Rio Grande do Sul

EDUCAÇÃO NA PANDEMIA

Direções escolares do RS reivindicam medidas em defesa da vida e contra o assédio

Manifesto entregue ao governo aponta sete demandas vitais para cumprir a função social atribuída à escola pública

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Educadores ressaltam a necessidade de manter as escolas fechadas durante a pandemia - Divulgação CPERS

Plantões presenciais, risco de contaminação, falta de recursos humanos, assédio, sobrecarga, estresse e ansiedade. Frente a essa realidade dos educadores da rede estadual na pandemia, diretores de 118 escolas foram até o Piratini, na manhã desta terça-feira (21), entregar um manifesto com uma série de demandas emergenciais ao governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Intitulado “Nosso compromisso é com a vida, com a escola pública e com o conhecimento para todos!”, o documento traz reivindicações como internet para toda a comunidade escolar, ampliação de recursos para a educação, auxílio emergencial para alunos da rede pública, retorno às aulas somente quando houver segurança sanitária e monitoramento e assistência a educadores(as) contaminados por covid-19.

Os educadores e educadoras também protocolaram o documento na Assembleia Legislativa e caminharam até a Secretaria da Educação (Seduc), onde entregaram o manifesto para a secretária-adjunta, Ivana Flores, e o diretor-geral da Seduc, Paulo Magalhães. Durante o encontro, os diretores e diretoras denunciaram a falta de diálogo do governo com a comunidade escolar e ressaltaram a necessidade de manter as instituições de ensino fechadas durante a pandemia.


Documento foi entregue à Seduc / Divulgação CPERS

Segundo a secretária-adjunta, a Seduc está aberta a um diálogo mais próximo com a comunidade. “Sabemos das dificuldades e estamos buscando soluções. Vamos lançar um canal online para que todo cidadão possa opinar sobre a situação das escolas públicas nesse período difícil”, disse.

Pandemia e sobrecarga de trabalho

Acometida por covid-19 durante o mês de junho, a diretora do Colégio Estadual Protásio Alves, Eliana Alves Flores, afirma que possivelmente contraiu o vírus enquanto fazia plantões presenciais na escola. Ela tentou buscar auxílio da Seduc e da 1ª Coordenadoria Regional da Educação (CRE), mas não obteve sucesso, e se viu obrigada a usar o dinheiro da autonomia financeira para fazer a desinfecção da escola.

Eliana afirma ainda que o governo não se responsabilizou em realizar a testagem de todos os envolvidos. “No Protásio Alves, a gente deixou de fazer plantão para atender fisicamente. Só fizemos atendimento de forma virtual porque a Seduc e a 1ª CRE, responsável pelas escolas de Porto Alegre, ignoraram esse caso que ocorreu. Enviamos um email e pedimos que fosse feita uma desinfecção. Eles não atenderam”, denuncia.

Eliana também expôs que a mantenedora diariamente envia emails com exigências abusivas sendo praticamente impossível cumpri-las no tempo exigido: “Eles pedem coisas para fazermos hoje para ser cumprido amanhã. É desgastante”, desabafa.

Já a diretora da Escola Alberto Torres, Marcilene da Silva, afirma que, além de ter que lidar com a sobrecarga de trabalho, sofre ameaças constantes da CRE. Segundo ela, a mantenedora ameaça fechar a sua escola caso não use a plataforma Google Classroom, imposta pelo governo, pressionando a diretora a denunciar os colegas que não utilizarem o aplicativo.

“Estou exausta. As demandas da Seduc são impossíveis de serem cumpridas no prazo. Vamos na escola. Atendemos os pais e mães. Entregamos atividades. Acordo cedo e vou dormir às 2h da manhã para cumprir com todas as demandas impostas pela Seduc e pela CRE. Vivemos sob ameaça”, disse a diretora.

Escolas Fechadas, vidas preservadas


Educadores também protocolaram manifesto na Assembleia Legislativa / Divulgação CPERS

Uma das organizadoras do manifesto, Neiva Lazarotto, vice-diretora do Colégio Emílio Massot, afirma que é preciso olhar para a realidade de quem trabalha no chão da escola. “Reivindicamos a valorização dos educadores(as), que sejamos respeitamos e atendidos. Já tivemos uma diretora e vice contaminadas e estamos em bandeira vermelha, mas o que o governo está fazendo para preservar nossas vidas?”, questiona.

O consenso científico não mudou desde o primeiro fechamento das escolas: isolamento social é a única forma de conter o avanço da doença. Para o Sindicato dos Professores e Funcionários de escola do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS), a falta de testes, de recursos humanos e materiais, e de controle da curva, inviabilizam qualquer possibilidade de retorno às aulas presenciais em curto ou médio prazo.

“Estamos nessa situação da pandemia, não bastassem todos os problemas que temos na educação que se arrastam ao longo dos anos com o congelamento salarial, o atraso de salário, a pandemia também está sendo marcada por um governo que se exime da responsabilidade de preservar a vida dos educadores. Além disso, exige uma série de coisas das escolas, sobrecarregando as direções escolares e impondo demandas sem planejamento”, explica o diretor do CPERS, Daniel Damiani.

* Com informações do CPERS

Edição: Marcelo Ferreira