Rio Grande do Sul

Opinião

Artigo | Pressão pela abertura leva o estado a uma aglomeração descontrolada

A diferença do governador Eduardo Leite com o presidente Jair Bolsonaro é somente na forma e não na política

Porto Alegre | BdF RS |
"Os setores populares têm o dever político de reagir e lutar pelos direitos e pela vida. A superação da crise será fruto de nossa organização e luta" - Divulgação CPERS

Nem mesmo os mais de 100 mil brasileiros mortos pela covid-19 mudou a posição genocida do governo federal. O presidente que deveria liderar no enfrentamento da pandemia com políticas de saúde, econômicas e sociais para garantir a vida e as condições de sobrevivência dos brasileiros, optou por negar os fatos. Não reconhece a sua gravidade, e ainda, incentiva e desrespeita as normas sanitárias que são as principais armas desenvolvidas pela humanidade para combater a covid-19, já que ainda não temos vacina e nem medicamentos que consigam curar a doença.

Mesmo assim, há uma forte propaganda para o uso de medicamentos de forma preventiva que não tem nenhuma comprovação científica. Com isso, aumenta os problemas de saúde da população com os efeitos colaterais destes medicamentos.

A Constituição Federal determina que a Saúde é direito de todos e dever do Estado. O governo federal que deveria criar as condições de um efetivo isolamento social já que este é o principal instrumento para evitar a contaminação. Somente os setores essenciais da sociedade como a área da saúde, da alimentação, segurança, transporte entre outros deveriam estar em funcionamento.

As políticas públicas deveriam ter como objetivo garantir a renda aos setores sociais mais vulneráveis, o emprego e a renda dos trabalhadores, apoio às pequenas e médias empresas, além de incentivar a reconversão industrial para garantir insumos e equipamentos para possibilitar uma boa assistência de saúde aos brasileiros. Mas, o que estamos vendo é o inverso.

Os direitos dos trabalhadores estão sendo retirados de forma meteórica através de Medidas Provisórias aprovadas pelo Congresso Nacional. Um amplo programa de privatizações de setores estratégicos contra os interesses nacionais. Além de conceder um trilhão e duzentos bilhões de reais aos bancos através da PEC 10/2020.

O lucro está acima da vida

A história nos ensina que no caso de pandemias o isolamento social é uma arma fundamental do ponto de vista sanitário e econômico. As experiências demonstram que a suspensão da atividade econômica durante a pandemia produz o fortalecimento da economia, e a sua abertura produz o seu enfraquecimento. A pressão dos empresários tem forçado a flexibilização da atividade econômica e com isso o grau de isolamento social se reduziu com o funcionamento dos mais diferentes setores econômicos. O trabalhador se vê obrigado a se expor à contaminação para não ser demitido. A opção que está sendo dada aos trabalhadores é optar entre correr o risco de se contaminar e a sua família ou passar fome. O lucro momentâneo de poucos está acima do direito à vida de muitos.

Estamos vivendo a pandemia da covid-19. O vírus chegou de avião com os viajantes internacionais, atingindo poucas pessoas e em sua grande maioria das classes mais favorecidas da sociedade. Com o devido tempo foi se espalhando entre as várias regiões, ao mesmo tempo que atingiu as diferentes classes sociais. Hoje são os trabalhadores e setores mais vulneráveis que estão sendo as vítimas da contaminação, adoecimento e morte provocadas pelo vírus. Os ricos estão mais protegidos e são os pobres os que mais sofrem com a doença e a morte.

Distanciamento Controlado = Aglomeração Descontrolada

Se no primeiro momento da pandemia o estado conseguiu um isolamento social significativo, evitando uma contaminação rápida e de grandes proporções, começou a ser perdido com o decreto do governador Eduardo Leite em meados de abril que flexibilizou o funcionamento da atividade econômica. Em maio, através de novos decretos, se constitui o Distanciamento Controlado que prometia um controle das contaminações no Rio Grande do Sul. Embora o discurso oficial fosse que a cor das bandeiras estava baseada na técnica e na evidência científica, a realidade demonstrou que estamos vivendo uma Aglomeração Descontrolada. A diferença de Eduardo Leite com Jair Bolsonaro é somente na forma e não na política.

Os números de testes no sistema RT-PCR que garante um diagnóstico seguro são insignificantes. A falta de testagem massiva impede uma política eficaz de controle da contaminação. Enquanto o governador prometeu 8.000 testes dia (Testar RS), os números estão muito abaixo disso, e não se sabe quando teremos estes testes, e nem se ao menos chegaremos a tê-los.

Durante a pandemia o estado duplicou os leitos UTIs, mesmo assim, estamos próximo do colapso do sistema. Com o agravante das enormes dificuldades de termos profissionais de Saúde na linha de frente pelo elevado grau de adoecimento destes profissionais.

Setores populares precisam reagir

O governo estadual perdeu o controle da contaminação, mesmo assim, não revoga o decreto e fica brincando de pintar o mapa do estado. As cores de sexta são distintas das cores de segunda, o que faz a mudança das cores é somente a pressão econômica e política.

Agora quer repassar a responsabilidade aos prefeitos. Mas, mesmo assim, insiste em abrir as escolas para aumentar o contágio, o adoecimento e a morte dos gaúchos.

Os setores populares têm o dever político de reagir e lutar pelos direitos e pela vida. A superação da crise será fruto de nossa organização e luta. A unidade dos trabalhadores é condição necessária para sermos vitoriosos.

* Presidente do Conselho Estadual de Saúde (CESRS)

Edição: Katia Marko