Rio Grande do Sul

PRIVATIZAÇÃO

Prefeitura de Porto Alegre lança privatização do Mercado Público durante a pandemia

Frente Parlamentar vai encaminhar ao Tribunal de Contas e ao MP as mais de 20 mil assinaturas contra privatização

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Anúncio do edital foi feito em live pelo prefeito Nelson Marchezan Junior na sexta-feira (5) - Ricardo Stricher/PMPA

Os mercadeiros, como são chamados os permissionários do Mercado Público de Porto Alegre, e os fregueses que costumam se abastecer no local ficaram assustados com o lançamento, na sexta-feira (5), do edital que concederá à iniciativa privada a administração do local. O anúncio foi feito através de uma live pelo prefeito Nelson Marchezan (PSDB), de costas para o prédio histórico. A concessionária ficará responsável pela gestão, manutenção e operação do local por 25 anos.

Ao jornal Correio do Povo, a presidente da Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascopemepc), Adriana Kauer, disse não haver momento pior do que este para se tomar esta atitude. Em nota, a Ascopemepc lamentou ter sido ignorada depois de ter “assumido gastos que seriam de responsabilidade da prefeitura nos últimos meses”.

Na segunda-feira (8), a Frente Parlamentar em Defesa do Mercado Público da capital, liderada pelo vereador Adeli Sell (PT), anunciou que juntará as mais de 20 mil assinaturas do abaixo-assinado para enviar ao Tribunal de Contas do Estado e ao Ministério Público Estadual. “Temos um projeto tramitando na câmara que torna o Bará do Mercado um patrimônio imaterial da cidade e o ponto já está registrado no livro do tombo”, afirmou Adeli.

Nilson Pillati, administrador da loja da Reforma Agrária e diretor da Associação dos Mercadeiros (Ascopemepc), lembrou que o local já foi administrado pela associação, logo após a reforma realizada na administração do prefeito Tarso Genro (PT) e este foi o melhor período para os permissionários. Ele disse ainda que além da questão do patrimônio imaterial do Bará, reverenciado pelos seguidores de religiões de matriz africana, outra questão imaterial está em jogo. “As lojas são tocadas por economias familiares, e têm um modus operandi peculiar, é o atendimento olho no olho, os vendedores conhecem pessoalmente os seus clientes e a maioria deles está a duas ou três gerações realizando seu comércio direto.”

Adeli lembrou que além de colocar o edital durante uma pandemia, a prefeitura baixou o valor da concorrência para R$ 85,9 milhões, sendo que o vencedor da licitação terá que fazer investimentos de R$ 40,6 milhões e usar os outros R$ 45,3 milhões para a manutenção do prédio. Segundo ele, os mercadeiros têm interesse em participar da licitação, mas no momento estão descapitalizados.

O vereador disse ainda que não existem grupos gaúchos interessados em assumir a gestão do mercado, “porém se comenta que a prefeitura está negociando com grupos de fora”. Ele entende ser difícil aparecer interessados até o dia 31 de julho, prazo final do edital, “pois o mercado está em baixa para este tipo de negócio, os aluguéis estão baixando por conta da recessão”, concluiu.

Edição: Marcelo Ferreira