Rio Grande do Sul

Pesquisa retomada

Mesmo após suspensão do governo, Epicovid19 terá próxima etapa nacional

Considerada a maior pesquisa do planeta sobre a disseminação da covid-19, o estudo reiniciará em agosto 

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Pesquisa volta as ser aplicada entre os dias 20 e 23 de agosto com aporte do fundo Todos pela Saúde - Daniela Xu/ UFPel

Prestes a alcançar a marca de 100 mil mortos por covid-19, o Estudo de Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil (Epicovid19-BR), que estima casos de infecção por coronavírus no Brasil, vai voltar a ser realizado. Após ser suspensa pelo governo federal, no dia 21 de julho, a pesquisa que faz o levantamento do percentual de pessoas com anticorpos para o coronavírus em todo o país e avalia a velocidade de expansão da doença volta para a realização das fases 4, 5 e 6, com aporte do Todos pela Saúde.

O anúncio foi feito nessa quarta-feira (05) pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que coordena o estudo. A quarta etapa de entrevistas e testes rápidos será entre os dias 20 e 23 de agosto, em 133 cidades distribuídas entre todos os estados brasileiros.

“Os números de casos de infecção, internações e mortes por coronavírus se mantêm altos dia após dia no Brasil. Neste momento, precisamos das melhores evidências para embasar ações, preservar a saúde e prevenir mortes evitáveis de brasileiros”, ressalta o epidemiologista, coordenador geral do estudo e reitor da UFPel, Pedro Hallal.

A continuidade do estudo, que teve três fases anteriores financiadas pelo Ministério da Saúde, tornou-se possível através de investimento do programa Todos pela Saúde, fundo criado pelo Itaú Unibanco para apoiar o enfrentamento da covid-19 no Brasil em diversas frentes, entre elas, o suporte a iniciativas de pesquisa científica. O aporte é de R$ 11,7 milhões

Conforme aponta a reportagem de Naira Hofmeister, do site jornalístico Matinal, o valor é quase a totalidade do investido pelo Ministério da Saúde nas primeiras três fases do estudo, R$ 12 milhões, entretanto, não é o suficiente para a realização completa das próximas etapas. Isso porque agora a UFPel precisará comprar quase 100 mil novos testes rápidos, além de equipamentos de proteção individual para os 1.700 entrevistadores do Ibope que vão a campo. “A rede de apoio extraoficial que a UFPel organizou para minimizar o impacto da falta de apoio institucional do Ministério da Saúde será ainda mais importante agora que a pasta deixou o projeto. Ela conta com a Associação Nacional dos Promotores de Justiça e com a capilarizada presença da Igreja Católica”, aponta a reportagem. 

Etapas 

As três primeiras etapas, realizadas de 14 a 21 de maio, 4 a 7 e 21 a 24 de junho, entrevistaram quase 90 mil pessoas. O resultado permitiu conhecer o comportamento do vírus no Brasil. Segundo a pesquisa, para cada diagnóstico confirmado, existem ao redor de seis casos reais não notificados. De cada cem infectados, um vai a óbito.

A quarta etapa segue a mesma metodologia das anteriores. Cerca de dois mil entrevistadores do Ibope Inteligência voltam às ruas, entre os dias 20 e 23 de agosto, para visitar residências e realizar testes rápidos e entrevistas com 250 moradores em cada município incluído no estudo, totalizando amostra nacional de 33.250 participantes somente nesta etapa da pesquisa.

Resultados da pesquisa

De acordo com a pesquisa, em um mês, a prevalência do coronavírus dobrou na população: os percentuais passaram de 1,9% (1,7 – 2,1%, pela margem de erro), na primeira etapa; para 3,1% (2,8 -4,4%), na segunda; e alcançaram 3,8% (3,5 – 4,2%), na última etapa. Nesse mesmo intervalo, o distanciamento social (percentual de pessoas que ficam sempre em casa) caiu de 23,1% para 18,9%.

Os pesquisadores ainda identificaram a existência de “várias epidemias” em curso simultâneo no país, com diferenças entre as regiões brasileiras e desigualdades entre grupos étnicos e socioeconômicos. Enquanto, no Norte, 10% da população, em média, têm ou já teve coronavírus, no Sul, esse percentual está em torno de 1%.

Em todas as fases da pesquisa, os 20% mais pobres apresentaram o dobro do risco de infecção em comparação aos 20% mais ricos. Além disso, indígenas tiveram um risco cinco vezes maior do que os brancos. “Mostramos que os pobres e os indígenas são os grupos mais vulneráveis, que requerem ainda mais atenção de políticas de saúde pública”, afirma Hallal.

A pesquisa também estimou que crianças têm a mesma chance de adultos para contrair o vírus e, diferente do que cogitava inicialmente a ciência mundial, aproximadamente 90% dos casos apresentam sintomas. Os cinco mais frequentes, relatados por cerca de metade dos entrevistados com anticorpos para a covid-19, foram dor de cabeça (58%), alteração de olfato ou paladar (57%), febre (52,1%), tosse (47,7%) e dor no corpo (44,1%). “Pessoas com perda de olfato e paladar, por exemplo, poderiam ser testadas e isoladas em caso de diagnóstico positivo, já que este sintoma foi cinco vezes mais frequente entre os casos positivos comparados aos negativos”, completa.

Como funciona a pesquisa


Durante a visita, os pesquisadores coletam uma gota de sangue da ponta do dedo do participante/ Daniela Xu

O estudo inclui a cidade mais populosa de cada uma das 133 regiões intermediárias do país, que são divisões do território nacional definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A seleção das residências e das pessoas que serão entrevistadas e testadas ocorre por meio de um sorteio aleatório, utilizando os setores censitários do IBGE como base.

Durante a visita, os pesquisadores coletam uma gota de sangue da ponta do dedo do participante, que será analisada pelo aparelho de teste em aproximadamente 15 minutos. Em caso de resultado positivo, os profissionais comunicam a Vigilância Epidemiológica local.

O Epicovid19-BR tem aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e cumpre todos os requisitos de segurança necessários, para proteger os pesquisadores e a população.

Em caso de dúvidas, os participantes podem entrar em contato para informações sobre as visitas às casas pelos telefones 0800-800-5000, (11) 3335-8583, (11) 3335-8606; (11) 3335-8610, ou pelos e-mails [email protected] e [email protected].

*Com informações da Assessoria de Comunicação da UFPEL e Matinal News

Edição: Marcelo Ferreira