O Fórum Ecumênico ACT Brasil (FEACT) divulgou no dia 12 uma nota de repúdio ao despejo de 450 famílias do Quilombo Campo Grande, uma comunidade que produz alimentos orgânicos saudáveis há mais de duas décadas e cujas terras são desejadas pelo agronegócio.
O Fórum é membro da ACT Aliança, uma coalizão com sede em Genebra (Suíça) que reúne 151 organizações de igrejas protestantes e ortodoxas e organizações relacionadas a igrejas engajadas em trabalho humanitário, de desenvolvimento e defesa de direitos em todo o mundo. Reúne mais de 130 membros em 120 países para criar mudanças positivas e sustentáveis nas vidas de pessoas pobres e marginalizadas, independentemente de sua religião, política, gênero, orientação sexual, raça ou nacionalidade, de acordo com os mais altos códigos e padrões internacionais.
A FEACT emitiu esta declaração na esteira das ações tomadas contra as famílias do Quilombo Campo Grande:
Hoje é um dia triste para o Brasil
Em meio a uma pandemia sem precedentes que já matou mais de 100 mil brasileiros, o acampamento “Quilombo Campo Grande”, no sul de Minas Gerais, foi surpreendido na manhã passada por atos de guerra. Centenas de carros da polícia fizeram uma aparição violenta para despejar as 650 famílias que resistiram e produziram alimentos saudáveis nos últimos 20 anos. Um de seus produtos é o café orgânico Guaií: o Quilombo Campo Grande está localizado em uma área que produz um dos melhores cafés do mundo. Cobiçadas por grandes empresas do agronegócio, essas terras são cenário de uma disputa entre dois modelos. Um deles divide renda e respeita o meio ambiente, enquanto o outro concentra riquezas, exclui pessoas e destrói o meio ambiente.
Essas famílias vêm sofrendo ameaças de pistoleiros há muitos anos. Segundo algumas fontes, atuam sob o comando do ex-proprietário de uma fábrica falida. Ao longo de 22 anos, houve 5 despejos e muitas manifestações de solidariedade nacional e internacional.
O despejo que testemunhamos hoje é consequência da pressão de João Faria, um dos maiores comerciantes de café do Brasil. Este agronegócio busca ampliar sua área produtiva e neste despejo também estão envolvidos interesses de grandes corporações, incluindo multinacionais como Nestlé e Mondelez. Vale destacar que João Faria foi um dos principais doadores da campanha do presidente Jair Bolsonaro em 2018.
“Exigimos” do governador Romeu Zema e das instituições competentes a imediata suspensão do despejo, e o respeito aos direitos humanos das famílias e de outras milhares que hoje sofrem com violência semelhante no Brasil.
Mais uma vez, essa ação evidencia como o governo brasileiro é orientado exclusivamente pelos interesses do capital financeiro e das multinacionais. A vida dos brasileiros está comprometida por quem deveria protegê-los.
Querem extinguir nossa cultura, nossa espiritualidade, nosso direito de sonhar. Não é surpresa que o primeiro ato da Polícia Militar foi atacar a igreja local e a escola local, que se chama Eduardo Galeano.
Essas são as veias abertas da América Latina, que sangram diante de um novo colonialismo que “acelera o domínio da violência”. (Am 6.3)
Edição: Katia Marko