Dois atos simbólicos em Porto Alegre realizados nesta quarta-feira (22) cobraram testagem para covid-19 de todos os trabalhadores e trabalhadoras da área da Saúde. Um deles foi em frente ao portão de acesso do complexo de sete hospitais da Santa Casa de Misericórdia, no centro de Porto Alegre. O outro foi em frente Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), conhecido como Postão da Cruzeiro.
Os trabalhadores têm chamado a atenção para a desproteção à qual estão submetidos aqueles que lidam na linha de frente do combate à pandemia. Em todo o Brasil, já são quase 200 mil profissionais da saúde infectados pela doença, conforme dados do Ministério da Saúde. O boletim mais recente traz 176 óbitos, mas os números sinalizam subnotificação, pois o Observatório da Enfermagem já registra 295 mortes por covid-19 apenas entre os profissionais de Enfermagem.
No Rio Grande do Sul, até a primeira semana de julho, eram mais de 4,4 mil trabalhadores contaminados, segundo dados o governo estadual. Números que poderiam estar muito mais controlados se as testagens estivessem sendo realizadas conforme determina a Organização Mundial da Saúde, conforme apontam os trabalhadores.
Uma pandemia na Saúde do RS
“Há uma pandemia instalada no sistema de saúde do RS e nós estamos aqui defendendo a testagem como a melhor forma, reconhecida pelos infectologistas, para mapear e controlar a disseminação do coronavírus”, afirma Amarildo Cenci, presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS). A Central esteve presente em ambas as manifestações desta quarta, assim como em outras promovidas nas últimas semanas diante do Hospital São Lucas, da PUCRS, e do Hospital das Clínicas, na capital gaúcha, e no Hospital São Camilo, em Esteio.
O presidente do Sindisaúde-RS, Júlio Jesien, afirmou que “a principal reivindicação hoje é a testagem em massa da categoria, haja visto que a prevenção é o melhor remédio”. Ele alertou que “praticamente não há mais leitos de UTIs” para pacientes com covid-19, ressaltando que ouviu do superintendente do Grupo Hospital Conceição (GHC) que “estamos chegando à situação do filme Escolha de Sofia, ou seja, tem que escolher quem vive e quem morre. Isso é extremamente preocupante para a sociedade gaúcha”.
“Na primeira quinzena de maio, a gente dizia que os gaúchos iriam chorar muito aquela flexibilização que tanto o prefeito Marchezan como o governador Leite promoveram naquele período e hoje estamos assistindo a isso lamentavelmente”, lembrou o dirigente do Sindisaúde-RS, que também criticou a política “genocida” do governo Bolsonaro.
A diretora do Sindisaúde-RS, Estela Mar, salientou que o ato “é importante para dar valor aos trabalhadores da saúde”. Ela explicou que o ato reuniu poucas pessoas como forma “de se cuidar e dar proteção e apoio a quem precisa”.
Porto Alegre não testa mas investe em propaganda
No Postão da Cruzeiro, o ato contou com a participação da Comissão de Trabalhadoras e Trabalhadores do PACS e o Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa). Os servidores protestaram contra a falta de uma política de testagem para a covid-19, por parte da gestão Marchezan, focada nos profissionais da saúde que lidam com a doença nos hospitais, pronto-atendimentos e postos da Capital.
Todos os dias são feitas mais de 60 coletas de pessoas que vão ao PACS com sintomas do coronavírus e, segundo relatado durante o ato, ao menos sete trabalhadores já foram positivados. "Sabemos da letalidade desta pandemia, mas infelizmente os governos Eduardo Leite e Marchezan nos obrigam a fazer um ato e dialogar com a população para denunciá-los por não tratarem com os devidos protocolos os trabalhadores da saúde. Estamos na linha de frente", destacou o representante da CUT-RS no Conselho Municipal de Saúde, Alberto Terres.
O diretor-geral do Simpa, João Ezequiel, disse que "para além de sermos servidores e atender a população, nós também temos de fazer a defesa do SUS, dos trabalhadores e trabalhadoras que estão na linha de frente arriscando suas vidas, enquanto o prefeito Marchezan usa cerca de R$ 3 milhões da saúde para propaganda, deixando os trabalhadores sem EPIs adequados e sem testagem”, denunciou.
“O laboratório do PACS poderia estar sendo usado para fazer a testagem de cada servidor, mas a gestão Marchezan não faz mesmo tendo todas as condições para isso. Há poucos dias, houve um surto no plantão de saúde mental do PACS. E somente depois de muita pressão dos trabalhadores, do Simpa e do Conselho Municipal de Saúde, ontem recebemos resposta ao ofício que encaminhamos à Secretaria Municipal de Saúde. Segundo a SMS, foi feita a testagem daqueles servidores. Mas, vamos seguir fiscalizando para ver se é verdade e para garantir que a testagem seja feita com todos os servidores da saúde”, disse o dirigente.
O Simpa também defendeu o SUS contra as políticas de desmonte e terceirização, ressaltando que somente o sistema, com seus trabalhadores e trabalhadoras, é capaz de fazer frente à pandemia, mesmo diante de todas as adversidades causadas pelos governos de Bolsonaro, Leite e Marchezan.
Cobrança de testes está na justiça
No dia 8 de julho, a CUT-RS e Federação dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde (Feessers) moveram uma ação judicial contra as federações patronais cobrando a testagem dos profissionais de saúde. Segundo Amarildo, já ocorreram duas audiências de mediação no Tribunal Regional de Trabalho da 4ª Região (TRT-4).
“Há muita resistência, especialmente dos gestores privados dos hospitais, mas já conseguimos o apoio da Federação dos Municípios (Famurs), para que se priorize a testagem aos trabalhadores da saúde, que estão na linha de frente cuidando das nossas vidas”, disse Amarildo. “Quem cuida da vida não pode morrer”, sublinhou. Nova mediação está marcada para a próxima segunda-feira (27), às 14h.
“É impressionante o desespero dos trabalhadores da saúde, pedindo socorro, no sentido de que a gente continue nas ruas, lutando e fazendo essa denúncia pública, para que a sociedade e os poderes públicos se mobilizem para o atendimento dessa demanda”, enfatizou Amarildo. Ele ainda denunciou a atitude de gestores que obrigam funcionários a fazer testes e pagar o custo do próprio bolso. “Isso é um absurdo”, disparou.
* Com informações da CUT-RS, Simpa e Sindisaúde/RS
Edição: Marcelo Ferreira