Rio Grande do Sul

MEIO AMBIENTE

Dia Nacional da Toninha alerta para situação de risco da espécie

Visto com frequência no litoral gaúcho, cetáceo figura em listas de animais ameaçados de extinção

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Espécie é capturada acidentalmente em redes de pesca de emalhe com elevada frequência no litoral gaúcho - Projeto Toninhas/UNIVILLE/Divulgação

O primeiro dia do mês de outubro foi escolhido como o Dia Nacional da Toninha em 2019 para sensibilizar a população sobre a situação do pequeno cetáceo mais ameaçado do Atlântico sudoeste. A data foi definida por marcar o início do período de nascimento de filhotes, e tem também como missão apresentar à sociedade em geral um pouco da biologia e ecologia dessa espécie.

Com ocorrência em águas costeiras entre a Patagônia Argentina e o estado do Espírito Santo, a toninha, pequena espécie de golfinho, é capturada acidentalmente em redes de pesca de emalhe, com elevada frequência no litoral gaúcho. Ela figura nas listas de espécies ameaçadas de extinção.

Projeto da FURG

Idealizado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o Projeto Conservação da Toninha apoia seis iniciativas que constituem o maior esforço coordenado já feito sobre a espécie no Brasil. Uma delas é o Projeto Toninhas, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), financiado pelo Funbio desde 2018. Participam pesquisadores dos institutos de Oceanografia (IO), Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (Iceac) e Matemática, Estatística e Física (Imef) da universidade, além da parceria com o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), o Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars) e a Kaosa. O acordo com o Funbio inclui bolsas de iniciação científica e bolsas técnicas no IO e no Iceac e já contribuiu também com uma bolsa de mestrado para uma aluna do programa de Ambientometria (Imef).

Avaliação da magnitude e tendências temporais da mortalidade e propostas de alternativas de gestão da pesca, construídas de forma participativa e levando em consideração as demandas ambientais e socioeconômicas, estão entre os objetivos da pesquisa realizada na Furg, conforme explica o coordenador do Projeto Toninhas/FURG, Eduardo Secchi.

O professor detalha o principal motivo do alto índice de mortalidade da espécie: "A área de pesca de espécies como a corvina, pescada e abrótea se sobrepõe muito à área das toninhas. O nível de captura acidental do cetáceo é muito alto: no litoral gaúcho, os números variam entre várias centenas até mais de mil animais mortos a cada ano. Essa remoção é insustentável, e por isso a toninha está nessa situação".

Com o desenvolvimento do projeto, espera-se não apenas conhecer melhor o tamanho das populações ainda existentes na região, mas também identificar as áreas prioritárias para a conservação da espécie. Além disso, a equipe de pesquisadores pretende também dar maior visibilidade às toninhas, "ainda pouco conhecidas por parte da população brasileira em geral", complementa a professora Danielle Monteiro, coordenadora executiva do projeto (IO).

Características

A toninha (Pontoporia blainvillei) é uma pequena espécie de golfinho que habita águas costeiras do Brasil, Argentina e Uruguai, em profundidades de até 30 metros. Elas têm como características o corpo pequeno (entre 128 e 177 cm), peso entre 29 e 55 kg, cabeça com rosto fino e comprido, mais de 50 pares de dentes, nadadeira dorsal pequena e pescoço flexível. Sua gestação dura 11 meses e cada fêmea tem apenas um filhote; o período de amamentação dura cerca de 9 meses. O tempo de vida é de até 21 anos, mas a maioria dos indivíduos não vive mais que 15 anos.

Também conhecidas como franciscanas (no Uruguai e Argentina), elas vivem em áreas estuarinas e costeiras marinhas, a exemplo da praia do Cassino, onde costumam aparecer em maior número nos meses de primavera e verão. A espécie tem comportamento discreto e evita a aproximação de embarcações a motor. De acordo com pesquisa lideradas pelo Gemars, hoje restam menos de 20 mil indivíduos no Brasil.

Risco de extinção

Uma avaliação recente da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) classificou a toninha como “vulnerável”, indicando que a espécie provavelmente já declinou mais que 30% do seu tamanho original). Na Lista Nacional de Fauna Ameaçada, ela está atualmente na categoria "criticamente em perigo", com declínio superior a 50% das populações brasileiras. O fator que mais contribui para este cenário de extinção é a captura acidental na pesca, através das redes de emalhe.

Em 2012, foi criada a Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA nº 12, cujo objetivo é ordenar a pesca de emalhe no sul e sudeste do Brasil visando, entre outras atividades, reduzir o esforço pesqueiro e também a mortalidade das toninhas e outras espécies ameaçadas. Com a norma, a pesca de emalhe nesta região teve que se adequar a limitações diferenciadas nos tamanhos das redes e nas áreas de pesca.

Encontro no YouTube

Na manhã desta quinta-feira (1º), mais de dez instituições se reuniram em uma grande aula virtual sobre a toninha, com o tema “Conhecendo o golfinho mais ameaçado do Brasil”. A transmissão foi realizada pelo canal do Viva Instituto Verde Azul no YouTube e segue disponível para quem quiser assistir.

* Com informações da FURG

Edição: Marcelo Ferreira