Três mesas de negociação salarial ocorrem nesta semana entre entidades sindicais e a BRF, gigante brasileira de alimentos, envolvendo cidades do sul do país.
A primeira mesa, agendada para esta terça-feira (6), abrange as cidades de Lajeado, Marau, Serafina Corrêa, Erechim e Montenegro, no Rio Grande do Sul. Esta é a terceira rodada de negociações da campanha salarial 2020-2021.
Na quarta (7) e na quinta-feira (8) ocorrem as negociações nas cidades catarinenses de Concórdia e Chapecó, respectivamente, em campanha salarial desde junho. Até o momento, a BRF participou de uma reunião com as entidades sindicais da região.
Os trabalhadores exigem reajuste salarial pelo percentual acumulado do INPC-IBGE, aumento real do salário sem parcelamento, considerando as especificidades de cada local, e aumento real no ticket alimentação.
As entidades rechaçam o congelamento das cláusulas econômicas e de direitos conquistados em acordos coletivos anteriores como o auxílio-creche (de R$ 187 em SC) e o auxílio escolar (de R$ 489 aos trabalhadores do RS) propostos pela BRF.
Como explica o secretário-geral da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (Contac), José Modelski Júnior, a empresa quer pagar aos trabalhadores das sete cidades metade do valor da inflação para o reajuste salarial.
Para os trabalhadores do Rio Grande do Sul, com data-base em maio, a BRF propõe 1,23%. A inflação do período foi de 2,46%. Aos trabalhadores catarinenses, com data-base em junho, a empresa oferece 1,025% do INPC do período, que foi de 2,05%.
“Os trabalhadores e trabalhadoras demonstraram indignação a uma proposta tão rebaixada. Queremos voltar a negociar, mas vai depender de a empresa mudar a sua proposta”, afirma Júnior.
Caravana e paralisações
O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul, Paulo Madeira, avalia que as mobilizações devem se intensificar, caso não haja avanços.
Na última semana, as entidades sindicais realizaram uma caravana por todas as cidades, com protestos em frente às portas da fábrica da BRF.
“Até mesmo sindicatos que não têm BRF na base se somaram à nossa campanha, isso demonstra a unidade do movimento sindical. Nós não iremos aceitar as imposições que a empresa coloca na mesa, querendo nos desgastar com 10, 15, 20 reuniões sem avanço. Os trabalhadores querem seus direitos garantidos”, destaca Madeira.
Segundo o presidente da Contac-CUT, Nelson Morelli, as negociações desta campanha salarial 2020-2021 irão impactar a vida de aproximadamente 25 mil trabalhadores.
“Esta pandemia está aflorando a intransigência de empresas como a BRF, que fala em gastos, mesmo sem ter parado por um só instante as fábricas, expondo a saúde dos trabalhadores ao coronavírus. A produção, vendas, exportações e ganhos seguem crescendo e é por isso que a nossa mobilização não irá parar”, aponta.
Exemplo desta mobilização pôde ser vista na cidade de Chapecó (SC), no último dia 2, quando houve paralisação por 24h nas atividades da fábrica, na linha de produção de perus.
“Os trabalhadores não irão aceitar a proposta de redução de direitos, estão enfurecidos e avaliam como absurda a postura da BRF”, diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias das Carnes e Derivados de Chapecó e Região (Sitracarnes), Jenir Ponciano de Paula.
Após o posicionamento da empresa na última semana, os trabalhadores iniciaram, por iniciativa própria, um movimento grevista paralisando dois turnos. Após tratativas junto ao sindicato, os trabalhadores decidiram aguardar os desdobramentos da mesa de negociação e a realização de uma assembleia para decidir sobre futura greve.
Consultada sobre a redução salarial de direitos e benefícios do acordo coletivo de trabalho, a BRF apenas informou que "as negociações coletivas com os sindicatos da região sul do Brasil para Acordo Coletivo de Trabalho 2020 estão em curso e que mantém um diálogo frequente com as entidades sindicais".
Edição: Marcelo Ferreira