Palmeira das Missões, também conhecida como Palmeira, tem pouco mais de 33 mil habitantes. Apesar disso, é uma cidade referência na região das Missões, no Noroeste do Rio Grande do Sul, em termos de serviços públicos e de negócios. A cidade conta com cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), presídio regional, diversas escolas e outros aparelhos públicos. É muito forte na produção agrícola, com um relevante contingente rural, dividido em grandes latifúndios e uma variedade de pequenos agricultores familiares, organizados em cooperativas e movimentos. Em torno de 15% da população vive no interior e 85% na área urbana.
Nas eleições de 2020 a cidade terá, concorrendo à prefeitura, um candidato alinhado com a pauta popular. Evandro Massing é do Partido dos Trabalhadores (PT), bem como o candidato a vice, Regis Lorenzoni. Enfrentarão, juntos, outras duas candidaturas, encabeçadas pelo PP e PL.
A cidade de Palmeira das Missões já teve, por duas vezes, governos populares: de 1996 até 1999 e de 2009 até 2012. Nas palavras de Evandro, esses governos foram muito marcantes por trabalhar sincronizados com a demanda da sociedade e com o desenvolvimento econômico e social, trazendo melhorias para a cidade e participação social, através do orçamento participativo.
Evandro Massing
Evandro é profissional de contabilidade e trabalha com empresas de energia renovável. Filho de pequenos agricultores, viveu no meio rural até completar a maior idade, em uma cidade vizinha a Palmeira. Foi desde cedo envolvido no trabalho da Pastoral da Juventude da Igreja Católica. Em 1996, retorna à Palmeira das Missões para assumir a Secretaria da Fazenda do município, na gestão do prefeito Antônio Marangon.
Nas suas palavras, falando sobre a cidade e sobre o desafio da candidatura: “Desde então construí aqui minha vida, família e trabalho. Agora me coloco à disposição da cidade para assumir a prefeitura, se assim o eleitor entender, e todos os desafios que a cidade apresenta”.
Confira aqui os temas debatidos em mais uma entrevista A Cidade que Queremos. No final, o vídeo com a conversa completa.
Educação
Evandro - Nos governos que tivemos na cidade, a educação sempre foi prioridade. Na época que o Marangon assumiu, tínhamos uma dificuldade extrema na questão do transporte. A prefeitura municipalizou o transporte escolar e o ofereceu com qualidade para os alunos. No governo do Lourenço [Ardenghi Filho] e do Nereu [Piovesan] também tivemos essa preocupação, tanto que Palmeira das Missões colocou mais de 20 ônibus escolares novos. Entregamos ao final da gestão ônibus que sequer tinham rodado, para que a nova prefeitura pudesse oferecer já o transporte com essa qualidade.
Estivemos sempre muito preocupados com a educação, tanto que nós batalhamos para a extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para Palmeira das Missões. Na época começou com os cursos de administração e zootecnia. Desde lá, tínhamos a intenção de fazer Palmeira ser também um polo regional da saúde, por isso lutamos e conquistamos o curso de enfermagem também.
Na educação básica, que é responsabilidade do município, sempre tivemos o trabalho forte na atuação política para poder trazer os recursos. Com muito trabalho e dedicação de companheiros e companheiras conseguimos garantir a educação em todos os níveis [educação básica ao ensino superior].
O desafio que nós temos na educação pública é muito grande, porque a prefeitura em Palmeira é responsável por atender o ensino básico das crianças das comunidades mais vulneráveis. A defesa que eu sempre faço é que temos que dar sempre oportunidades iguais, que as pessoas possam todas se desenvolver de forma satisfatória.
Atualmente temos uma dificuldade pedagógica, pois temos a “enturmação”, voltou essa situação que eu vivi enquanto criança, temos da 1° a 4° enturmadas. Temos também uma dificuldade no transporte escolar. Quando deixamos a prefeitura, deixamos o transporte escolar novo para o município, e depois de oito anos o transporte dos estudante foi totalmente sucateado, não há nenhuma garantia de que a criança vá sair de casa e voltar em segurança.
Enfrentamos ainda a situação da pandemia, o que fez com que parasse a educação presencial, e nos deparamos com escolas sem internet. O que esperar então das crianças se nem as escolas têm internet? Nossos desafios são muitos, do ponto de vista pedagógico, estrutural e da tecnologia.
