Desde o início de junho, a coordenadora geral do Sindicato-ASUFPel e diretora da pasta de aposentados da Fasubra, Tereza Fujii, se licenciou das entidades representativas para assumir um novo desafio. Ela é pré-candidata a uma vaga ao legislativo pelotense em outubro de 2020.
Para Tereza, nunca foi tão necessária a presença da mulher na política por questão de direito e igualdade. “A mulher representa 51,8% da população, chefia 45% dos lares e ainda ganha 20,5% menos que os homens, isso porque a representação é masculina. A mulher precisa e deve, cada vez mais, participar da vida política como protagonista das suas reivindicações, mas isso nem sempre é fácil. Quem assiste o machismo, a desqualificação e o desrespeito vívidos por muitas parlamentares, produzidos pelos próprios colegas, se desestimula.”
Mas a dirigente sindical, que está aposentada após trabalhar por 40 anos na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), acredita que é possível transformar boas ideias em ações que contribuam com a povo. "O motor de transformação de nossas vidas é a política! Precisamos estar juntos, pois apenas desta forma somos mais fortes”, explica.
Confira a íntegra da entrevista para o Especial Mulheres na Política.
Brasil de Fato RS - Gostaria que tu nos falasse um pouco da tua trajetória.
Tereza Fujii - Estudei no colégio Nossa Senhora de Lourdes até a quinta série. Terminei o primeiro e segundo grau no IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul), na época ETP (Escola Técnica de Pelotas), onde entrei com a primeira turma de mulheres, no Curso de Pedagogia. Meu primeiro trabalho foi ser Professora Municipal, no Passo dos carros, na Escola Maria Delfina, no Orfanato Reverendo Severo. Ao mesmo tempo trabalhava na primeira empresa de Processamento de Dados de Pelotas, chamada Servidata. Essa empresa trabalhava para as prefeituras da região e fazia compensação de cheques para o Banrisul.
Em 1978 fiz concurso para a UFPel onde fiquei trabalhando por 40 anos, sempre na área de informática. Quando cheguei na UFPel já existia uma associação chamada Absurgs, ligada a UFRGS. A partir dela começou a discussão para formar uma ainda associação para a UFPel. O Asufpel então é criado em 1979. Até meados dos anos 1990, minha participação se deu como sócia e nos grandes movimentos que a categoria já fazia.
Em 1993, morei durante dois anos no Japão e isso me trouxe um aprendizado diferente sobre respeito, valorização do trabalhador e importância do Sindicato como representante dos trabalhadores. Na volta comecei a participar mais efetivamente do movimento sindical, fui Coordenadora de Aposentados, de Administração e Finanças e três vezes Coordenadora Geral do Asufpel e Coordenadora de Aposentados e Assuntos de Aposentadoria da Fasubra.
Fiquei por três anos fazendo trabalho com aposentados na cidade, quando cursava o curso de Serviço Social, um tempo no Cetres da Universidade Católica, depois com o Grupo de Aposentados da cidade na ABAPP (Associação Beneficente dos Aposentados e Pensionistas de Pelotas), onde participei da proposta para a reforma, e por último com o grupo de Aposentados na Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Padre Ozi), no Bairro Simões Lopes.
Sou formada em Gestão Pública com Especialização em Gestão de Pessoas, e hoje estou Aposentada!
BdFRS - Como tu avalias a participação das mulheres no movimento sindical, e qual a importância dessa participação?
Tereza - As lutas feministas dos anos 1970, as práticas do “novo sindicalismo" e a reelaboração do ideário feminista impulsionou a participação das mulheres no ambiente sindical ao longo dos anos 1980. Isso resultou no crescimento das políticas desenvolvidas pelos sindicatos, visando encaminhar demandas das mulheres trabalhadoras. Embora ainda como políticas voltadas para o atendimento familiar, e não na inclusão da mulher como ser político e social, ajudou a incorporá-las à luta sindical e ampliar sua participação nas instâncias decisórias.
Hoje temos muitos Sindicatos dirigidos por mulheres, como é o caso do Asufpel, que há muitas gestões têm mulheres na sua Coordenação Geral. Mas, embora a participação nos movimentos sempre tenha as mulheres como maioria, a participação em instâncias decisórias ainda é pequena. O ambiente ainda é dominado pelos homens, a destacar a função das mulheres em liderança exercida à frente do movimento seja em cargos decisórios ou pela atuação como base de uma categoria formadora de opinião.
Apesar do aumento de mulheres no mercado de trabalho, essa proporção não aconteceu no movimento sindical. Muitos pesquisadores entendem que essa realidade acontece por conta das duplas jornadas, da falta de condições para que as mulheres possam viver a vida pública, do preconceito familiar e do machismo que muitas vezes impera nesse ambiente, esses fatos ainda estariam impedindo as mulheres de exercerem suas funções sindicais.
