Trabalhadores e trabalhadoras e movimentos sociais de diversas cidades gaúchas realizaram uma série de atividades neste 7 de setembro, como parte do 26º Grito das/os Excluídas/os. Diferente dos anos anteriores com as tradicionais manifestações populares nas ruas, a pandemia do novo coronavírus obrigou novos formatos de norte a sul do Brasil. Além de lives, foram realizadas ações pontuais e solidárias, como plantio de árvores e distribuição de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade.
O ato estadual, transmitido pelo Brasil de Fato RS e pela Rede soberania, mostrou o plantio de mudas em homenagem aos mais de 3,7 mil mortos pela covid-19 no Rio Grande do Sul. Um dos plantios foi realizado em duas cooperativas habitacionais em Porto Alegre. O outro em um parque localizado na periferia do município de São Leopoldo, por iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), com apoio da prefeitura municipal.
“Estamos prestando homenagem aos mortos do coronavírus, que no Brasil ganha traços de maldade patrocinados pelo governo neoliberal, com aliança ao agronegócio, com o sistema financeiro e banqueiro, o que aprofunda as desigualdades sociais, contaminam o meio ambiente através da liberação inconsequente de agrotóxicos”, destacou Álvaro Delatorre, da Direção Estadual do MST do RS.
Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, o dia é de luta por direitos e por democracia em um tempo de genocídio por parte dos governantes. “Especialmente do presidente da República que expõe o povo brasileiro à própria sorte. Não temos testagem para a população, carecemos de cuidados para as pequenas e médias empresas, que amargam prejuízos por conta da pandemia”, afirmou.
Em Caxias do Sul, na Serra gaúcha, a direção do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv) realizou o plantio de mais de 60 mudas de árvores nativas na sede campestre da entidade. O protesto silencioso ecoa com a falta de políticas públicas que valorizem a saúde, educação, saneamento, assistência e segurança. Também foi realizada uma live do Grito em Caxias do Sul.
A presidente do Sindiserv e secretária de movimentos sociais da CUT-RS, Silvana Piroli, conduziu um momento de reflexão em respeito às vidas perdidas. “Esta batalha é de todos nós. Nesta data simbólica em que comemoramos a independência da nossa pátria, o nosso pedido é por um Brasil soberano e democrático, onde exista respeito às vidas dos brasileiros. É dever de quem governa zelar e defender seu povo”, destacou.
Em Santa Maria, além de ações simbólicas, foram desenvolvidas ações sociais como a arrecadação e doação de cestas básicas para famílias em vulnerabilidade do município. As manifestações em defesa da vida e contra a política genocida de Bolsonaro foram promovidas pela CUT-RS Regional Centro, Frente Brasil Popular, Frente Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras e o DCE da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Em Erechim, o plantio foi realizado no domingo (6), em referência ao Grito e também ao Dia da Amazônia, celebrado no dia 5 de setembro, pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB-RS), Pastoral da Juventude e Levante Popular da Juventude. As mudas de árvores nativas florescerão no Reassentamento Passo da Conquista, onde residem atingidos e atingidas por barragens do RS. Além disso, foi organizada uma intervenção visual, no Santuário Nossa Senhora de Fátima, memorando os 14 óbitos na região causados pelo coronavírus.
No sábado (5), também como parte das atividades do Grito, foi realizada uma manifestação no centro de Passo Fundo em defesa dos direitos e contra a política genocida do governo Bolsonaro. O protesto foi organizado pelo Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM), Levante Popular da Juventude e Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF).
26 anos de contraponto
O Grito dos Excluídos surgiu em 1994, por iniciativa da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A entidade utiliza a data para fazer um contraponto ao chamado “Grito da Independência” e lembrar a importância da garantia de direitos, especialmente os da população mais vulnerabilizada, como trabalhadores, mulheres, negros, camponeses, entre outros. Este ano, a mobilização fez sua 26ª edição e trouxe o tema "Vida em Primeiro Lugar" e o lema "Este sistema não vale: lutamos por justiça, direitos e liberdade"
No rastro das últimas decisões tomadas pelo governo, militantes de todo o país destacaram, por exemplo, o veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao projeto que originou a Lei Nº 14.048/2020, que traria um conjunto de benefícios a camponeses, mas teve parte do conteúdo retirado pelo presidente. O texto aprovado pelo Congresso Nacional havia resultado de uma série de 25 propostas legislativas avaliadas por deputados e senadores, por isso trabalhadores engrossaram o coro pela recuperação dos trechos vetados, o que será avaliado pelo Congresso.
Na live do Grito estadual, dom Sílvio Guterres Dutra, bispo católico e coordenador da Ação Sócio Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Regional Sul 3 (CNBB Sul 3), ressaltou que a manifestação não tem religião, cor e partidarismo, mas é o grito dos que sofrem, evocando a memória do bispo Dom Pedro Casaldáliga. Ele chamou atenção para a tentação das religiões em abafar os gritos em nome de deus. “A própria religião deve ser um canal para que os gritos possam chegar com segurança e firmeza. Não desejamos o grito falseado de uma independência que não aconteceu ainda e está muito aquém do que se deseja”, concluiu.
Edição: Marcelo Ferreira