Neste ano, a pandemia evidenciou as diversas necessidades que muitas pessoas sofrem diariamente no Brasil e no mundo. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) luta junto com a classe trabalhadora para combater o vírus, a fome, as violências e tantas outras dificuldades enfrentadas pelo povo.
O Movimento já doou mais de 3100 toneladas de suas produções. Já no Rio Grande do Sul a doação de alimentos da Reforma Agrária passou de 200 toneladas. Além dos produtos dos assentados, os Sem Terra gaúchos doaram mais de 600 móveis da antiga instalação do Instituto de Educação Josué de Castro, então localizada no município de Veranópolis, na Serra Gaúcha.
“Essas ações fazem parte do nosso processo de solidariedade ativa enquanto organização social do MST. Sabemos da importância que é receber alimentos, móveis, seja um colchão, uma cama no momento em que precisamos”, afirma Geronimo da Silva, dirigente estadual do MST/RS.
Segundo o Sem Terra essas ações estão ligadas a Campanha de Solidariedade com a Periferia Viva do Brasil nesse tempo de pandemia.
Os mais de 600 móveis e brinquedos, foram entregues a instituições, organizações, associações de moradores, creches, escolas, cursos populares e pessoas individuais. “Sabemos da importância de fazer essas doações, também para as pessoas que sofreram com as enchentes nesse último período”, assinala Silva. Ele ainda enfatiza a magnitude da entrega dessa doação no momento em que as pessoas mais precisam. “Nos vemos também nesse dever histórico de ajudar a quem precisa na hora que eles necessitam”, pontua.
Entre os móveis doados estão camas, colchões, armários, mesas, cadeiras, berços, sofás, prateleiras, roupas de cama, portas, sapateiras entre outros. Apesar desses móveis serem usados, todos estão em bom estado para uso.
Instituto de Educação Josué de Castro
O Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC) completa 27 anos em 2020. De acordo com Miguel Stédile, coordenador do IEJC e dirigente estadual do MST/RS, o instituto é resultado das experiências em educação profissional e escolarização que o Movimento já vinha construindo na década de 90. “Ele nasce com a tarefa de fazer a escolarização, e permitir o acesso dos camponeses, em especial no ensino médio, mas também educação de jovens e adultos e a formação técnica”, pontua.
Atualmente o principal curso ministrado na escola é o curso Técnico em Cooperativismo (TAC), que, conforme Stédile, deu origem à escola. Desde o seu início já são 16 turmas voltadas ao cooperativismo concluídas e uma em andamento, a qual está com as aulas suspensa devido a pandemia do Coronavírus.
Além do TAC, a escola também disponibilizou e disponibiliza outros cursos como de Agentes de Saúde Comunitária, Comunicação Popular e cursos de Magistério. O IEJC também realizou parcerias com universidades para desenvolver cursos de licenciatura, sendo eles Educação do Campo, Pedagogia juntamente com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), e História com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
Esses cursos sempre dão o enfoque na formação de organizadores e organizadoras para áreas de Reforma Agrária. “Esses profissionais, a partir de sua formação técnica, política e humana, passam a potencializar e qualificar os desenvolvimentos dos seus assentamentos, acampamentos e cooperativas ”, explica Stédile.
Portanto, segundo o dirigente, o MST viu a necessidade de deslocar a escola para a região Metropolitana de Porto Alegre, pois é neste local que está concentrada a maior parte das experiências em cooperação do Movimento. “A ideia é aproximar o curso dessas cooperativas e desse potencial de formação humana”, informa o coordenador.
De acordo com Leandro Marques, do Setor de produção do IEJC, realizar essa troca de espaço, e a construção de uma nova escola, só é possível graças ao esforço e ajuda social de cooperação e organizações nacionais e internacionais. A obra vem sendo levantada no Assentamento Filhos de Sepé, localizado no município de Viamão, aproximadamente a 40 km da capital gaúcha.
Marques destaca que com o fim da obra, a escola terá capacidade de atender até três turmas simultâneas. “Esses cursos são intercalados, em que os educandos passam um período na escola e outro no assentamento, ou comunidade trabalhando”, relata.
No novo espaço do IEJC, estarão disponíveis salas de aulas, biblioteca, secretária, laboratório, sala de informática entre outros, para a formação de filhos de assentados, indígenas, quilombolas entre outras organizações.
Esse programa se tornou referência de acesso ao ensino para determinados públicos, que sem essa política pública restringia ainda mais o acesso a escolaridade para povos originários e do campo.
“Para nós do MST é importante a escola sair da cidade e ir para o assentamento. É um espaço fundamental, estamos construindo um espaço para que as pessoas que não conseguem acessar a escola, consigam uma formação”, explana Marques.
Edição: Marcelo Ferreira