Defenderei que o tempo não existe, que lugares não coexistem, que ilusões associam-se..
Eu cantarei à Sandra,
A mim, a nós...
Nós, em algum lugar,
Em algum tempo,
Atados;
Defenderei que o tempo não existe,
Que lugares não coexistem,
Que ilusões associam-se...
Minha voz não enfatizará
Colagens
Ou outras bobagens,
Mas a sombra e a luz:
Apenas existirão os contornos.
E as cores ficarão por conta de vós!
Começo falando de uma flor
Apenas semente, Somente pena;
Semente, gosto e cheiro,
Bico de ave, nave,
Em agosto ou janeiro!
Vamos supor que era de
Noite, ventania, raios, trovões
E a ave ou a nave
Teve que soltar a semente
Por sobrevivência;
Caiu então ao acaso
Num retângulo de terra vermelha como centelha!
Havia perto um rio
Que não sei
Se Tietê, Carioca, Jaguaribe, Itajaí-Açu,
Amazonas, Tamamduateí, Botucatu, ou Ribeirão das Cruzes
Regando semente.
A semente, na pedra,
Germinou;
A germinação
Desdenhou do vegetal
E criou olhos,
Dois olhos florais
Que perfumam olhares;
Eu fui contemplado
Por um olhar de perfume!
Realizei um filme
Pra passar em várias sessões durante o instante;
Registrando e contando a mecânica
De como olhas e colhes
O prazer!
Hoje, tal flor,
Está comigo,
Por incrível que pareça,
No dia-a-dia...
Resolvemos então,
Conclamar-vos
Para que pudesseis
Testemunhar
Nossa volta ao eterno
Dentro daquela perspectiva
De uma semente
Encima de uma pedra
À margem de tantos rios,
Rios que se interligam,
Contornando o planeta
E, através deste
Rio contínuo
Passeiam peixes, mitos, taras, índios, outros povos e até Deus!
Mas não somente
Ficareis parados,
Contemplativos...
Sereis, como móbiles,
Ao redor de vós,
Per vós, por outros
E por nenhum.
Afinal,
Não estou falando
Do nada, do vazio,
Mas de copos e garrafas,
Corpos e girafas,
Formas, músicas, amores,
Alto, baixo, profundo, raso, do tênue e do inalcançável;
Parentes, contra-parentes.
De velhos e amigos novos,
De anjos, Deus,
De Sandra, principalmente,
E um pouco de migo,
Através da excelsa locução
Carolíngea.
(Moacir Apaixonado)
Edição: Katia Marko