Rio Grande do Sul

SAÚDE MENTAL

X Parada Gaúcha do Orgulho Louco aponta novos modos de ocupar e re-existir

Devido à pandemia, evento ocorre de forma online nos dias 29 e 30 de outubro; pré-paradas já estão ocorrendo no estado

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Evento que reforça importância do cuidado em liberdade das pessoas em sofrimento psíquico será realizado virtualmente pela primeira vez em 2020 - Divulgação

A Parada Gaúcha do Orgulho Louco, que anualmente leva para as ruas de diversas cidades brasileiras o debate sobre a saúde mental e a importância do cuidado em liberdade das pessoas em sofrimento psíquico, será realizada através das redes sociais neste ano, devido à pandemia no novo coronavírus. Em sua décima edição no Rio Grande do Sul, com o tema “Birutas nas ruas e nas redes: Novos modos de ocupar e re-existir”, tem o desafio de se colocar em um contexto de isolamento social e com forte ataque à democracia e direitos humanos no Brasil.

Em formato de live, será realizado nos dias 29 e 30 de outubro, através da página da Parada Gaúcha do Orgulho Louco no Facebook. Além da parada principal, estão sendo realizadas pré-paradas em diferentes regiões do estado. As regiões Norte, Serra gaúcha, Campanha-Sul já realizaram suas pré-paradas. Nesta quarta-feira (30), ocorre na Centro Fronteira-Oeste, e na quinta-feira (1º), na região Leste-Metropolitana.

Membro do grupo Nau da Liberdade e da Associação Construção de Porto Alegre, Marlon Farias, conhecido como Trovador Gaudério, faz o convite: “A nossa Parada Gaúcha do Orgulho Louco não é só para Alegrete, é para todo lugar. Fronteira Sul e Missões, região Metropolitana de Porto Alegre, região Sul do estado, região de Pelotas, Pedro Osório, região da Fronteira, Bagé, Dom Pedrito, Livramento e Missioneira, região de Ijuí, Cruz Alta, Santa Maria, Santa Rosa, região central do estado. É para todo o Brasil e exterior. Vai bombar bastante. Dia 30 de outubro estou escalado para a live às 10h da manhã”.

A Nau da Liberdade tem como integrantes usuários, estudantes e trabalhadores que navegam pelas águas da saúde mental através do fazer teatral. Nasceu numa parceria com o grupo de teatro italiano Accademia Della Follia, em 2013, dentro do projeto de desinstitucionalização da loucura do Hospital Psiquiátrico São Pedro. No início do governo Sartori, em 2015, “foi expulso do hospital” e hoje o projeto se mantém de forma autônoma. É um exemplo da importância da arte no cuidado humanizado em saúde mental.

“A Parada Gaúcha do Orgulho Louco tem o objetivo de levar para a praça pública tudo o que a gente faz do cuidado em liberdade, a divulgação dos trabalhos, dos serviços substitutivos dos hospitais psiquiátricos”, explica a psicóloga e especialista em Saúde Mental Coletiva, Judete Ferrari, integrante do Fórum Gaúcho de Saúde Mental, que organiza o evento no estado. Ela destaca que a Parada divulga “a parte da cultura produzida pelos usuários, trabalhadores, gestores, comunidade em geral, que é feita nesse campo da saúde mental coletiva. A gente leva para a praça a arte que é produzida, a cultura, a alegria.”

Apesar de ser realizada online, de forma inédita, Judete conta que a experiência está sendo positiva: “Estamos colhendo muitas coisas legais, por exemplo, agora na parada da região Sul, a gente teve a participação de uma usuária de grupos online que mora na Colônia Passa Quatro. Então ela estava lá fazendo uma fala, seu depoimento sobre como é viver nesse momento. A dona Cleni Duarte trouxe a sua experiência bonita, de colona, de interiorana, se desafiando na rede social, na internet.”

A Parada Gaúcha do Orgulho Louco faz parte do calendário oficial do RS, instituída pela Lei Estadual 14.783/15. O evento reforça o cuidado em liberdade ao defender a Lei de Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216). Aprovada em 2001 no Brasil, foi fruto de uma luta por Direitos Humanos que iniciou nos anos 1980. Prevê a desativação gradual dos manicômios e criação de estratégias para quem sofre de transtornos mentais possa conviver livremente na sociedade. No Rio Grande do Sul, esta reforma é amplamente articulada nos municípios das diversas regiões com características peculiares a cada comunidade.

