Comunicação sindical, militância digital, disparo em massa de mensagens falsas, combate a fake news, acesso à internet, direito à comunicação e as mudanças repentinas para levar a informação em tempos de pandemia foram alguns dos temas debatidos durante a live da CUT sobre “a comunicação em tempos de isolamento social”, que aconteceu nesta quinta-feira (16), e foi transmitida nas páginas do Facebook e Youtube da entidade. A mediação foi do jornalista André Accarini.
Durante o bate papo de uma hora e 17 minutos, que aconteceu entre o secretário nacional de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, a deputada federal Natália Bonavides (PT/RN) e o diretor de Comunicação da Rede Brasil Atual e da TVT, Paulo Salvador, o dirigente CUTista afirmou que os desafios da comunicação são permanentes.
Segundo Roni, o movimento sindical precisa se comunicar com as bases, com cada trabalhador e cada trabalhadora deste país, com a sociedade em geral e cada sindicalizado para mostrar sempre o lado da classe trabalhadora, agora e no pós pandemia.
“A comunicação tem sido diferente e o movimento sindical teve que se adaptar da noite para o dia para seguir com a luta em defesa da classe trabalhadora. Ainda mais, porque os dirigentes sindicais estavam acostumados a fazer reuniões, assembleias e plenárias presenciais e passaram a fazer todos estes processos virtualmente”, afirmou.
De acordo com Roni, a CUT vem desenvolvendo a comunicação junto com seus sindicatos, federações e confederações já há um bom tempo, de uma forma coletiva e unificada com o objetivo de alcançar no mínimo 30% da população brasileira que se identifica com as pautas da esquerda e do movimento sindical.
“Estamos integrando nosso site com as CUTs nos estados, queremos fazer isso com os ramos, e estamos trabalhando com Inteligência Artificial e tecnologia para ampliar o alcance da nossa mensagem. Além disso, a gente vem articulando com os secretários de comunicação pautas nacionais, discutindo como podemos repetir o sucesso do 1º de maio e o envolvimento da cultura e do esporte nos nossos discursos. A comunicação só dará certo quando tudo isso estiver juntos”, afirmou.
O dirigente também disse que a esquerda brasileira precisa ter uma militância digital forte e articulada capaz de derrotar políticas antipopulares e os ataques dos governos à classe trabalhadora.
“Precisamos trabalhar para fazer com que as informações da luta dos sindicatos cheguem a nós, trabalhadores e sócios, com o uso das tecnologias. Precisamos nos preparar para fazer greves e mobilizações virtuais cada vez melhores e ainda precisamos nos organizar para combater fake news [notícias falsas], denunciar este desgoverno e lutar pela democracia”, disse Roni.
Fake News e democracia
A deputada, que é advogada e membro da CPMI das fake news no Congresso Nacional, falou da importância que tem o combate as notícias falsas para a democracia. Este modelo de comunicação sempre afetou as histórias no mundo, como a eleição que o ex-presidente Lula perdeu em 1989 e as eleições dos Estados Unidos e até da saída do Reino Unido da União Europeia, disse Natália.
“Não é de hoje que se cometem crimes como métodos políticos para desqualificar os adversários, o que mudou foi só a forma. Precisamos adotar o termo inglês para esta metodologia ultraliberal que é feita nas redes sociais e atinge milhões de pessoas em todo mundo num dia e efetivamente tem gente que vai acreditar”, afirmou.
"A gente não está falando de pessoas loucas que rasgam dinheiro, eles têm lado e fazem a luta. Jamais investiriam tanto dinheiro para massificação de fake news se não tivesse impacto na sociedade", salientou Natália.
As fake news também estão trazendo impactos negativos para a saúde pública na pandemia e que pode inclusive ter matado pessoas, acrescentou a deputada. Segundo ela, é preciso lutar para acabar com isso, mas com cuidado para não invadir a linha tênue entre o combate as notícias falsas e a liberdade de expressão.