Saúde
Evandro - Quando buscamos trazer pra cá o curso de enfermagem da UFSM, já entendíamos que a saúde, além dela atender sua questão final, ela tem um enorme potencial de geração de emprego e de renda. Até tinha gente que dizia que éramos loucos de querer trazer a Universidade, hoje ela é um fato e tem permitido trazer muita gente de fora e também que muita gente de Palmeira possa fazer uma universidade pública e gratuita.
A partir disso, nos demos conta que tínhamos a possibilidade de construir um projeto de saúde para a região como um todo. Por isso que, desde a época da campanha do Lourenço e do Nereu, nós começamos a sonhar com a vinda de um hospital público regional, de média e alta complexidade que pudesse atender a região, já que nós temos aqui um vazio de atendimento. Estamos a 130 km de Passo Fundo, 100 km de Ijuí, Porto Alegre quase 400km. Muitos não acreditaram, mas nós trabalhamos muito para a implantação do Hospital Público Regional (HPR). O Hospital está em construção nesse momento, todo o recurso que temos hoje, que está sendo aplicado, foi liberado ainda na época que o Lourenço do PT era prefeito, já faz oito anos. Nós reiteramos que nesse tempo não houve mais nenhum aporte de recursos para a construção. Na época aportamos cerca de R$ 35 milhões. Temos o desafio de concluir essa obra, equipar o hospital e botar pra funcionar. É uma obra grandiosa, com mais de 200 leitos, com UTI, e com hospital escola. Talvez possamos ter no futuro o curso de medicina, uma extensão da UFSM, ou as especializações e residências.
Dizemos aqui que essa obra está em Palmeira, mas ela não é de Palmeira, é de toda a região. Temos ouvido comentários de que não teríamos mais capacidade de articular e concluir esse hospital se ganharmos a prefeitura, por não estarmos alinhados politicamente nem no estado nem no nível federal. Nós sempre dissemos justamente o contrário: quem teve a capacidade de articulação política para trazer esse investimento pra Palmeira fomos nós. Nós vamos estar articulados fortemente com 72 municípios da região que também dependem da conclusão dessa obra.
Transporte Público
Evandro - Mobilidade Urbana é um tema muito pertinente, pois pensamos que com todo investimento da questão do HPR e da Universidade, nós vamos precisar de uma mobilidade urbana bem pensada e que atenda todos os trabalhadores e trabalhadoras. Temos o desafio, não só aqui, mas em todo o mundo, de uma mobilidade que não seja só o carro, a gente sabe como isso é difícil. Mas ainda assim a maior parte dos trabalhadores utiliza o transporte público. A gente percebe que as empresas não estão conseguindo cobrir seus custos durante as pandemias. Temos que trabalhar para que o transporte público operado pelas empresas não tenha problemas, pois não temos como prescindir desse tipo de transporte. Palmeira é uma cidade horizontal, e a tendência é isso acontecer ainda mais, com os empreendimentos e novos bairros que acontecem aqui.
Emprego e geração de renda
Evandro - Temos vários projetos que queremos desenvolver, e um deles muito forte é em relação à agricultura familiar. Temos duas realidades em Palmeira: um lado é formado por grandes propriedades e outro lado é basicamente pequenas propriedades e minifúndios. Temos um problema de infraestrutura aqui, na questão das estradas, não temos mais estradas municipais decentes, houve um abandono total. Esse quesito é decisivo na geração de renda. Em Santa Terezinha, que é um distrito que tínhamos cerca de 60 produtores de leite, hoje tem 6 ou 7 porque o caminhão não chega. O agricultor não consegue escoar a produção. Este é um dos desafios.
Outro desafio que temos pensando na pequena agricultura é que, em Palmeira, temos escolas municipais, tem creche, escolas estaduais, presídio, Hospital, APAE, asilo, várias entidades públicas que compram alimentação. O que acontece aqui é que não temos essa produção primária organizada, para que essas compras possam ser feitas da agricultura familiar. Nós temos situações hoje com produtos que estão vindo de outros municípios, por não trabalhar a cadeia produtiva local. Queremos desenvolver aqui uma central de compras da agricultura familiar, para abastecer os entes públicos e o excedente ser comercializado nos mercados da região. Essa renda vai permitir que o pequeno agricultor fique na terra e siga produzindo produzindo alimentos saudáveis.