Sob os governos Temer e Bolsonaro, a Lei de Reforma Psiquiátrica vem sofrendo uma série de ataques, além de ataques nas esferas estaduais e municipais. Entre eles, o redirecionamento de verbas da rede substitutiva para manicômios e comunidades terapêuticas, numa visível ação ideológica de retorno à privação de liberdade. Em 2019, a nota técnica n°11/2019 do Ministério da Saúde promoveu diversas alterações implementadas na Política Nacional de Saúde Mental e nas Diretrizes da Política Nacional sobre Drogas, recolocando os hospitais psiquiátricos como um serviço a ser fortalecido.

Ao mostrar à sociedade os benefícios de tratar com dignidade as pessoas que utilizam a rede de atenção psicossocial, a Parada Gaúcha do Orgulho Louco denuncia o desmonte das políticas no país. Ao ressignificar os conceitos de "louco", "maluco", "doente mental", "deficiente mental", “diferente” e “diferenças”, através de uma série de atividades culturais, problematizar questões como as causas da "doença mental", a violência das instituições totais e o preconceito, assim como afirmar a potência criativa da loucura. No Brasil, muitos estados realizam suas paradas, como é o caso da Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

Programação

30 de setembro - Pré-Parada do Orgulho Louco Centro Fronteira Oeste

1º de outubro - Pré-Parada do Orgulho Louco Leste Metropolitana

29 de outubro - X Parada Gaúcha do Orgulho Louco On-line

10:00 - Live “A saúde Mental Coletiva e a Desinstitucionalização da Loucura”
Com Sandra Fagundes, Karol Cabral, Fátima Fisher, Analice Palombini, Marlon Farias,

Mediador: Márcio Belloc

14:00 - Oficina On-line de Cartolas e Birutas
Com Marileuza Vilaverde, Cláudia Villaverde, Xica com X

18:00 - Vídeos e Lives Dramáticas (teatro, esquetes e expressão dramática, dança e expressão do corpo)

Vídeo A Experiência do fazer teatral na promoção da saúde mental/ Teatro Alphaville/ASSAMI/Ijuí
Grupo Nau da Liberdade ao vivo/Porto Alegre

30 de outubro - X Parada Gaúcha do Orgulho Louco On-line

8:00 - Abertura “Amigo boleia a perna, puxe o banco e vai sentando”
Com Fórum Gaúcho de Saúde mental, Conselho Regional de Psicologia, Pré-Paradas, Associação de Usuários e PGOL

8:30 - Eu me remexo muito em casa (oficinas de atividade física em casa)
Com Daiane Almirão e Marluã Alende

9:00 - Plenária On-line: A saúde mental na atenção básica e o fortalecimento da RAPS
Com Simone Paulon de Porto Alegre (RS), Tânia Grigolo de Florianópolis (SC), Marcela Lucena de Sergipe (PE), Claudionei da AUSSMPE Pelotas (RS), Adriana Leão de Vitória (ES)

Mediador: Rafael Wolski RS

11:00 - Encontro de Conselheiros e Legisladores na Luta Antimanicomial

Com Érika Kokay da Câmara Federal/DF, Valdeci Oliveira da Assembleia Legislativa do RS, Luis Fernando Pigatto do Conselho Nacional de Saúde, Henrique Fontana da Câmara Federal/RS, Maria do Horto Salbego da Câmara Municipal de Alegrete, Preta Mulazzani do Fórum Gaúcho de saúde Mental, Claudiomiro Rocha do colegiado coordenador da PGOL RS

Mediadora: Grazi Vasquez FGSM RS

12:00 - Almoço Mentaleiro
14:00 - IV Encontro de Usuários e Familiares

16:00 - Webnário e-mental: Que Loucura essa Pandemia - Dispositivos On-line de saúde mental durante a pandemia
Com Marilda Couto do Grupo de Apoio e Gratidão de Norte a Sul (PA), Liamara Ubessi da Escuta na Quarentena (RS), Daildo Magalhães do Plantão da Madrugada (ES), Tatiana Dimov do SUSpiradas On-line (RS), Isadora da AMA Ouvidorxs de Vozes (RS), Ana Lúcia Vargas do O que me der na telha (RS), Bárbara Cabral da Tendas da Atenção Psicossocial On-Line (PE)

Mediador: Roque Jr da GAS Mental Farroupilha (RS)

18:00 - Rádio e Podcast Qorpo-Santo on-line. Quem sabe faz ao vivo! E Lançamento da Rádio Nau da Liberdade
Com Márcio Belloc da Rádio Nikosia, Károl Cabral da Rádio Qorpo-Santo, Judete Ferrari da Rádio Qorpo-Santo, Larissa Dall Agnol da Rádio Cuidativa, Ivon Lopes da Rádio Com.

Mediadora: Sandra Fagundes

19:00 - Grupo on-line com Ouvidores e ouvidoras de vozes

21:00 - Encerramento

Edição: Katia Marko