“Já existe a criminalização da calunia e difamação, mas temos que tratar especificamente como os algoritmos estão permitindo que aconteçam todos estes crimes e estão saindo impunes? Não é simples debater isso, porque precisamos sempre nos preocupar em proteger a liberdade de expressão e a comunicação democrática”, afirma Natália, se referindo a preocupação em construir a legislação sem deixar brechas para a criminalizando da comunicação dos movimentos social, popular e sindical.
Paulo Salvador disse que as fake news na mídia tradicional têm outro nome e que são mais conhecidas como factóides, que no dicionário diz que são informações falsas ou não comprovadas que se aceitam como verdadeira em consequência de sua repetida divulgação pela imprensa, como foi o caso do discurso de ódio contra o ex-presidente Lula.
“Outro dia eu vi um vídeo em que uma mulher perguntava para a outra por que ela achava que o Lula é ladrão e ela disse que era o que tinha visto na televisão e se a televisão falou é porque é verdade. O factóide faz mais mal do que as próprias mentiras”, afirmou.
PL das Fake News
Natália inclusive comentou sobre o Projeto de Lei 2.630/2020, que propõe medidas de combate à propagação de notícias falsas e foi aprovado no Senado no dia 30 de junho, e que agora está sendo debatido na Câmara.
“Estamos tentando melhorar o texto e estamos tomando todos os cuidados em relação a esta linha tênue entre barrar as fake news e a liberdade de expressão, mas precisa ter uma regulação. Esta ação criminosa, que envolve inclusive a família Bolsonaro, está contribuindo para a criminalização da política, atacando reputações, a democracia e colocando instituições e a saúde pública em riscos e temos que combater isso”, frisou a deputada.
Acesso à internet
Uma preocupação, que apareceu em todas as falas dos convidados, foi a questão do acesso à internet, que não é tão democrático e André fez questão de lembrar que a cada 4 pessoas 1 não tem internet.
A exclusão digital, exclui e dificulta o combate a fake News, destaca Natália. Segundo ela, para desmascarar uma notícia falsa é preciso que a pessoa clique no link que recebeu para ver além da manchete e pesquisar se o conteúdo é realmente verdadeiro, as pessoas não têm dados para seguir adiante e acredita logo no que lê no corpo da mensagem.
“Não foi à toa que as fake News em outros países eram usadas mais no Facebook e no Brasil o Whatsapp, porque geralmente esta plataforma é de graça nos pacotes das operadoras. E sem acesso à internet a pessoa nem pensa em fazer a checagem”, afirmou.
Roni questionou Natália se não tem debate sobre o acesso à internet no Congresso e ficou preocupado quando ela respondeu que não. “O acesso à internet é fundamental para a democracia. É fundamental que o Congresso Nacional e todos nós façamos este debate”, afirmou o dirigente sindical.
Mudanças repentinas de trabalho e produção
Paulo Salvador contou que a Rede Brasil Atual e a TVT (TV dos Trabalhadores), veículos de comunicação mantidos por sindicatos, já estavam em processo de mudanças quando começou o isolamento social em São Paulo, onde ficam as sedes dos veículos.
E, segundo ele, parte do processo de trabalho ficou remoto e que com isso mudaram alguns formatos das programações audiovisuais e citou como exemplo o programa do Juca Kfouri, que passou a fazer live de casa ao invés de gravar no bar dos bancários.
Paulo Salvador também contou que teve mudanças na grande e inclusive lançamentos de programação durante estes 4 meses de isolamentos social e com grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras de comunicação em trabalho remoto. Agora, afirma Paulo, a discussão e o debate que precisará ser feito é como será no pós pandemia.
“Estamos trabalhando remotamente e com recursos diferentes do que usamos fisicamente e teve interferências na produção de conteúdo, mas muitas coisas que foram feitas neste formato vão continuar no pós pandemia e é isso que iremos discutir a partir de agora”, finaliza.
Assista a íntegra da live.
Edição: CUT Brasil