Rio Grande do Sul

Educação no RS

98% dos professores da rede estadual estão trabalhando mais durante a pandemia

O diagnóstico é resultado da pesquisa desenvolvida pelo CPERS em conjunto com o DIESSE

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Pesquisa evidencia a sobrecarga de educadores no estado - Banco de Imagens

Sobrecarga de trabalho, desgaste físico e psicológico, insônia, ansiedade, tristeza e incertezas, somando-se a salários atrasados e cobranças da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) são algumas das denúncias feitas pelos docentes do estado na pesquisa Educação e Pandemia no RS: Consulta à Comunidade Escolar. Desenvolvida pelo CPERS-Sindicato, com análise realizada pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), as conclusões da última etapa foram divulgadas na manhã desta terça-feira (22).

De acordo com a análise, 98% dos professores e professoras estão trabalhando, durante a pandemia, mais do que prevê o contrato de trabalho. Além disso dos 40% educadores que responderam à pesquisa disseram que não possuem acesso à internet com a velocidade e estabilidade adequadas para realizar o trabalho à distância.

A pesquisa contou com 3,9 mil respondentes e 2.131 questionários considerados válidos (com CPF e preenchidos até o final) contemplando 872 escolas de 282 municípios gaúchos.

Ao pontuar as denúncias do impacto da pandemia, os professores e professoras destacam a dificuldade de conciliar o aumento na carga de trabalho com o cuidado de filhos pequenos, o preparo das refeições, o trabalho doméstico e os cuidados com a saúde. 

Envolvimento dos alunos 


Quanto ao envolvimento dos alunos(as) nas plataformas digitais, qual o percentual
aproximado dos que conseguem participar plenamente de todas as atividades remotas
digitais?
/ Reprodução / Dieese

Segundo dados da pesquisa, apenas 4,26% dos educadores e das educadoras afirmaram que a quantidade de estudantes que conseguem participar plenamente do ensino remoto emergencial ultrapassa os 80%. Para 45,07%, ou seja, quase metade dos professores que responderam, somente 30% ou menos dos seus estudantes conseguem participar plenamente.

Diversos problemas

Outras dificuldades apontadas foram a falta de envolvimento e retorno dos alunos (78,8%), a necessidade de responder mães, pais e estudantes fora do horário de trabalho (75,8%), a falta de estrutura e equipamentos (52,4%) e a falta de orientação e instrução da mantenedora (51,3%). Sobre a organização, clareza e a qualidade das instruções enviadas pela mantenedora para a condução dos trabalhos, 63,5% dos participantes conferiram notas iguais ou menores a 5. 

Entre as críticas à organização do governo estadual estão informações desencontradas, pouco prazo para a execução, planejamento incipiente, desrespeito à gestão democrática e determinações impositivas e descoladas da realidade das escolas. 

Para o CPERS os dados confirmam “o compromisso da categoria com a educação, assim como evidenciam o descaso do Estado, sua falta de organização e inépcia em fornecer condições de trabalho adequadas ao período, além da franca violação dos contratos e a superexploração dos profissionais”.

Segundo o sindicato, os equipamentos fornecidos até o momento pelo Estado são em número irrisório e de baixa qualidade. Além disso, destaca a entidade, o acesso patrocinado ao Google Classroom também tem se mostrado problemático, com baixa adesão e distante de contemplar as reais necessidades de ensino e aprendizagem.

De acordo com a entidade, os números contrapõem a narrativa de setores que caluniam os profissionais da educação sugerindo que estes não querem voltar às aulas presenciais para "não trabalhar". "Apesar da exclusão, apesar do cansaço, da ansiedade, do estresse, apesar do descaso do Estado, dos salários atrasados, do desrespeito e da falta de reconhecimento, nós preferimos viver. A educação escolhe a vida", ressalta a presidenta do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.


Quanto à sua carga de trabalho foi perguntado se o professor avalia que está
trabalhando mais, menos ou não mudou
/ Reprodução / Dieese

Resumo da pesquisa:

  •  98% dos professores afiram que estão trabalhando com carga horária superior à contratada
  • 40% dos professores informaram que a sua Internet não é suficiente para realizar o trabalho a distância com qualidade
  •  18% dos professores responderam que não possuem equipamentos (PC ou notebook) necessários para realizar o trabalho a distância. Destes, 48% estão utilizando equipamentos emprestados. Apenas 1% informou que o empréstimo é da própria escola
  • 45,07% dos respondentes indicaram que 30% ou menos consegue participar plenamente das atividades remotas digitais, sendo que apenas 4,2% indicou que 81% ou mais dos alunos estão conseguindo participar plenamente das atividades remotas
  • 50% indicaram que pelo menos 30% dos estudantes perderam o contato com a escola e não estão realizando qualquer atividade
  • 51,3% apontaram que a falta de orientações e instruções por parte da mantenedora é uma das principais dificuldades no período
  • Solicitados a dar uma nota de zero a 10 para a clareza e qualidade das informações por parte do governo do Estado para realizar o trabalho remoto, 63,5% dos participantes conferiram notas iguais ou inferiores a 5. 

 

Ato em defesa da educação 

Nesta quarta-feira (23), às 10h, será realizado um ato em Porto Alegre, em frente ao Palácio Piratini, em defesa da vida e da educação pública e contra a volta às aulas proposta pelo governo de Eduardo Leite (PSDB) em plena pandemia. A ação é promovida pela Frente Gaúcha de Juventudes em Defesa da Educação. Serão realizados atos simbólicos em diversos municípios, incluindo Erechim, em frente à 15ª Coordenaria Regional de Educação, às 14h horas. 

(*) Com informações do CPERS Sindicato.

 

Edição: Marcelo Ferreira