segurança Pública 

Vanazzi - É importante frisar o seguinte, somos o único município que construiu o fundo municipal de segurança pública, administrado por um conselho municipal de segurança pública que tem hoje 65 entidades que participam. Esse recurso tem as multas do estado, do estacionamento rotativo, gerenciado pela comunidade, que apresenta projetos para esse fundo de prevenção à violência e também tem recurso para aplicar em alguns trabalhos específicos para prevenção da violência. 

A nossa Brigada, com esse dinheiro, ela apresentou um projeto e estão comprando 45 câmeras para serem colocados nos capacetes da Brigada Militar para monitoramento. Criamos a Delegacia da Mulher, paga com o recurso desse fundo. Temos uma cidade monitorada, uma guarda equipada, preparada, e temos uma estrutura de prevenção à violência. 

No futuro, é ampliar essa política, ampliar com concurso público a nossa Guarda Municipal, ampliar a participação no monitoramento para que haja um controle maior e uma fiscalização maior, combinada com isso uma grande política de prevenção à violência com desenvolvimento de programas sociais. 

Assista ao debate completo:

Edição: Marcelo Ferreira