Rio Grande do Sul

SOLIDARIEDADE

Cresol doa alimentos saudáveis somando forças na campanha de solidariedade da CUT-RS

Famílias da periferia de Porto Alegre desamparadas na pandemia foram beneficiadas por ação da cooperativa de crédito

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Parte das doações foram para comunidade no bairro Glória - Marcus Perez – CUT-RS

A cooperativa de crédito Cresol uniu esforços na campanha de solidariedade de combate à fome organizada pela Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS) durante a pandemia. Nesta quarta-feira (17), a instituição doou 50 cestas básicas de alimentos sem veneno, com arroz, batata, feijão, massa e outros mantimentos adquiridos da Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão (Cooperav). Os alimentos foram distribuídos pela central a famílias de comunidades periféricas de Porto Alegre.

A ação reforça a parceria da cooperativa com a classe trabalhadora gaúcha da cidade, em seu processo de abertura da Cresol Metropolitana. Nascida nos anos 1990 a partir da organização de produtores da agricultura familiar no Sul do Brasil e hoje presente em 17 estados com mais de 500 mil cooperados, a Cresol foi lançada em Porto Alegre, em maio, como uma alternativa financeira aos trabalhadores desatrelada dos grandes bancos e instituições financeiras.

“Em momentos de crise econômica, o sistema financeiro tradicional se ausenta, se retrai, pois ele trabalha com avaliação de risco e acaba saindo do mercado. No geral, cooperativas invertem o processo, dão acesso ao crédito a pessoas excluídas”, destaca o conselheiro da Cresol Tenente Portela Gelson José Ferrari. Segundo ele, como a Cresol é uma instituição que não visa o lucro, as doações são provenientes de recursos de um fundo gerado a partir das operações que os sócios, ou seja, todos aqueles que têm uma conta corrente na Cresol, fizeram em 2019.

Com Estado ausente, doações vêm em bom momento


Foram doadas uma tonelada de alimentos saudáveis produzidos pela Cooperav / Marcus Perez – CUT-RS

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, celebra a doação da Cresol no atual contexto de um Estado desaparecido das periferias. Foram uma tonelada de alimentos que se somam à contribuição dos sindicatos e instituições que compõem a iniciativa solidária. “A CUT está doando alimentos e máscaras, atingimos uma entrega de mais de 100 toneladas de alimentos desde o início da pandemia”, comenta. “Vamos fazer a nossa parte, que não só fala de alimentos, mas do modelo de mundo que a gente quer para o futuro, com solidariedade, um mundo melhor e com Fora Bolsonaro.”

Amarildo destaca que as doações não são caridade, mas sim trabalho de base. “Estamos fazendo relações, elas são parte dessa luta, essas pessoas que necessitam de apoio são trabalhadoras e nós temos que estar nessa luta por igualdade social e por um mundo justo e sustentável.” Segundo ele, a campanha dos sindicatos, que passam por um desmonte, devem inspirar todos a exercer solidariedade. “Quem tem emprego e salário tem que ajudar os que não têm renda. Quem tem um pouco divide com quem não tem nada, nesse sentido temos produzido nossa mobilização.”

Líder comunitário da comunidade do Arraial da Glória, do bairro da Glória, Denis foi buscar algumas cestas para levar à sua comunidade. Ele agradeceu à Cresol pela doação e relatou a situação das famílias. “A ajuda vem de projetos sociais, a prefeitura não ajuda. No auxílio emergencial, muitas famílias carentes não têm acesso à internet e à tecnologia, e muitas pessoas com mais idade têm mais dificuldade. Quem pode está ajudando, mas tem muita família que não recebeu nem a primeira parcela do auxílio emergencial.”

Segundo ele, existem muitos pequenos empreendedores na comunidade que podem ser beneficiados com a chegada da Cresol na Capital. “Na nossa periferia tem muito comércio pequeno, artesãos, costureiras, salão de beleza. Essas pessoas necessitam de linha de crédito para poder se manter aberto e sobreviver, ainda mais por conta da pandemia. Seria muito importante para nós ter a Cresol atuando na periferia”, afirma.

Oportunidade para pequenos empreendedores

Gelson destaca que há alguns anos o trabalhador tinha emprego e estava com certa economia, então veio o desemprego e agora a pandemia. “Nesse ambiente entra a cooperativa de crédito para dialogar com o trabalhador para saber qual linha de crédito precisa para esse momento. Podem ser valores pequenos, trabalhamos com a metodologia do microcrédito produtivo”, afirma. “O desafio é colocar o crédito como vetor do desenvolvimento e melhoria da renda. A Cresol tem esse papel, junto com outras organizações, de fazer com que a gente melhore a vida de pequenos empreendedores, agricultores familiares, pessoa física, donas de casa, para gerar bem-estar.”

Ele destaca ainda que a Cresol trabalha com a educação financeira, conscientizando as pessoas para aplicarem seus recursos com finalidade social. “O agricultor, por exemplo, comercializa seus grãos. Esse recurso vai para a cooperativa e financia outro trabalhador. Trabalhamos dentro das normas do Banco Central, temos a mesma garantia do Fundo Garantidor de Crédito que outros bancos têm. Depois, temos concessão de parte do recurso para a comunidade”, afirma, ressaltando o diferencial do sistema cooperativo de crédito, que traz retorno para a comunidade local.

O secretário de Organização Política e Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, complementa se dizendo envergonhado com a lucratividade dos bancos tradicionais, que nunca têm crise e ganham sempre, e deixa a questão: “Por que tenho conta num Itaú se posso ter minha conta no banco das cooperativas do trabalhador? Essa pergunta cada um tem que se fazer. Porque conta no banco comercial? Agora se tem oportunidade de vir pra Cresol, que é um sistema onde o dinheiro do trabalhador vai valer mais, porque não tem tanta taxa. Também tem suas taxas, mas é um banco que reparte as sobras, em que todo mundo que entra, vira sócio do banco”, conclui.

A Rede Soberania acompanhou a chegada das cestas básicas na sede da CUT-RS em Porto Alegre, na manhã desta quarta-feira. Assista:

Edição: Katia Marko