BdFRS - Como o machismo ainda se apresenta dentro do movimento sindical?
Tereza - Infelizmente muitos homens parecem não entender o papel da mulher no ambiente sindical, como parte protagonista do movimento. Continuam as piadas sobre o papel da mulher, dúvidas sobre a capacidade de uma militante em função do seu gênero, desrespeito e difamação. Além do assédio muitas vezes ainda presente no ambiente sindical. Esses fatores acabam afastando as mulheres do protagonismo de defenderem os seus direitos. A participação está aumentando e já estamos vendo o avanço de uma mudança mais efetiva, com maior respeito pela luta das mulheres!
BdFRS - Como os desmontes dos últimos anos, em especial no governo Bolsonaro tem afetado a vida dos/as trabalhadores/as das universidades, em especial das mulheres?
Tereza - O presidente Bolsonaro tem um grande descaso pela Educação, basta ver o movimento que a sociedade teve que fazer para garantir a aprovação do FUNDEB e consequentemente a garantia do Ensino de Primeiro e Segundo grau que o governo queria retirar. Em se tratando de Ensino Superior, ele é um negacionista, não se importa com pesquisa, com desenvolvimento científico.
Esse desmonte da Educação não aconteceu nem durante a ditadura militar. É um ataque sistêmico aos direitos e a moral de servidores, alunos e à autonomia das Instituições. Até os reitores ele queria escolher... Tudo isso junto aos cortes no orçamento vai impactando de forma muito negativa na Educação Pública, justo no momento em que o Ensino Superior se expandiu, através das políticas de inclusão nos governos de Lula e Dilma, onde a lei das Cotas reverteu um pouco o quadro da elitização dentro das Universidades, exatamente o que esse governo quer acabar.
BdFRS – Quais os principais desafios da luta sindical?
Tereza - Os desafios são enormes! Estamos tratando de um governo que tem como objetivo acabar com os direitos da classe trabalhadora e para isso precisa enfraquecer os sindicatos. E tem feito isso sistematicamente, atacando suas formas de financiamento, dificultando registros, mudando leis e através da comunicação desestimulando os trabalhadores a se sindicalizarem. O grande desafio colocado para nós, trabalhadores, é a retomada das lutas e a unificação das nossas mobilizações, principalmente nesse momento de pandemia, quando o governo Bolsonaro está aproveitando para literalmente "passar a boiada" e retirar todos os nossos direitos.
BdFRS - Quais as principais diferenças da participação das mulheres na política?
Tereza - Acredito que nunca foi tão necessária a presença da mulher na política por questão de direito e igualdade. A mulher representa 51,8% da população, chefia 45% dos lares e ainda ganha 20,5% menos que os homens, isso porque a representação é masculina. A mulher precisa e deve, cada vez mais, participar da vida política como protagonista das suas reivindicações, mas isso nem sempre é fácil. Quem assiste o machismo, a desqualificação e o desrespeito vívidos por muitas parlamentares, produzidos pelos próprios colegas, se desestimula.
A política de cotas trouxe um pouco de igualdade, embora as práticas político-partidárias ainda estejam muito longe de refletir este ideário. O surgimento de movimentos sociais, como o movimento feminista, teve importante influência para que estabilizasse a igualdade entre as relações de gênero nessa esfera de poder. É necessário criar mais políticas públicas de incentivo à participação das mulheres.
BdFRS - Que sociedade deveríamos ter pós pandemia, ou que sociedade podemos esperar?
Tereza - Eu costumo dizer que não quero voltar ao que era antes. Espero que todos estejam aproveitando esse momento de isolamento para refletir sobre a sociedade e o que está acontecendo.
A pandemia só expôs o que já acontecia e muitos não queriam ver, a fome e a miséria ao lado do desperdício e das grandes fortunas. Deveríamos voltar com o sentimento de muito mais solidariedade, e penso que como população até vamos voltar, com repartição de renda e não estou falando de quem não tem, mas das grandes fortunas e lucros. Com alimentação, moradia, educação e saúde para todos, direitos básicos adquiridos na Constituição de 1988 e nunca colocados totalmente em prática.
Mas confesso que não tenho muita esperança, porque o governo Bolsonaro está acabando com os direitos da população, mudando até a Constituição. Espero que o povo entenda a importância do voto e o quanto ele impacta na vida diária de todos, para nunca mais eleger partidos e parlamentares que votam contra a população, e um governo como esse de Bolsonaro.
Edição: Katia Marko