Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Marchezan, governo de retrocessos que cala vozes apagando a inclusão social

Prefeitura debate política de reciclagem sem a presença de representantes de catadores e catadoras da cidade

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"A dignidade humana passa longe da gestão do governo Marchezan, que impôs uma agenda de asfixia à reciclagem" - Divulgação

No artigo Pela circulação da vida, deixem as catadoras e catadores trabalharem!, eu descrevo que "Porto Alegre amarga retrocessos, calando vozes, matando a democracia, riscando da sua política a inclusão social", justamente porque amargamos retrocessos até agora. Não estar na live “Projetos inovadores para uma Porto Alegre sustentável”, da prefeitura, é ter nossa voz calada.

A democracia não é só o votar em quatro anos, mas sim construir a cidade que queremos, participando de espaços de poder e de construção, ainda mais quando somos protagonistas. Claro, a inclusão social, tanto pela prefeitura como pelas "ações" da primeira-dama, são meramente assistencialismo da exclusão.

O card acima é a materialização deste artigo que escrevi para o Brasil de Fato RS, com apoio da Katia Marko, onde descrevo a proibição da circulação dos catadores em Porto Alegre em meio à pandemia. Já não bastasse a letalidade do vírus, vem ainda essas necropolíticas, que aproximam ainda mais a categoria da morte ante nossas vidas altamente precarizadas, invisibilizando nossos corpos, vozes, trabalho e principalmente como seres humanos racionais.

Afinal, eu só tenho 40 anos de catação, apenas fui consultor na criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), contribuo na implantação de sistemas de Logística Reversa desde 2016. Justamente isso me credencia para ficar de fora da construção da política de Logística Reversa da cidade, que leva como tema "inovação e sustentabilidade", o que acho, pela forma que constroem, poderia se chamar "EXCLUSÃO E INVISIBILIDADE". Aí sim, poderiam perfeitamente serem os únicos a falar, pois esta é a arte política por eles dominada - aí sim, são protagonistas.

A logística reversa nas mãos deles é para que seja uma transferência de dinheiro público para a iniciativa privada, que na prestação de serviços de coleta não gera trabalho, no fino sentido da palavra, mas sim a exploração mais cristalizada que se pode ver. Ou seja, verdadeiros atletas que são os garis, correndo mas de 50 quilômetros diários atrás de caminhões, recebendo menos de mil reais líquido por mês. O que sequer lhes garante uma alimentação adequada, vistas aos esforços gigantescos que fazem.

A dignidade humana passa longe da gestão do governo Marchezan, que impôs uma agenda de asfixia à reciclagem, diminuindo postos de trabalho em galpões, matando a educação ambiental e inviabilizando o que seria "coleta seletiva" no seu melhor teor de compreensão falada: a separação dos resíduos. Justamente porque os índices de rejeito subiram de 30% para quase 50% nestes últimos anos, fazendo com que as catadoras e os catadores não conseguissem atingir a renda de um salário mínimo mensal.

Esta live merece acompanhamento - assista aqui. Merece as críticas e merece participação social, mesmo que como espectadores, até mesmo para nos comentários emitirem suas opiniões. Sociedade, manifeste-se. Não se calem antes que eles cessem de vez a nossa voz.

* Alex Cardoso é membro do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis

Edição: Marcelo Ferreira