Rio Grande do Sul

Contra o Veneno

Fórum lança nota de repúdio ao uso dos herbicidas 2,4D e em apoio à sua proibição

De acordo com documento, o herbicida é associado, entre outros, à problemas hormonais e reprodutivos

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Para o coordenador do Fórum, a única segurança está na proibição do uso desse veneno
Para o coordenador do Fórum, a única segurança está na proibição do uso desse veneno - Foto: Pixabay

Nesta terça-feira (4) o Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (FGCIA) entregou uma carta de apoio ao Projeto de Lei 214/2019, que dispõe sobre a proibição e do uso do agrotóxico a base do ácido 2,4-D no Rio Grande do Sul. Junto a essa carta, a entidade entregou à presidência da Assembleia Legislativa uma nota de repúdio sobre o uso do herbicida. O texto, com base em documentação científica, relaciona o uso do produto à problemas hormonais e reprodutivos, câncer urológico, de próstata, linfomas não-Hodgkin e alterações e defeitos genéticos em filhos de pessoas a ele expostas. 

O 2,4 D é tido como um produto usado com frequência para controlar plantas daninhas e para proteger espécies de plantas invasoras, e em misturas para aumentar a eficiência de outros herbicidas. Contudo, conforme aponta o coordenador adjunto do Fórum, Leonardo Melgarejo, o produto costuma conter impurezas altamente perigosas, as chamadas dioxinas. “São venenos sobre os quais não tem controle, causam danos de forma progressiva, ao qual não há antídoto, eles se acumulam nas gorduras, começam nos primeiros bichos que entram em contado e vão subindo nas cadeias alimentares, gerando efeitos de alteração genética e câncer, enfim, são mortais”, ressalta. 

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Melgarejo salienta que o veneno circula no ar, à deriva e que a flutuação dessas moléculas depois da aplicação avança quilômetros. “Isso vem fazendo com que milhares de agricultores gaúchos percam todo ou grande parte do seu trabalho e de sua renda em setores muito relevantes da nossa economia como a uva, a maçã, pêssegos e hortaliças. As pastagens também são afetadas, eventualmente”. 

Segundo a nota encaminhada pelo Fórum, as evidências de danos observados, neste caso de prejuízos econômicos, trazem 80% das amostras coletadas em plantações afetadas, em 22 municípios gaúchos. O que demonstra a relevância de um problema oculto, que afeta a população gaúcha e cujas dimensões sobre o sistema de saúde e a harmonia entre as famílias sequer podem ser estimadas.

“Existem pessoas que dizem que esses problemas só acontecem com agricultores que não tomam o devido cuidado. Isso é falso, não existe precaução suficiente. Se levarmos em conta os debates recentes, que tratam dos prejuízos de agricultores que cultivam suas lavouras ou suas árvores de plantas de folhas largas próximas às lavouras de soja transgênica, vem tendo prejuízo que mostra que não há controle”, reforça Melgarejo. 

Conforme o coordenador, a Anvisa estabeleceu o limite máximo de tolerância para resíduo de dioxina no 2,4D, que é de 0,01 parte por milhão, o que equivale a um centesimo de litro de dioxina em um milhão de litros de 2,4D. “Não existe nenhuma organização com a responsabilidade de fazer essas medidas ou com a competência para verificar esse limite nas embalagens. Não temos nenhuma segurança de que as recomendações vão ser respeitadas, que a população não vai ser atingida. A única segurança está na proibição do uso desse veneno. É isso que o Fórum pede. Esperamos que o PL 214 trâmite e que seja votado antes da próxima safra. 

PL reforça o pedido de proibição do uso do agrotóxico

De autoria do deputado estadual Edegar Pretto (PT), o PL 214, em tramitação na Assembleia, tem como objetivo a proibição da comercialização e uso do agrotóxico diclorofenoxiacético 2,4 2,4-d. De acordo com o projeto de lei, o agrotóxico ácido 2,4-D atualmente é questionado em vários países. Este produto é proibido na Dinamarca, Suécia e Noruega. Na União Europeia está ameaçado por seu potencial de desregulador endócrino (altera a função hormonal)

“A presença do produto em áreas urbanas de alguns municípios é a comprovação de que a deriva vai mais longe do que os laudos técnicos dos órgãos oficiais demonstram. Estudos indicam que o produto é tóxico para macro e microrganismos benéficos à fertilidade dos solos, afetando também predadores naturais causando desequilíbrios ecológicos”, expõe a justificativa do PL.

Veja aqui a nota completa.

Edição: Marcelo Ferreira