Tomou posse nesta segunda-feira (21) o novo reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos André Bulhões, nomeado por Bolsonaro, em discordância com a decisão tomada pela comunidade acadêmica durante eleições. A posse ocorreu no período da manhã mas só foi divulgada à tarde, no site da Universidade. Ainda pela manhã, os estudantes realizaram um novo protesto, convocado pelo DCE da Universidade, repudiando a intervenção.
A definição do cargo de reitor das universidades federais é tradicionalmente feita em consulta à comunidade acadêmica, através de eleições onde votam professores, estudantes e técnicos administrativos. O resultado das eleições é apreciado no Conselho Superior das universidades e este encaminha uma lista com três nomes para o Ministério da Educação, chamada de lista tríplice. Esta lista contém a chapa vencedora, mais os candidatos que ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente.
Desde o fim da ditadura, há a tradição do presidente nomear o primeiro colocado dessa lista, respeitando a decisão da comunidade, expressa na eleição. Apesar disso, a lei brasileira define como função presidencial a nomeação dos reitores das universidades federais, deixando ao governo federal a escolha de nomear o eleito pela comunidade ou não.
Desde o inicio do seu mandato, Bolsonaro tem utilizado esse poder de interferência, nomeando reitores que não ganharam em seus respectivos processos eleitorais, mas que mantém um alinhamento ideológico com o seu governo. É o caso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em eleição realizada em julho deste ano, a comunidade escolheu Rui Oppermann, membro da Chapa 2. Porém, Bolsonaro nomeou Carlos Bulhões, membro da chapa 1, a 3º colocada no pleito.
O nome de Bulhões foi fortemente defendido por políticos e militantes da direita, que levaram seu nome até o presidente. Foi o caso do deputado federal Bibo Nunes (PSL) e do deputado estadual Ruy Irigaray (PSL), que, publicamente, declararam trabalhar junto ao presente pela nomeação de Bulhões. Sob justificativas de que a UFRGS seria uma universidade “aparelhada” ideologicamente, não deixa de ser controverso que deputados ajam politicamente para interferir na escolha de um reitor que seja alinhado ao governo.
Entidades criticam intervenção
É justamente essa a crítica do professor Lúcio Vieira, presidente da ADUFRGS, o sindicato que representa os professores da UFRGS. Em contato com a reportagem ele declara que a situação “é grave, pois significa partidarizar uma das maiores universidades do país. A escolha foi feita sobre pressão, baseada em interesses partidários”. O professor lembra ainda que estarão sendo feitas ações nos próximos dias para tomar medidas cabíveis, entre elas a pressão com parlamentares e discussões com outras federações e sindicatos.
O movimento estudantil da UFRGS também reagiu rapidamente a essa iniciativa de nomear um interventor para a reitoria. Na quinta-feira da semana passada (17), quando da nomeação no Diário Oficial, foi convocado um ato de protesto. Nesta segunda-feira (21), data da posse do novo reitor, novamente o movimento estudantil se fez presente em frente a Faculdade de Educação, no centro de Porto Alegre.
Theo Comissoli, estudante de Arquitetura e membro do DCE da UFRGS relatou que havia a informação de que Bulhões estaria presente na reitoria durante a manhã. "O ato aconteceu hoje pois tínhamos a informação que seria o momento da posse. O DCE inclusive solicitou uma reunião com o reitor, porém não obteve resposta. Chamamos o ato hoje para contestar a presença de Bulhões e realizar uma plenária com os estudantes, que aconteceu logo após o ato, contando em torno de 100 estudantes", afirma.
A plenária definiu a continuidade da organização e principalmente a realização de assembleias e plenárias locais, nos cursos e institutos da UFRGS, em conjunto com os diversos setores da universidade, professores e técnicos. "A posição do DCE tem sido de tentar articular essa luta, temos a perspectiva de que não será uma luta de curto de prazo, principalmente neste momento de pandemia, que tem dificultado a mobilização massiva que nos daria a força necessária. Por isso a ideia é uma mobilização de longo prazo, ir costurando as forças e engrossando o caldo pra conseguir a destituição de Bulhões", diz o estudante.
O sindicato dos técnicos administrativos em educação da UFRGS, a ASSUFRGS, também esteve presente no ato, informando através da assessoria de imprensa que o sindicato repudia a nomeação de Bulhões e considera que este ato configura um ato de intervenção federal na universidade. Além disso, a presença no ato reafirma a defesa da autonomia universitária, com democracia interna, reivindicando a paridade de votos na disputa eleitoral. No site da Associação é possível conferir uma nota com o posicionamento completo sobre a nomeação de Bulhões.
Todas as entidades envolvidas seguem mobilizadas planejando novas mobilizações. Após o ato, foi realizado uma reunião para definir as próximas atividades.
Edição: Marcelo Ferreira