Rio Grande do Sul

DEFESA DO PATRIMÔNIO

Projeto pretende instituir o Dia do Bará do Mercado Público em Porto Alegre

Anúncio de privatização do Mercado Público deixa povos de matriz africana, usuários e mercadeiros cheios de incerteza

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Bará do Mercado fica no centro do Mercado Público, onde está assentado o Orixá Bará, entidade que abre caminhos - Eugenio Hansen, OFS Wikimedia

O Mercado Público não é um espaço restrito ao comércio, também tem grande relevância para as religiões de matriz africana. Essa importância explica-se por acreditarem os praticantes e simpatizantes das religiões de matriz africana que, ao centro do edifício, está assentado o Orixá Bará. Dentro do panteão africano, ele é a entidade que abre os caminhos, o guardião das casas e cidades e representa o trabalho e a fartura.

Ao longo dos anos, o local era respeitado por todos os porto-alegrenses, independentemente do credo, haja visto a historicidade do próprio Mercado Público. Todavia, nos últimos anos, a Prefeitura de Porto Alegre, na atual gestão do prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB), lançou edital para Concessão de Uso para reforma, restauração, requalificação, manutenção, gestão e operação do Mercado Público Central de Porto Alegre, deixando tanto os povos de matriz africana como usuários e mercadeiros cheios de incerteza quanto à preservação e exploração do local.

Por entender que os bens simbólicos e de reprodução de práticas sociais podem estar ameaçados com a proposta do prefeito, o vereador Adeli Sell atendeu ao pedido da Associação Independente em Defesa das Religiões Afro Brasileiras e protocolou o projeto que irá instituir no calendário de datas comemorativas de Porto Alegre o dia 13 de junho como o Dia do Bará do Mercado Público.

A data do dia 13 de junho é proposta pelo fato de que neste mesmo dia é comemorado o dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro para os católicos, e Bará, para os povos tradicionais de matriz africana. “Para os povos, o Orixá Bará é aquele que abre os caminhos, a quem se pede proteção para retirar a maldade do caminho. Também é conhecido como dono da fertilidade, das correntes e das chaves. Em havendo o reconhecimento da data proposta, se estará preservando não apenas o direito de livre culto dos porto-alegrenses, mas também a historicidade do próprio Bará do Mercado Público, em pleno respeito à ancestralidade que ali existe, e que deve ser preservada”, destaca o vereador Adeli Sell.

Documentário conta a história do Bará do Mercado

O documentário A Tradição do Bará do Mercado traz os relatos de 7 religiosos de matriz africana sobre o fundamento afro-religioso chamado O Bará do Mercado Público, a partir dos percursos e experiências urbanas desses negros na cidade de Porto Alegre. Os entrevistados: Adãozinho do Bará, Mãe Norinha de Oxalá, Mestre Borel, Mãe Maria de Oxum, Mãe Angélica de Oxum, Pai Nilsom de Oxum, Babadiba de Iemanjá integram a CEDRAB – Congregação em Defesa das Religiões Afro-brasileiras – fundada em 2004 por Mãe Norinha de Oxalá grande idealizadora do projeto.

Buscando tornar mais conhecida uma antiga tradição cuja manifestação concreta são os rituais e práticas realizados pelos religiosos de matriz africana no interior e arredores do Mercado Público o documentário busca a construção de uma narrativa que permita ao espectador um passeio no tempo e nas transformações da cidade de Porto Alegre, do ponto de vista dos negros.

 

Edição: Marcelo Ferreira