Rio Grande do Sul

REAJUSTE ATRASADO

Em audiência pública, centrais sindicais cobram aprovação do mínimo regional

Sem regime de urgência, projeto aguarda votação desde fevereiro na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Em janeiro, centrais haviam pedido urgência na tramitação em encontro com líderes do governo
Em janeiro, centrais haviam pedido urgência na tramitação em encontro com líderes do governo - Foto: Grazielle Araujo

As centrais sindicais gaúchas cobram dos deputados estaduais a aprovação do salário mínimo regional, depois do Projeto de Lei 35/2020 ter sido enviado à Assembleia Legislativa do RS sem regime de urgência, em fevereiro, pelo governador Eduardo Leite (PSDB). O pedido dos trabalhadores foi feito na tarde desta segunda-feira (3), em audiência pública virtual promovida pela Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, presidida pelo deputado Sebastião Melo (MDB).

Com data-base em 1º de fevereiro, o chamado piso regional de 2020 ainda não foi corrigido porque os deputados estaduais ainda não votaram o projeto. Depois de ter passado na Comissão de Constituição e Justiça, a proposta se encontra na Comissão de Economia, onde um relator será designado na próxima semana.

O projeto do Executivo propõe um reajuste de 4,5%, abaixo do índice de 4,709% do mínimo nacional, que passou para R$ 1.045,00 em 1º de fevereiro. Com a proposta do governador, as cinco faixas salariais ficariam entre R$ 1.292,82 e R$ 1.638,36. O aumento seria retroativo a 1º de fevereiro.

As centrais, que entregaram reivindicação de 8,12% em 23 de janeiro, concordaram em flexibilizar a demanda após o início da pandemia e aceitar a proposta do governador. Contudo, nem assim o projeto foi aprovado até agora.

SC e PR reajustaram e geraram empregos

“O estado de Santa Catarina já corrigiu o salário em 4,9% e em junho, segundo o Caged, teve incremento em 3.721 empregos com carteira assinada. No Paraná, o aumento foi de 5.8% no salário e mesmo assim, teve elevação de 2.829 vagas de emprego em junho. O RS, que optou por dar barrigada, perdeu 4.851 empregos formais sem ter reajuste”, afirmou o secretário estadual de Organização e Política Sindical da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Claudir Nespolo.

Ao destacar que o argumento de que a correção de mínimo regional resultaria em perda de empregos não é verdadeira, Nespolo pediu agilidade na votação do projeto, que já devia ter sido apreciado no plenário da Assembleia em fevereiro. "Quem tem fome tem pressa", ressaltou.

O presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor, afirmou que o projeto não estabelece um aumento de salário, mas apenas a recomposição de uma inflação que já corroeu os salários. “Temos 331 mil domésticos, a maioria deles são informais e o salário regional serve de parâmetro. O salário mínimo regional é uma ferramenta de distribuição de renda, pois esses trabalhadores vão fortalecer o comércio e a economia local, portanto restringir o poder de compra destes trabalhadores significa quebrar as pequenas e médias empresas que estão estabelecidas nos pequenos municípios”, sustentou.

Para Guiomar, a função do Estado é buscar o equilíbrio social e, portanto, “se dá bilhões em incentivos fiscais para as empresas, por outro lado precisa buscar também uma solução mínima para os trabalhadores”.

O deputado Zé Nunes (PT) também ressaltou que a votação do projeto já devia ter acontecido. Lembrou que antes de ser deputado, ele foi cooperativado e, portanto, a discussão de trabalho, renda e remuneração faz parte das suas atividades. Para o parlamentar, a situação do emprego de Santa catarina e Paraná pode ter contribuído para os estados estarem em melhores condições neste período de pandemia.

“É preciso entender que essa discussão da aniquilação da renda é um erro, pois é o trabalhador que faz a economia girar. Achar que o salário regional não é importante é um erro. Ele faz a diferença na economia dos municípios”, defendeu.

Trabalhadores já perderam demais

O deputado Fernando Marroni (PT) chamou a atenção que, mesmo na pandemia, os mais ricos lucraram R$ 177 bilhões e agora os empresários argumentam que não podem conceder um reajuste abaixo da inflação. “Desde 2015 se dizia que devíamos desregulamentar para recuperar a economia. Então, tivemos que fazer reforma da Previdência. Foi feita, mas nós continuamos e foi aprovada lei para baixar os salários dos trabalhadores. Agora, as centrais cederam e os empresários vêm aqui dizer que não podem aprovar o projeto do governo porque vão falir”.

Para Marroni, não dá para considerar uma sociedade democrática aquela que ataca os direitos dos trabalhadores. “Onde foi que ficou provado que o salário aumenta a informalidade? Quando foi que a economia mais cresceu? Os trabalhadores já perderam demais, já flexibilizaram a possibilidade de negociação. Não serão os bilionários que vão nos salvar. Seremos nós mesmos”.

A reunião contou com a participação de representantes das entidades patronais e do secretário do Planejamento, Orçamento e Gestão, Claudio Gastal. Ele justificou que a partir de março o cenário econômico mudou e que SC, que está com o mínimo regional 16,2% acima do nacional, e PR 31%, encaminharam os reajustes antes da pandemia.

Mesmo assim, afirmou, o RS segue com o piso regional 24% maior que o nacional. Faltou dizer que o piso regional, quando foi criado no governo Olívio Dutra (PT), em 2001, representava 30% acima do mínimo nacional.

Assista à transmissão da audiência pública

* Com informações da CUT-RS

Edição: Marcelo Ferreira