O dia 20 de Setembro, data que celebra as tradições gaúchas a partir da memória da Revolução Farroupilha, é marcado por dicotomias entre festejos e críticas, folclore e história, tradição e cultura. Neste ano, em meio à pandemia e sem a realização dos acampamentos, foram registradas cavalgadas em cidades gaúchas. Por outro lado, ocorreram manifestações simbólicas em Porto Alegre criticando o mito gaúcho e as suas manifestações racistas que perduram na sociedade.
Também neste domingo (20), o presidente Jair Bolsonaro participou de uma aglomeração em referência à data. "Com a gauchada no piquete do Eixão em Brasília", postou Bolsonaro em sua rede social. A foto mostra mais de dez pessoas, nenhuma delas utilizava máscara de proteção, assim como o presidente.
No Rio Grande do Sul, o Movimento Tradicionalista havia cancelado todos os eventos presenciais, a fim de evitar aglomerações, deixando possíveis programações a cargo dos municípios. Em diversas localidades, foram realizadas cavalgadas carregando a chama crioula. Mesmo alguns municípios que proibiram a realização dos festejos farroupilhas, como prevenção à covid-19, os eventos foram registrados. São eles Sapucaia do Sul, Alegrete, Cruz Alta. Ao G1 RS, representantes dos municípios informaram que vão investigar os casos.
Ação questiona heróis farroupilha
Em Porto Alegre, a ação protagonizada pelo Coletivo Afronte RS espalhou cartazes junto a placas de trânsito e monumentos dedicados a heróis da Revolução Farroupilha. Com o mote, “chega de homenagear racistas”, a ação ressignificou a descrição dos homenageados, questionando figuras como Bento Gonçalves e ao General Canabarro.
Junto à base do monumento a Bento Gonçalves, localizado na Avenida João Pessoa, foi colado um cartaz dizendo: “Escravista. Disse lutar por liberdade, mas morreu sendo proprietário de mais de 50 negros escravizados”. Já na placa de identificação da Avenida Bento Gonçalves, a ressignificação trazia: “Escravista. Enganava os negros. Prometia liberdade aos negros de seus inimigos, mas nunca 'libertou os seus'”.
Na Rua General Canabarro, centro de Porto Alegre, a ação na placa de identificação da rua trazia: “Líder militar que traiu os Lanceiros Negros com a promessa de liberdade, os deixando para morrer nas mãos das tropas imperiais de Duque de Caxias”. Sobre a ação, o Coletivo Afronte RS disse em seu Instagram: “Chega de homenagear racistas! Os verdadeiros heróis que construíram esse estado são a população negra, que vive nas periferias lutando contra o racismo e pela sobrevivência."
Integrantes do Levante Popular da Juventude e pessoas que estão mobilizadas na ocupação da Escola Estado do Rio Grande do Sul também realizaram uma manifestação simbólica. Neste domingo, organizaram um ato em frente ao Palácio Piratini, sede do Executivo estadual, deixando um recado ao governador Eduardo Leite. “Governador que não tem virtude, quebra o cadeado”, afirmaram, em alusão ao arrombamento da escola pelo governo para retirada de equipamentos e documentos dos estudantes.
Conforme os manifestantes, a intervenção junto com membros da ocupação reivindicou educação pública, contra o fechamento da escola, e pela memória dos Lanceiros Negros. O episódio do Massacre de Porongos é destacado por diversos historiadores como a traição dos generais farroupilhas aos negros escravizados que lutaram ao seu lado com a promessa de liberdade.
Live: Contradições da Semana Farroupilha
O jornalista, historiador, professor e escritor Juremir Machado da Silva é autor de “História Regional da Infâmia”, polêmico livro que sacode a mitologia gaúcha. Ele foi convidado para debater esse tema em live na Rede Soberania e Brasil de Fato RS. Assista:
Edição: Katia Marko