Basta de miséria, preconceito e repressão. Queremos Terra, Trabalho, Teto e Participação
É 7 de agosto de 2020, quando escrevo. Estamos há 1 mês do 7 de setembro, dia da vigésima sexta edição do Grito das Excluídas e dos Excluídos. Desde 1995, as Pastorais Sociais, com apoio da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), realizam o Grito das Excluídas e dos Excluídos no Dia da Independência do Brasil, sinalizando a urgência da inclusão social, da democracia e da soberania. Em 2020, o tema e o lema são: ‘VIDA EM PRIMEIRO LUGAR! Basta de miséria, preconceito e repressão. Queremos Terra, Trabalho, Teto e Participação.’
Será que nada mudou no Brasil nestas mais de duas décadas, tornando o Grito hoje ainda mais urgente e necessário? Em 1973, Dom Hélder Câmara e os bispos do Nordeste lançaram o documento ‘Eu ouvi o Clamor do meu povo’. Há poucos dias centenas de bispos e milhares de padres e diáconos católicos expressaram profeticamente sua inconformidade e preocupação com o que está acontecendo com o Brasil e com o povo brasileiro.
A vida está ameaçada, seja das pessoas, seja de todos os seres vivos. A miséria e a fome estão nas ruas. O preconceito, o ódio e a intolerância são presença diária. A repressão ao povo das periferias e a criminalização dos movimentos sociais estão no cotidiano. A democracia e os direitos vivem sob ameaça, com o fim de políticas sociais e de participação popular.
Quanto aos três ‘t’, vale a palavra do Papa Francisco: “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá.”
Qual o futuro? Qual a esperança?
Em 7 de setembro de 2020, o Grito irá ecoar em todas partes em todo o Brasil. E será seguido pela sexta Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB, que anuncia um ‘Mutirão pela Vida: por Terra, Trabalho e Teto’, e acontecerá de 2020 até 2022.
Onde estão os direitos dos pobres e das/os trabalhadoras/es? Cadê a Justiça, cadê a igualdade, quando, segundo a ONG OXFAM, 42 bilionários brasileiros, em menos de 4 meses de 2020, em plena pandemia, enriqueceram R$ 176 bilhões? E estão se lixando para o aumento da pobreza, da fome e da miséria no Brasil. Enquanto isso, discute-se uma reforma tributária que vai aumentar os impostos pagos pelo povo, enquanto não se aprova um imposto sobre as grandes fortunas e uma proposta de renda básica da cidadania!!!
De hoje até 7 de setembro, e durante todo mês de agosto e setembro, será um tempo de solidariedade profética. Será preciso juntar e ampliar todas as ações de solidariedade que estão acontecendo em todo Brasil com os mais pobres entre os pobres e o povo das periferias contra a fome, a miséria, o desemprego. Será tempo de dar vez e voz aos que sofrem, organizar o povo e as lideranças populares num grande mutirão pela vida.
Todas e todos estão convocados a gritarem junto. Na semana de 1 a 7 de setembro e no dia 7 de setembro, haverá manifestações em todo Brasil, nas comunidades, nas periferias, nas igrejas, com os movimentos sociais e populares, com as Pastorais, através das redes sociais e, se possível, nas ruas (Informações sobre o Grito: www.gritodosexcluidos.com; [email protected]).
Um poema foi escrito por mim: ‘UM GRITO PARADO NO AR – Vida em primeiro Lugar’. “Eis que o Grito se fez Palavra e Oração./ ‘Curem os enfermos de todas as pandemias,/ ressuscitem os que estão mortos de espírito,/ limpem doentes e leprosos,/ tirem os demônios/ e mentiras das bocas,/ corpos e corações,’/ orienta Jesus em Mateus./
‘Não levem ouro./ Não carreguem nem prata nem moedas / às favelas e periferias.’/ Vistam a roupa da solidariedade / como alimento./
Os que estão excluídos / participarão da Mesa./ As que estão desprezadas e excluídas / terão o microfone à disposição./
Indígenas gritarão:/ basta de repressão./ Quilombolas gritarão:/ fim da escravidão./ População em situação de rua gritará:/ basta de miséria./ Catadoras e catadores gritarão:/ dignidade./ Desempregados gritarão:/ emprego e salário./ Presos gritarão:/ liberdade./ Jovens gritarão:/ nada mais de preconceitos./ Mulheres gritarão:/ chega de violência./ Trabalhadoras e trabalhadores gritarão: / queremos participação./ Os mais pobres entre os pobres gritarão:/ Vida em primeiro lugar!/
Dos de baixo é o grito mais forte./ Delas e deles são as vozes/ mais poderosas, proféticas./ Elas e eles rezam, gritam,/ conduzem e produzem/ a salvação da Casa Comum./
E serão muitas, muitos,/ milhares, milhões,/ irmãs, irmãos,/ hermanas, hermanos,/ companheiras, companheiros,/ a exigir Terra, Trabalho, Teto,/ a exigir direitos,/ vez e voz,/ a falar de vida e ressurreição./
Os cantos serão sonhos. /As vozes em coro serão utopia./ As mãos que ‘ninguém solta de ninguém’/ serão Reino de Deus,/ tempo de justiça,/ igualdade,/ democracia,/ fé. Amém, Axé, Awere, Aleluia!”
Edição: Katia Marko