Do ponto de vista urbano, hoje somos formados por pequenas e médias empresas, o comércio varejista e a área de serviços, que estão muito sofridos por causa da crise econômica agravada pela pandemia. Por isso vamos desenvolver o projeto do “Compre Aqui”, para incentivar o comércio local. Nós vamos também buscar investimentos e buscar empresas que queiram se instalar e que tenham potencial para vir para a região.
Uma coisa importante é que somos um grande exportador de soja, milho e trigo, com uma alta produtividade. Nós precisamos começar a transformar isso que produzimos aqui, em ração, em carne. Transformar essa proteína animal e vegetal e agroindustrializar a cidade.
Cultura
Evandro - Nós entendemos que a cultura é o coração da cidade e nós temos que incentivá-la. O que nós temos hoje é que se quer suprimir, sufocar as manifestações culturais, isso é muito ruim. Nós temos uma cidade que é historicamente conhecida pela cultura tradicionalista. Nós temos um festival muito conhecido que é o Carijo da Canção Gaúcha. O Carijo na sua essência é uma forma de fazer erva-mate, e esse nome virou o festival que já é parte da nossa cultura gaúcha. Nós precisamos manter esse espaço e inovar para que cada vez seja um espaço de manifestação para fortalecer a nossa cultura. Logo na época da criação do festival nós também criamos o Carijinho, espaço para as crianças e adolescentes também terem seu espaço, e deu muito certo.
Queremos aproveitar que temos várias escolas de música em Palmeira e fazer uma fase local do Carijinho, permitir que as crianças possam se apresentar em uma classificatória para o palco do centro cultural. Levar toda a família para prestigiar o evento. Nós tínhamos também, em Palmeira, a Banda Municipal, que era muito famosa e foi extinta. Queremos reativar a Banda Municipal Santa Cecília, isso está dando muito o que falar, pois todo mundo lembra da Banda, a comunidade tem muita saudade. Queremos criar também um Festival de Curtas, para incentivar a juventude a produzir vídeos e exibi-los aqui. Queremos também o Conto Palmeira, para que as pessoas daqui desenvolvam e produzam contos, para virar livros. Também somos muito ricos na gastronomia, queremos também incentivar essa forma de cultura.
Nós temos um palco enorme no centro de cultura que está abandonado. Nós temos um museu e uma biblioteca pública municipal que praticamente ninguém acessa. Temos muitos desafios pela frente, mas sabemos que é possível fazer com muito empenho e esforço, e a comunidade quer.
Participação política
Evandro - Tem duas questões que são pilares daquilo que nós queremos desenvolver aqui: um deles é a transparência. A única forma de se combater efetivamente a corrupção e o desvio é através da transparência. A comunidade tem que saber de onde vem e para onde vai o recurso público. O outro pilar é o da participação popular. Hoje quando conversamos, a gente percebe que os bairros e comunidades não são ouvidos. O poder público ignora as lideranças.
A grande pedida da comunidade é que nós façamos o movimento de ouvir as pessoas. Isso nós já fizemos. Quando fui secretário da Fazenda do município, nós implantamos o orçamento participativo e fizemos a discussão com a comunidade. Houve um grande empoderamento com a discussão dos problemas e do orçamento público. Isso nós vamos resgatar.
Segurança
Evandro - A questão da segurança pública é reflexo da educação e da renda, está intimamente ligada com a questão social. Em conversas com os órgãos de segurança, percebemos que as questões relacionadas a segurança se concentram basicamente em furto, roubo e violência doméstica. Sabemos que isso está ligado com a questão da vulnerabilidade social, 50% da população da cidade é vulnerável do ponto de vista econômico e social. Nós temos que estar articulados com os serviços de segurança, enquanto poder público, colaborando com comunidade local, que ajuda muito.
Tem a questão do monitoramento eletrônico que precisa ser concluído. Sabemos de todos os questionamentos filosóficos que estão relacionados com a vigilância 24h, mas é um fator que ajuda muito a elucidar os crimes de violência urbana. Sabemos que grande parte dessas questões se resolvem com mais saúde, emprego e renda. Principalmente a violência doméstica, que é um fator cultural, a violência contra a mulher, que nós precisamos trabalhar isso na educação. É um desafio grande, mas temos que estar articulados na cultura, na educação, no emprego e na renda para que esses índices diminuam.
Assista na íntegra
Edição: Marcelo Ferreira