A semana iniciou com o comércio funcionando em Porto Alegre, após novo decreto do prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB) permitir a abertura de lojas de segunda a quinta-feira, das 10h às 17h. Publicado na sexta-feira, o decreto 20.687 vale para estabelecimentos não essenciais de rua, de shoppings e centros comerciais.
Na norma anterior, as lojas da capital podiam funcionar de quarta a sexta-feira. Segundo a prefeitura, a intenção é autorizar as atividades de segunda a sexta. Porém, após a justiça determinar o cumprimento das normas estaduais pelo município na semana do Dia dos Pais, o executivo preferiu estabelecer regras similares às que estão previstas no sistema de Distanciamento Controlado para a bandeira vermelha – abertura em quatro dias da semana – enquanto busca uma alternativa.
Liberação no auge da pandemia
Em meio a mais uma flexibilização, Porto Alegre registra nesta segunda-feira (17) 523 óbitos por covid-19. No mês de agosto, em quase todos os dias a capital teve mais de 10 mortes e a taxa de ocupação de leitos de UTIs esteve beirando os 90%. Neste final de semana ensolarado, os parques e praças registraram alto fluxo de pessoas e aglomerações.
A Federação dos Empregados no Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecosul) vê com preocupação a flexibilização das atividades comerciais. “Nossa posição é contraria a essa abertura indiscriminada e sem controle, principalmente num período de maior pico da pandemia”, afirma o presidente da entidade, Guiomar Vidor. Para ele, uma abertura controlada e paulatina somente poderia ser feita a partir da realização da testagem massiva dos trabalhadores no comércio.
“Sem testagem e sem as garantias de fornecimento de EPIs e distanciamento social, o comércio será um centro de proliferação da covid-19, uma vez que movimenta milhares de pessoas que interagem em suas casas, no transporte coletivo, no trabalho e com os clientes que convergem de vários bairros e de cidades da região metropolitana”, avalia Guiomar.
Já o empresariado de Porto Alegre aguarda mais flexibilizações. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas Porto Alegre, Irio Piva, comemorou o novo decreto dando mais um dia de funcionamento. “No entanto, acreditamos que seria possível permitir a abertura das lojas de segunda-feira à sábado, inclusive com a possibilidade de flexibilizar os horários de funcionamento”, explicou no site da entidade.
Normalidade?
Em entrevista ao Brasil de Fato RS, o epidemiologia e reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, critica o sentimento de normalidade e de que o pior já passou. “Na prática a gente se acostumou a ver que morrem mil pessoas todos os dias com essa doença. Há uma analogia feita que dá bem a ideia da gravidade que estamos vivendo, está caindo quatro aviões por dia no Brasil, todos os dias no país. As pessoas começaram a se acostumar com isso, a achar natural, e não é natural”, ressalta.
De acordo com Hallal, há um entendimento equivocado na relação de economia e saúde pública. “As pessoas acreditaram nessa disputa entre economia e saúde pública que na verdade é uma disputa que não existe, que nunca existiu”, afirma. Ao trazer o exemplo de cidades como Madrid, na Espanha, e Paris na França, que tiveram um lockdown rigoroso, ele defende que, enquanto não houver uma vacina, o distanciamento é a melhor alternativa.
Demais atividades seguem decreto anterior
As demais liberações na capital gaúcha seguem o decreto anterior. Estabelecimentos de prestação de serviços, como salões de beleza e academias, podem abrir de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, com regras específicas. Restaurantes, bares, padarias e similares seguem liberados com restrição de clientes e outras regras, com atendimento permitido de segunda a sexta-feira, das 11h às 17h.
Também estão liberados cultos religiosos, limitados a 30 pessoas e com distanciamento de dois metros entre os presentes. Construção civil e indústria também estão liberadas sem restrições.
Edição: Marcelo Ferreira