Pesquisadores estão analisando amostras de água coletadas em estações de esgoto de Porto Alegre e da Região Metropolitana para auxiliar no monitoramento da ocorrência e da distribuição por localidades do novo coronavírus. Desenvolvido pela Universidade Feevale a partir de convênio com o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), o estudo é inédito no estado e está em fase preliminar, apresentando até o momento resultados positivos para o vírus em 17% das análises.
As amostras são de pontos de captação de água bruta, corpo hídrico altamente impactado por esgoto doméstico, afluente e efluente de esgoto sanitário e efluente hospitalar. As coletas são realizadas pelos órgãos municipais e estaduais envolvidos na pesquisa e os testes ocorrem no Laboratório de Microbiologia Molecular da Feevale. Até o momento não existem evidências científicas sobre a possibilidade de transmissão do novo coronavírus por rota fecal-oral. Estudos dessa natureza ajudam a identificar casos da doença em determinada localidade.
Segundo Caroline Rigotto, professora do mestrado em Virologia da Feevale e coordenadora do projeto, ao lado de Aline Campos, chefe da Divisão Vigilância Ambiental em Saúde do CEVS, a ideia é estender o monitoramento por 10 meses, permitindo acompanhar a ocorrência e a distribuição do vírus ao longo da pandemia e das diferentes sazonalidades. “São esperados desdobramentos em estudos genômicos e de modelagem matemática ambiental para diagnóstico coletivo”, afirma Caroline.
Primeiros resultados
A pesquisa teve início em 11 de maio. A terceira rodada de análises ocorreu na semana passada em Porto Alegre e nesta semana está prevista a coleta em Novo Hamburgo. Já foram analisadas 29 amostras coletadas em 10 pontos de coleta, distribuídos em duas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), duas Estações de Bombeamento de Esgoto (EBE), um manancial altamente impactado e quatro hospitais. Também foram incluídas duas amostras coletadas em uma Estação de Tratamento de Água (ETA).
Dessas 29 amostras analisadas, cinco apresentaram resultados positivos (17%). As amostras positivas foram coletadas em uma EBE, uma ETE e um hospital. Caroline lembra que esses resultados são preliminares, mas destaca que, quando comparados os dados entre as três primeiras semanas de coleta, é possível observar um aumento do percentual de amostras positivas.
“Importante ressaltar que, em 11 de maio, Porto Alegre contava com 644 casos de Covid-19 e, em 3 de junho, com 1.367. Nesse sentido, é possível inferir que a presença do vírus no esgoto sanitário apresentou comportamento de crescimento, acompanhando a epidemia na região”, salienta.
No ponto de monitoramento da Estação de Bombeamento de Esgoto (EBE) Baronesa do Gravataí houve a presença do vírus em 100% das amostras de esgoto bruto nas duas coletas realizadas. Já a maior porcentagem de amostras positivas ocorreu nos pontos de monitoramento na Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) São João/Navegantes, que corresponde à segunda unidade de esgotos de Porto Alegre em termos de capacidade de tratamento. Nas amostras analisadas em pontos de monitoramento dos efluentes de estabelecimentos hospitalares, por sua vez, verificou-se um resultado positivo na terceira semana de coleta.
Análise e processamento
A coleta de amostras é realizada por uma equipe colaborativa interinstitucional, composta, nesta primeira etapa, por técnicos do CEVS, da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) de Porto Alegre, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade de Porto Alegre e da Secretaria Municipal de Saúde de Novo Hamburgo.
A partir da análise do material pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, posteriormente, estudos genômicos das amostras positivas serão realizados no Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT/CEVS), permitindo a comparação com genoma de amostras clínicas de pacientes. O Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS também contribuirá nas análises moleculares e nos estudos genômicos do vírus ambiental.
Já a Fiocruz-RJ realizará o isolamento viral, pesquisando a viabilidade e eventual infectividade do vírus presente nas amostras ambientais. Em posse de dados que permitam uma análise estatisticamente representativa, técnicos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS) realizarão estudos, de modo a contribuir na avaliação do impacto das intervenções adotadas e estudos de modelagem ambiental.
Caroline ressalta que o grupo já está trabalhando no projeto de expansão da pesquisa. “Estamos pensando em pontos estratégicos, como comunidades em vulnerabilidade social e com déficit de esgotamento sanitário e, futuramente, deveremos monitorar escolas também”, afirma a professora. Segundo ela, a epidemiologia baseada em esgoto é uma ferramenta que foi bem aceita e, provavelmente, se estenderá a médio e longo prazo, auxiliando no monitoramento e antecedendo surtos isolados.
* Com informações da Feevale
Edição: Marcelo Ferreira