Rio Grande do Sul

DEFESA DA VIDA

Educadores, pais e sindicatos são contra proposta de retomar aulas presenciais no RS

Ato reforçou pesquisas que demonstram que a sociedade considera irresponsável aulas presenciais no pico da pandemia

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Protesto simbólico foi realizado na manhã desta quarta-feira (19) em frente ao Palácio Piratini - Divulgação CPERS

Contrários ao calendário de retorno das aulas presenciais a partir do dia 31 de agosto apresentado pelo governador Eduardo Leite (PSDB), educadores, pais e lideranças sindicais realizaram um protesto simbólico na manhã desta quarta-feira (19), em frente ao Palácio Piratini. Segurando cruzes pretas e faixas com dizeres contrários à proposta, entoando dizeres como “escolas fechadas, vidas preservadas!”, o grupo deixou o recado da comunidade escolar, que não quer enviar seus filhos às escolas no pico da pandemia no estado e sem seguranças sanitárias mínimas.

O ato teve uma curta duração, seguindo protocolos de segurança, denunciando que o governador cede irresponsavelmente à pressão e interesses econômicos com a proposta. Participaram alguns representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS Sindicato), do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS), da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ADUFRGS Sindical), do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) e da Associação Mães e Pais pela Democracia.

Membro da Associação, Volnei Piccolotto ressaltou a pesquisa realizada por eles junto a mães, pais e professores de Porto Alegre, que demonstrou que uma ampla maioria é contrária ao retorno presencial das aulas. “Nós temos responsabilidade pela vida dos nossos filhos. Se o governador e os prefeitos são irresponsáveis, nós não! Não enviaremos nossos filhos enquanto não tiver uma proteção sanitária”, assegura.


Telão exibiu depoimentos de pais contrários ao retorno das aulas presenciais / Divulgação Mães e Pais pela Democracia

Volnei destacou ainda que, ao contrário do que propõe o governador, de iniciar a retomada pela Educação Infantil, as crianças de até seis anos devem ser as últimas a retornarem. “As crianças dificilmente seguirão protocolos, não enviaremos filhas e filhos às escolas, é esse o recado que mandamos ao governo hoje”, afirma.

Durante a manifestação, um telão posicionado em frente ao Piratini exibiu um vídeo em que mães e pais reafirmam a posição de não retorno escolar na pandemia enquanto não houver vacina. Confira o vídeo exibido:

A presidenta do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, diz que a manifestação foi até a sede do governo estadual com pais de alunos, professores e funcionários para dizer ao governador que “escolas fechadas, vidas preservadas, não vão usar nossas crianças como cobaias durante a pandemia”. O Sindicato também realizou protestos em frente às Coordenadorias Regionais de Educação e prefeituras de cidades do interior gaúcho.

Diretor do CPERS, Daniel Damiani destaca que, desde o início da pandemia, o Sindicato tem chamado a atenção para o risco à saúde de manter escolas com atendimento presencial não só para os trabalhadores, mas para a comunidade escolar. “A todo o momento, o governador fica oscilando entre pressões, agora está botando dois milhões de estudantes em risco na pandemia para atender a setores que estão com dificuldades econômicas com as escolas fechadas”, critica.


Desde o início da pandemia o CPERS chama a atenção para a falta de condições em abrir escolas / Divulgação CPERS

A realidade das escolas estaduais não dá a mínima condição de um retorno seguro, afirma Daniel. “As escolas mal têm funcionários de limpeza. O governo quer normalizar cobrando que trabalhadores ajam como se estivesse tudo normal. Seria uma irresponsabilidade muito grande voltar. O momento é de defender a vida acima de tudo. Ano que vem a gente recupera o que foi perdido, mas vidas não conseguimos recuperar.”

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, considera “um atentado contra a vida” o chamado para reabertura das escolas no cenário de agravamento da pandemia. Ele cita a campanha da Central que vem cobrando por testagem aos trabalhadores da Saúde. “Estamos em campanha para testar quem trabalha na Saúde e o Estado resiste, faz pouco-caso. O que vai acontecer então se voltarem às aulas?”, questiona.

“Especialmente as crianças das escolas públicas convivem em ambientes familiares em que muitas vezes quem cuida delas são pessoas idosas, enquanto os pais trabalham”, observa Amarildo. “Não é o momento de propor aula presencial, o que o governo tem que fazer é dar banda larga e equipamento de informática gratuito para esses estudantes, dar condições para não aprofundar o fosso entre os segmentos sociais.”


Para os manifestantes, a abertura defendida por Eduardo Leite está alinhada com a política de desprezo à vida de Bolsonaro / Divulgação CPERS

O presidente da CUT-RS recordou a pesquisa realizada pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) que mostra que 93,75% dos prefeitos gaúchos rejeitam o calendário de volta às aulas presenciais apresentado pelo governo. “Temos conversado com a Famurs, que tem uma posição positiva e proativa de querer solucionar problemas. Temos uma manifestação oficial dos prefeitos na pesquisa, em que a maioria entende que não há segurança sanitária. Vamos continuar nessa luta porque as bandeiras do governador são só para se livrar do problema. O distanciamento controlado deu com os burros na água e agora o Leite quer passar a responsabilidade para os prefeitos”, critica.

Um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores em Administração Escolar no RS (Sintae/RS), Celso Woychowsky afirma que o retorno presencial de aulas é no mínimo irresponsável. Representando os técnicos e administrativos da rede privada, ela destaca que mesmo nas escolas particulares um retorno “agravaria ainda mais o caos na Saúde pública, onde se perdem mais de mil vidas por dia”, tendo em vista a dificuldade de fazer as crianças cumprirem protocolos de segurança.


Educadores da rede privada também são contrários a aulas presenciais durante a pandemia / Divulgação Sinpro/RS

Pelo Sinpro/RS, o diretor Cassio Bessa criticou a pressão para a retomada presencial de atividades escolares pelo sindicato patronal, o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS). O Sinepe/RS tem se manifestado a favor da proposta de Eduardo Leite, considerando inevitável o retorno das crianças às escolas com a retomada das atividades do comércio, da indústria e dos serviços.

“A gente já falou com o Sinepe/RS que esse não é o momento adequado para retornar, estamos no pico da pandemia e contágios no RS. Temos exemplos dos outros estados que foram autorizados a voltar e a maioria das escolas não voltaram porque as famílias não enviaram seus filhos”, pondera Cassio. Ele destaca que na rede privada as aulas remotas estão funcionando e a sugestão do Sinpro/RS é que se continue assim até que haja mais segurança. “Temos que esperar, ainda mais aqui no RS que tem um inverno rigoroso.”

A manifestação foi transmitida ao vivo pelo Brasil de Fato RS e pela Rede Soberania. Assista:

Debate nesta quarta-feira

O tema estará em debate em live promovida pela CUT-RS, nesta quarta-feira (19), às 19h. Participarão a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, o diretor do Sinpro/RS, Cassio Bessa, o presidente da ADUFRGS Sindical, Lúcio Vieira, e a presidente da Associação de Mães e Pais pela Democracia, Aline Kerber.

Edição: Katia Marko